Ontem fui ao lançamento do livro organizado pelo jornalista Diego Casagrande chamado " A Vanguarda do Atraso". O livro reúne uma dezena de depoimentos de jornalistas que tiveram sua atividade profissional de alguma forma prejudicada durante o governo de Olívio Dutra do PT no RS.
José Barrionuevo, Denis Rosenfield, Políbio Braga, Rogério Mendelski, Gilberto Simões Pires, entre outros, contam os episódios mais escabrosos de tentativa de tolhir a liberdade de opinâo entre os anos de 1999-2002.
O lançamento, faltando alguns dias para uma nova eleição em que escolheremos novos presidente e governador, também teve um clima de protesto e alerta. Olívio Dutra é novamente candidato e não custa lembrar o que foram os quatro anos de seu triste mandato.
O mais importante no entanto é a obra.
Ela é uma espécie de "Mostruário Krausiano " tardio do jornalismo brasileiro. O original descrevia os sintomas da degeneração da palavra e de seus significados que criaram o ambiente para o florescimento de teorias totalitárias como o nazismo e o comunismo na Alemanha no período entre-guerras. A linguagem como supressor do senso comum tradicional e conversor para um novo e revolucionário "senso comum".
Pois bem, aqui no Brasil tivemos nosso próprio "Mostruário" lançado há dez anos com o título de " O imbecil Coletivo". Nele, Olavo de Carvalho descreve o mesmo processo de degenaração intelectual que fatalmente desembocaria no quadro atual. (O enorme espaço dedicado hoje ao relançamento do "Imbecil Coletivo" - obtendo elogios até dos setores que mais denunciou - prova suas qualidades premonitórias)
Pois então "Vanguarda...", serve para retratar o atual momento pós-"imbecil" que obra homônima preconizava, ou seja, a tomada do poder pelo "imbecil coletivo" e a conseqüente imbecilização do todo o ambiente circundante. O governo Olívio foi a personificação do que o "imbecil" ou "homem massa" ( Ortega Y Gasset) poderia ser capaz.
O lançamento do "Vanguarda" remete-nos não só à lembrança de um período negro na liberdade de imprensa do estado do RS, mas também como um alerta de que este período está acontecendo neste mesmo momento em escala nacional e poderá até voltar - em escala estadual. Ecos do autoritarismo de Dutra estão presentes em doses cada vez mais cavalares no governo Lula, que a cada dia deixa mais à mostra sua verdadeira natureza.
Por outro lado, também é um retrato um pouco melancólico do que "poderia ser" se o que aconteceu por aqui tivesse sido amplificado com mais força ao país inteiro.
José Barrionuevo - na época o principal comentarista político do jornal Zero Hora - comenta:
"Os Delúbios só existiram por que o Rio Grande não teve voz forte para que o Brasil e a imprensa nacional nos ouvissem. Nós cometemos um pecado muito grande. E quando falo nós, digo que deveríamos ter sido mais afirmativos, de diretores a repórteres, de donos de jornais às redações. Todos se omitiram".
Nada mais cristalino. A imprensa gaúcha, que deveria espernear a cada liberdade de expressão tolhida, a cada profissional que perdia seu espaço em função de "crime de opinião", ficou calada e omissa enquanto se ajoaelhava perante o bezerro de ouro do socialismo "guasca" (gaúcho) de Olívio, como se os jornalistas envolvidos nestes episódios tivessem alguma doença incurável.
Vai ver tinham mesmo. Uma doença incurável e intratável : A independência de pensamento.
E contra isto não há campanha de vacinação em massa que o PT e seus companheiros de viagem possam fazer para debelar.
Um bravo lançamento.
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