O objetivo deste artigo – inaugurando a minha participação como editorialista do BC (”blogs coligados” que não escrevi por extenso por que dizem que para “meio entendedor uma palavra inteira não basta”) - quero levantar a questão principal da “escolha” pelo conservadorismo: a falta de escolhas.
A defesa do conservadorismo, especialmente num país como o Brasil, onde a mudança dos costumes – tida como uma “evolução” irreversível –, por contraste nos deixa na posição de “retrógrados” ou algum sinônimo de igual grandeza. Nós, os “retrógrados”, não pegamos isso (sim, parece a todos que ser conservador é coisa ou de velho saudosista ou de maluco, ambas ligadas a algum tipo de doença: senilidade ou loucura), por que tenhamos sofrido alguma falta de proteína ou vitamina em nosso processo natural de crescimento evolutivo.
Nada disso. A defesa dos valores conservadores na verdade é a defesa de valores fundamentais do espírito humano. Esta percepção brota de uma análise mais detalhada da história e da filosofia e se misturam no que se convencionou chamar como valores judaico-cristãos. É o indeterminismo Aristotélico – fazendo a síntese dialética de Sócrates e Platão, que acabam se refletindo nos valores cristãos, seus pensadores – principalmente Tomás de Aquino – e é claro a Bíblia. São os valores que se manifestam naturalmente como o “senso comum” - por estarem bem arraigados na tradição cultural do Ocidente (é por isso que existe a frase “a voz do povo é a voz de Deus”, e não por causa do advento das pesquisas de opinião).
É claro que mesmo isso no Brasil é de alguma forma complicado, haja visto o enorme sucesso da ofensiva Gramsciana em deslocar artificialmente a percepção do “senso comum” para fora do seu eixo natural. O conservadorismo então, é o mantenedor natural das escolas clássicas do pensamento e do senso comum, ao mesmo tempo. Sua base é a desconfiança em qualquer projeto de reforma radical do espírito humano. No indeterminismo que deve ser mantido, mesmo em qualquer discussão puramente lógica-racional. É não levar as premissas lógicas – muitas vezes bastante razoáveis – às suas conseqüências últimas sem usar o filtro indeterminista...
O que significa de algum modo “cortar” a ligação entre os pressupostos e suas conseqüências irreversíveis, em favor de uma visão terrena de razoabilidade. A tragédia do conservadorismo é talvez essa capacidade de “cortar” ou esfriar os ânimos de amantes imaginários em plena voragem dialética. É o “coitus interruptus” da lógica pura.
Seria isso intencional? Não, por que é assim que a raça humana funciona, sua grande tragédia. Podemos erigir edifícios de um esforço intelectual supremo, tocar as estrelas, vislumbrar o mundo das formas. Formas puras, formas fundamentais e definitivas. Sejam geométricas, econômicas ou políticas. A República e seu Rei-filósofo. O “mundo das idéias”. O igualitarianismo dos socialistas. A suprema liberdade-utilitária dos libertários...
Quase podemos tocá-las com as nossas mãos. E quase podemos vislumbrar caminhos para chegar lá, construir a “Estrada para Pasárgada” ou o “Paraíso Perdido”. Temos a tentação e somos consumidos por isso, por esse desejo de atingir o intangível. Pois está ali, a poucos passos de nós, só faltanto um esforço final, mais um pouco de disciplina em sua busca. Ou um Estado forte para nos levar levar até lá. Ou Estado nenhum. Liberdade total / Liberdade nenhuma. As supremas engrenagens do Universo sob o nosso conhecimento!! A pedra filosofal!
Só para descobrir nossa total incapacidade em realizá-las sem cair em abismos mais profundos na tentativa.
O conservadorismo nos ensina esta lição fundamental: Nossas asas são de cera!!!
Este artigo foi escrito originalmente como “Editorial da Semana” dos Blogs Coligados onde participo.