Comentário:
Esta visão de que a sociedade brasileira tem uma "dívida" para com a população negra é algo que não posso concordar. Pensar que os "erros" de mais de 300 anos atrás tem de ser compensados nos dias de hoje é um absurdo. Se todos os povos que ao longo da história escravizaram a outros povos tivessem de compensar retroativamente seus escravos, não tinha de como identificar de forma unívoca os senhores dos escravos, pois estes papéis trocaram ao longo do tempo. Senhores num dia, escravos nos outros. Há dados comprovados que havia escravidão entre tribos africanas e que até mesmo os portugueses aprenderam com eles a prática do uso de escravos como moeda de troca. Ou seja, identificar somente aos negros como eternas vítimas da escravidão é esquecer um passado mais longíquo, onde os negros representam somente a sua última camada.
Outro pressuposto é que a população negra no Brasil nunca se misturou, que os negros ou pardos são de descendência exclusiva africana. Isto é outra falácia. Brancos, negros e índios sempre se misturaram no Brasil. Sendo esta "mistura" motivo de críticas e vereditos definitivos de países europeus setentrionais (e segregacionistas por definição) que viam nisso a causa de todos nossos males. Pois essa miscigenação também torna as supostas "vítimas" como parte dos "culpados" também.
Um estudo, com o título de "Brasileiros são mais europeus do que se imaginava", mostra dados "chocantes" como este:
"O trabalho revelou que, em todas as regiões, a ancestralidade europeia é dominante, com percentuais que variam de 60,6% no Nordeste a 77,7% no Sul. Mesmo as pessoas que se denominam negras pelos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentam, na verdade, uma alta ancestralidade europeia. Para se ter uma ideia, na Bahia, os negros tem 53,9% de raízes europeias. Na análise dos especialistas envolvidos no trabalho, a "europeização" do Brasil se deu a partir do fim do século XIX, com o fim do tráfico negreiro e da escravidão e o início do fluxo migratório de aproximadamente 6 milhões de trabalhadores europeus."Resumo: todos, inclusive os negros, são mais europeus do que africanos e portanto "escravizadores".
Outra coisa a notar é que esta mentalidade de danos e reparações ancestrais tem um componente segregacionista e racista por definição. Pois no mundo perfeito dos racistas do "bem" nem negros, nem brancos, nem índios não deveriam nunca terem se "misturado". Só desta maneira é que a "compensação" seria perfeita, pois isolaria o "mal" (a influência branca) de ter "corrompido" a "raça" negra.
No fundo o que pregam estas políticas de compensação é a institucionalização do geto, da segregação "reparadora".
A origem do corretismo político é uma a redução simplificadora, geralmente de esquerda, em identificar vítimas e vilões na história. No caso do Brasil, não só o branco europeu (português) mas a própria miscigenação nacional são identificadas como "más".
Se Gilberto Freyre estivesse vivo, reviraria-se no túmulo, pois foi com a sua obra é que os brasileiros começaram a ver a miscigenação como algo bom, diferentemente da visão da Europa setentrional que pregava exatamente o contrário.
Parece que no fundo o politicamente correto quer é retornar a esta visão deturpada de preconceituosa.