quinta-feira, maio 05, 2005

O Fórum Social da Liberdade Econômica

Estou escrevendo sob o calor do que vi e ouvi durante os dois dias do Fórum da Liberdade aqui em Porto Alegre. Evento com foco no liberalismo econômico e que se tornou uma espécie de contraponto ao Fórum Social Mundial.

Neste ano – não assisti aos anteriores – tivemos novamente a variedade ideológica como tônica.

No evento de abertura, com o tema “O Futuro do Trabalho”, César Maia, Ricardo López Murphy (ex-ministro da economia da Argentina) e Roberto Freire formavam uma estranha trinca num evento liberal. Quando ouvi Freire afirmar que o “neo-liberalismo já tinha sido implantado sem sucesso em toda a América Latina”, dei meia volta. Compreendi que tinha coisas mais importantes a fazer. César e Freire estavam fazendo o óbvio num ano pré-eleitoral como este, aproveitando todo o espaço disponível para ocupá-lo. Faltou ainda Geraldo Alckmin que acabou não comparecendo no evento de abertura (compensado no dia seguinte).

No segundo dia acompanhei com interesse as exposições de Gianetti e Jorge Gerdau sobre a natureza auto-realizadora do trabalho. Gianetti salientou o estrangulamento pelo excesso de regulamentação e carga tributária em que a iniciativa privada se encontra no Brasil.

Em outra palestra, o embaixador americano John Danilovich, abusando da diplomacia, se derramou em elogios ao governo Lula, acreditando que as negociações da Alca se concretizarão em acordos de promoção efetiva do livre comércio entre todos os países da América Latina e o Estados Unidos.

O próximo painel foi o mais importante para mim: Olavo de Carvalho, Oded Grajew e o economista indiano Suri Ratnapala. O professor Suri surpreendeu com a defesa firme (Lockeana, por assim dizer) dos contratos de trabalho livremente estabelecidos entre empregados e empregadores em contraposição às estruturas estatais ou culturais que privilegiem o “status quo”. Descreveu também como a globalização e a imigração mudaram a face do trabalho na Austrália (onde mora) de modo muito mais positivo do que as preocupações das associações de classe / sindicais poderiam prever. Explicou que tentar manter uma sociedade estática é a pior alternativa à globalização.

Depois disso, tivemos a explanação tati-bitati do criador (auto-intitulado) do Fórum Social Mundial, Oded Grajew, de como os malvados capitalistas deveriam a ajudar a minimizar os efeitos de seu mal dando dinheiro para sua Fundação Ethos implantar o controle externo nas empresas pelo programa de “responsabilidade social”. Ante a perplexidade da platéia com as conclusões primárias que emitia a partir da apresentação de estatísticas sobre a desigualdade social brasileira, comunicou ao final, que não poderia ficar para o debate pois tinha agenda comprometida. Levou na hora uma pergunta de Olavo de Carvalho sobre quais seriam o financiadores do FSM. Ignorada pelo palestrante.

Ao final tivemos Olavo de Carvalho, que desnudou o que as ações e estratégias apresentadas por Grajew são e o que representam na realidade.
Foi o mais aplaudido do dia.

É claro que não há que negar a importância de um evento como este. Como ressaltado pelo Lucas Mendes em sua coluna, existiram muitas coisas positivas nesta edição do Fórum. Como em todas as outras já realizadas.

Mas eu me senti estranho. Alguma coisa não fechava por ali. Aquele ambiente de debates não pertencia ao Brasil real. Se estivéssemos na Inglaterra, seria natural haver um ambiente de debates “plurais” como este, pois estaria inserido numa sociedade democrática na qual as forças em questão têm um equilíbrio.

Não é o caso do Brasil. Os eventos do Fórum aconteceram na mesma semana que o governo federal, por exemplo, divulgou a sua cartilha com os termos da língua portuguesa que devem ser evitados em conversas, jornais , revistas e na mídia em geral por serem “preconceituosos”. Alguns meses antes este mesmo governo federal foi envolvido em denúncia de que as Farc doaram recursos para campanha de Lula publicada em matéria de capa da revista Veja.
Alguma coisa destas foi comentada no Fórum? Não.

O Fórum da Liberdade, desde o seu nascimento , sempre teve como tema principal a defesa da liberdade econômica. Isto deve mudar. Estamos no meio de uma guerra não declarada aos valores tradicionais como moral, ética e até da própria língua, portanto não podemos nos ater somente aos temas econômicos. É preciso fazer a defesa dos valores conservadores.
E tirar da tribuna os esquerdistas. Eles já tem espaço demais em nossa mídia.

Sem isso, o Fórum pode ser classificado como um sofisticado programa de “redução de danos” que o socialismo impinge aos liberais deste país: com o arremedo de debate democrático podemos fingir, durante alguns dias, que o confronto de idéias ainda é possível. Isto nos faz aturar estoicamente a dominação esquerdista do país de modo homeopático. Tal qual o programa de redução de danos original, que não tem o objetivo de livrar o individuo das drogas, mas apenas de minimizar os seus efeitos no usuário, o Fórum da Liberdade não pretende combater o esquerdismo dominante.

A minha opinião é de que esta postura acaba criando um sentimento ambíguo no espectador. Enquanto Grajew saiu de fininho do Fórum, sendo acusado de fugir do debate, na vida real ele é o único vencedor, pois seu instituto leva contribuições das maiores empresas do país. Ao vencedor do debate – Olavo de Carvalho – a realidade brasileira conduz à outro destino: está deixando o país, definitivamente.

quarta-feira, maio 04, 2005

Grajew, o "Betinho" do novo Milênio???


Nos anos 90 dois movimentos tomaram conta do noticiário político e cultural no país: o movimento de “ética da política” e a campanha da fome do Betinho.
Não é necessário dizer que os dois movimentos “espontâneos” tiveram a mesma origem político-partidária. Foi a entrada em cena triunfal do elemento gramsciano de hegemonia cultural dentro da estratégia de tomada do poder pelas esquerdas.

Herbert de Souza, o Betinho, foi o personagem criado especificamente para este fim. Soro positivo e em pleno desenvolvimento da doença, parecia perfeito para liderar a campanha do fome zero. Quem poderia ser contra tal campanha tendo o Betinho à frente? Pois foi exatamente por causa de seus excepcionais atributos que foi destacado pelo partido para esta grandiosa, mas segura missão no ocaso de sua existência.
Por qual outro motivo Herbert, que nunca demonstrou interesse outro que não pela política, teria tomado tanto gosto pelas ações sociais e filantrópicas?

Pois bem, a campanha foi um sucesso. Betinho quase foi canonizado. A vitória do novo partido-príncipe teria sido completa em sua dominação de corações (campanha da fome) e mentes (campanha da ética na política) se este movimento de pinça social tivesse agarrado o seu merecido prêmio em 1994: a presidência da república. Mas aí tivemos FHC...

Corte: 2005. Fórum da Liberdade. Assisto à apresentação de Oded Grajew e suas crias, o movimento da “responsabilidade social das empresas”, o instituto Ethos e seu mais famoso rebento , o “Fórum Social Mundial”.

Com tal currículo era de se esperar alguém com um comentário crítico dos conteúdos econômicos e estruturantes desenvolvidos no fórum , como desregulamentação, flexibilização e mercado de trabalho. Nada disso: Oded levou ao fórum um conjunto de platitudes e declarações bobocas, acompanhadas de conclusões simplórias a partir de dados estatísticos mostrados em telão.
Enquanto no site do Ethos é possível encontrar justificativas mais articuladas a estas políticas (“Falar em pobreza é argumentar sobre a incapacidade de uma sociedade de assumir como tarefas cívicas obrigatórias a redução das desigualdades, o aumento das oportunidades e a redistribuição das riquezas. Hoje o problema não está em descobrir o que causa e está em descobrir o que causa e gera pobreza, mas em identificar os múltiplos fatores, sejam culturais, econômicos ou sociais, que estão impedindo sua
erradicação -- e agir sobre eles" ) é estranho que o “dono” da idéia não possa fazê-lo com mais propriedade.

Mas isso não muda o cerne principal: a tal “responsabilidade social” não passa de um conjunto de ações pretensamente compensatórias, auto-impingidas pelas empresas, para “corrigir” todo o mal que o capitalismo, este malvado, impõe à sociedade.

Novamente aqui temos o mesmo “movimento das tesouras” - articulado exatamente como no caso da ética+fome dos 90: de um lado, após décadas da denúncia de que o capitalismo “selvagem” amplia o fosso social no Brasil, as empresas e empresários acreditam mesmo que são os vilões da história. De outro a tática da “responsabilidade social” faz os mesmos empresário buscar a redenção aos seus “pecados” nas mãos do seu maior algoz: Grajew também é o criador do Fórum Social Mundial. Esta informação final dá profundidade e dramaticidade ao cenário.

Mas algo não fecha: como protagonista principal, Oded parece vacilante demais. Não parece estar à vontade no papel.
Relembrando Betinho, cheguei finalmente a conclusão final: Grajew não “criou” nada disso. Ele apenas foi o escolhido pelo partido para ser o homem de frente de um plano previamente traçado. Digo por que:
O responsável por um programa como o de “responsabilidade social” teria de ser um empresário. Nenhum capitalista iria investir um dólar furado numa iniciativa estatal. Oded foi escolhido por seu perfeito “phisique du role”.
Idem ao Fórum Social Mundial: com a “idéia” partindo de Grajew, o partido “lava as mãos” pela sua criação.

Ou seja, tenho os elementos para acreditar que estamos diante, não de um empreendedor ousado e persistente, mas de um funcionário, um agente destacado pelo partido para desempenhar um papel preciso: emular um capitalista preocupado e dedicado à tarefa de conter a “barbárie” globalizante.

Sua fuga ao término da exposição no evento do Fórum da Liberdade, quando por razões de agenda evitou debater com Olavo de Carvalho, confirmaram minhas suspeitas: Exatamente como Betinho há dez anos, Grajew não passa de mais um “laranja” do PT.