Estou escrevendo sob o calor do que vi e ouvi durante os dois dias do Fórum da Liberdade aqui em Porto Alegre. Evento com foco no liberalismo econômico e que se tornou uma espécie de contraponto ao Fórum Social Mundial.
Neste ano – não assisti aos anteriores – tivemos novamente a variedade ideológica como tônica.
No evento de abertura, com o tema “O Futuro do Trabalho”, César Maia, Ricardo López Murphy (ex-ministro da economia da Argentina) e Roberto Freire formavam uma estranha trinca num evento liberal. Quando ouvi Freire afirmar que o “neo-liberalismo já tinha sido implantado sem sucesso em toda a América Latina”, dei meia volta. Compreendi que tinha coisas mais importantes a fazer. César e Freire estavam fazendo o óbvio num ano pré-eleitoral como este, aproveitando todo o espaço disponível para ocupá-lo. Faltou ainda Geraldo Alckmin que acabou não comparecendo no evento de abertura (compensado no dia seguinte).
No segundo dia acompanhei com interesse as exposições de Gianetti e Jorge Gerdau sobre a natureza auto-realizadora do trabalho. Gianetti salientou o estrangulamento pelo excesso de regulamentação e carga tributária em que a iniciativa privada se encontra no Brasil.
Em outra palestra, o embaixador americano John Danilovich, abusando da diplomacia, se derramou em elogios ao governo Lula, acreditando que as negociações da Alca se concretizarão em acordos de promoção efetiva do livre comércio entre todos os países da América Latina e o Estados Unidos.
O próximo painel foi o mais importante para mim: Olavo de Carvalho, Oded Grajew e o economista indiano Suri Ratnapala. O professor Suri surpreendeu com a defesa firme (Lockeana, por assim dizer) dos contratos de trabalho livremente estabelecidos entre empregados e empregadores em contraposição às estruturas estatais ou culturais que privilegiem o “status quo”. Descreveu também como a globalização e a imigração mudaram a face do trabalho na Austrália (onde mora) de modo muito mais positivo do que as preocupações das associações de classe / sindicais poderiam prever. Explicou que tentar manter uma sociedade estática é a pior alternativa à globalização.
Depois disso, tivemos a explanação tati-bitati do criador (auto-intitulado) do Fórum Social Mundial, Oded Grajew, de como os malvados capitalistas deveriam a ajudar a minimizar os efeitos de seu mal dando dinheiro para sua Fundação Ethos implantar o controle externo nas empresas pelo programa de “responsabilidade social”. Ante a perplexidade da platéia com as conclusões primárias que emitia a partir da apresentação de estatísticas sobre a desigualdade social brasileira, comunicou ao final, que não poderia ficar para o debate pois tinha agenda comprometida. Levou na hora uma pergunta de Olavo de Carvalho sobre quais seriam o financiadores do FSM. Ignorada pelo palestrante.
Ao final tivemos Olavo de Carvalho, que desnudou o que as ações e estratégias apresentadas por Grajew são e o que representam na realidade.
Foi o mais aplaudido do dia.
É claro que não há que negar a importância de um evento como este. Como ressaltado pelo Lucas Mendes em sua coluna, existiram muitas coisas positivas nesta edição do Fórum. Como em todas as outras já realizadas.
Mas eu me senti estranho. Alguma coisa não fechava por ali. Aquele ambiente de debates não pertencia ao Brasil real. Se estivéssemos na Inglaterra, seria natural haver um ambiente de debates “plurais” como este, pois estaria inserido numa sociedade democrática na qual as forças em questão têm um equilíbrio.
Não é o caso do Brasil. Os eventos do Fórum aconteceram na mesma semana que o governo federal, por exemplo, divulgou a sua cartilha com os termos da língua portuguesa que devem ser evitados em conversas, jornais , revistas e na mídia em geral por serem “preconceituosos”. Alguns meses antes este mesmo governo federal foi envolvido em denúncia de que as Farc doaram recursos para campanha de Lula publicada em matéria de capa da revista Veja.
Alguma coisa destas foi comentada no Fórum? Não.
O Fórum da Liberdade, desde o seu nascimento , sempre teve como tema principal a defesa da liberdade econômica. Isto deve mudar. Estamos no meio de uma guerra não declarada aos valores tradicionais como moral, ética e até da própria língua, portanto não podemos nos ater somente aos temas econômicos. É preciso fazer a defesa dos valores conservadores.
E tirar da tribuna os esquerdistas. Eles já tem espaço demais em nossa mídia.
Sem isso, o Fórum pode ser classificado como um sofisticado programa de “redução de danos” que o socialismo impinge aos liberais deste país: com o arremedo de debate democrático podemos fingir, durante alguns dias, que o confronto de idéias ainda é possível. Isto nos faz aturar estoicamente a dominação esquerdista do país de modo homeopático. Tal qual o programa de redução de danos original, que não tem o objetivo de livrar o individuo das drogas, mas apenas de minimizar os seus efeitos no usuário, o Fórum da Liberdade não pretende combater o esquerdismo dominante.
A minha opinião é de que esta postura acaba criando um sentimento ambíguo no espectador. Enquanto Grajew saiu de fininho do Fórum, sendo acusado de fugir do debate, na vida real ele é o único vencedor, pois seu instituto leva contribuições das maiores empresas do país. Ao vencedor do debate – Olavo de Carvalho – a realidade brasileira conduz à outro destino: está deixando o país, definitivamente.
Um comentário:
Parabéns pelas suas considerações.
Cordialmente,
Prof. D.
http://zanela.blogspot.com
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