quarta-feira, maio 04, 2005

Grajew, o "Betinho" do novo Milênio???


Nos anos 90 dois movimentos tomaram conta do noticiário político e cultural no país: o movimento de “ética da política” e a campanha da fome do Betinho.
Não é necessário dizer que os dois movimentos “espontâneos” tiveram a mesma origem político-partidária. Foi a entrada em cena triunfal do elemento gramsciano de hegemonia cultural dentro da estratégia de tomada do poder pelas esquerdas.

Herbert de Souza, o Betinho, foi o personagem criado especificamente para este fim. Soro positivo e em pleno desenvolvimento da doença, parecia perfeito para liderar a campanha do fome zero. Quem poderia ser contra tal campanha tendo o Betinho à frente? Pois foi exatamente por causa de seus excepcionais atributos que foi destacado pelo partido para esta grandiosa, mas segura missão no ocaso de sua existência.
Por qual outro motivo Herbert, que nunca demonstrou interesse outro que não pela política, teria tomado tanto gosto pelas ações sociais e filantrópicas?

Pois bem, a campanha foi um sucesso. Betinho quase foi canonizado. A vitória do novo partido-príncipe teria sido completa em sua dominação de corações (campanha da fome) e mentes (campanha da ética na política) se este movimento de pinça social tivesse agarrado o seu merecido prêmio em 1994: a presidência da república. Mas aí tivemos FHC...

Corte: 2005. Fórum da Liberdade. Assisto à apresentação de Oded Grajew e suas crias, o movimento da “responsabilidade social das empresas”, o instituto Ethos e seu mais famoso rebento , o “Fórum Social Mundial”.

Com tal currículo era de se esperar alguém com um comentário crítico dos conteúdos econômicos e estruturantes desenvolvidos no fórum , como desregulamentação, flexibilização e mercado de trabalho. Nada disso: Oded levou ao fórum um conjunto de platitudes e declarações bobocas, acompanhadas de conclusões simplórias a partir de dados estatísticos mostrados em telão.
Enquanto no site do Ethos é possível encontrar justificativas mais articuladas a estas políticas (“Falar em pobreza é argumentar sobre a incapacidade de uma sociedade de assumir como tarefas cívicas obrigatórias a redução das desigualdades, o aumento das oportunidades e a redistribuição das riquezas. Hoje o problema não está em descobrir o que causa e está em descobrir o que causa e gera pobreza, mas em identificar os múltiplos fatores, sejam culturais, econômicos ou sociais, que estão impedindo sua
erradicação -- e agir sobre eles" ) é estranho que o “dono” da idéia não possa fazê-lo com mais propriedade.

Mas isso não muda o cerne principal: a tal “responsabilidade social” não passa de um conjunto de ações pretensamente compensatórias, auto-impingidas pelas empresas, para “corrigir” todo o mal que o capitalismo, este malvado, impõe à sociedade.

Novamente aqui temos o mesmo “movimento das tesouras” - articulado exatamente como no caso da ética+fome dos 90: de um lado, após décadas da denúncia de que o capitalismo “selvagem” amplia o fosso social no Brasil, as empresas e empresários acreditam mesmo que são os vilões da história. De outro a tática da “responsabilidade social” faz os mesmos empresário buscar a redenção aos seus “pecados” nas mãos do seu maior algoz: Grajew também é o criador do Fórum Social Mundial. Esta informação final dá profundidade e dramaticidade ao cenário.

Mas algo não fecha: como protagonista principal, Oded parece vacilante demais. Não parece estar à vontade no papel.
Relembrando Betinho, cheguei finalmente a conclusão final: Grajew não “criou” nada disso. Ele apenas foi o escolhido pelo partido para ser o homem de frente de um plano previamente traçado. Digo por que:
O responsável por um programa como o de “responsabilidade social” teria de ser um empresário. Nenhum capitalista iria investir um dólar furado numa iniciativa estatal. Oded foi escolhido por seu perfeito “phisique du role”.
Idem ao Fórum Social Mundial: com a “idéia” partindo de Grajew, o partido “lava as mãos” pela sua criação.

Ou seja, tenho os elementos para acreditar que estamos diante, não de um empreendedor ousado e persistente, mas de um funcionário, um agente destacado pelo partido para desempenhar um papel preciso: emular um capitalista preocupado e dedicado à tarefa de conter a “barbárie” globalizante.

Sua fuga ao término da exposição no evento do Fórum da Liberdade, quando por razões de agenda evitou debater com Olavo de Carvalho, confirmaram minhas suspeitas: Exatamente como Betinho há dez anos, Grajew não passa de mais um “laranja” do PT.

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