terça-feira, abril 19, 2005

Porque odeio o capitalismo

Hoje eu faço uma revelação bombástica: odeio o capitalismo!!

Reconheço que a crítica da esquerda contra o sistema capitalista é completamente justa.

Realmente, o capitalismo foi um filhote bastardo da escravidão: direta ou indiretamente foi gerado pelos excedentes mercantilistas baseados no tráfico de escravos ou no uso intensivo de mão-de-obra escrava.

Concordo que a gênese do capitalismo se deu com a exploração de seres humanos em trabalhos ultrajantes, que se mantém até hoje ainda em muitos lugares no mundo.

Não nego que a geração de riquezas no capitalismo é sempre desigual, aumentando a distância entre os ricos e os mais pobres.

Tenho consciência de que na essência, o capitalismo acaba por destruir os valores familiares/tradicionais, fazendo as pessoas esquecerem de Deus e -por exemplo - se voltarem a bobagens como celulares com tons polifônicos e TV a cabo com 150 canais;

É inegável que aliado ao seu co-irmão, a democracia ocidental, o capitalismo consegue aumentar ainda mais seu poder de destruição, pois dar a pessoas consumistas e superficiais o poder de escolher os seus próprios governantes é quase suicida.

Além de tudo, o capitalismo deforma os valores culturais, massificando o que é medíocre e eliminando o essencial, em função da uma tal “vontade popular”.

Por fim, o meu ódio ao capitalismo se dá por causa de uma última razão: vamos ter de conviver com ele por muitos e muitos séculos ainda. Sou obrigado a reconhecer que ele é o único sistema econômico que deu certo (até hoje). E não foi por falta de tentativas.

Como teria sido bom que a experiência comunista tivesse dado certo em sua tentação em recriar o ser humano em novas bases. O surgimento do novo homem, o homem social, o homem-coletivo ou qualquer que fosse seu nome, pensando em seus irmãos e em sua espécie mais do que em si mesmo teria sido perfeito. Teríamos acabado com o egoísmo. Nem precisaríamos mais nem de Deus a nos ajudar.

Como teria sido bom também que as ditaduras teocráticas tivessem dado certo em sua luta para obrigar o homem a louvar a Deus. Espontâneamente. Nada pode ser mais ofensivo do que, digamos, um muçulmano exibindo orelhas de Mickey Mouse!!

Como seria bom se tivéssemos ao menos ditaduras onde ao invés de nos queixarmos da programação decadente da tv tivéssemos o poder de proibir o que pudesse ou não ir ao ar.

Enfim tudo isso poderia ter dado certo, e olha que não se pode dizer que não tenhamos tentado o bastante. Cem milhões de seres humanos acredito que seja o suficiente para provar o erro... Posso dizer que tudo poderia ter dado certo... Se não fôssemos simples humanos.

Ah! Os seres humanos, pregando o desapego e a justiça em retórica brilhante, para no momento seguinte proceder exatamente ao contrário em causa própria.

Tudo poderia ter dado certo... Se não tivessem estas coisas gerado injustiças ainda muito maiores do que aquelas contra as quais se levantou. Temos que reconhecer a natureza humana do jeito que ela é. Isto é mais do que um reconhecimento, é uma rendição incondicional. O binômio democracia-capitalismo é o melhor sistema já inventado pelo homem. É desigual sim, mas gerar riquezas ainda é melhor do que distribuir miséria.

O pior desse sistema é saber que nós mesmos somos responsáveis por nossos atos, pela educação de nossos filhos (e não a televisão, por exemplo) e que temos que tomar decisões todos os dias, todas as horas sobre o que é melhor ou não para nós e nossas famílias. Não existem muitas facilidades.

Enfim: a vida sob a democracia capitalista é dura. Tão dura que além de batalhar o nosso pão de cada dia (que não anda nada fácil) e da educação de nossos filhos, temos que zelar para manter à distância aqueles que podem acabar com tudo isso: os estatólatras, que só sabem pensar o estado como o “bem-feitor” e o condutor da sociedade (subtraindo do indivíduo esta qualidade) e os metacapitalistas que querem monopolizar os mercados (e nossas possibilidades de escolha) em troca de benefícios com os primeiros.

Enfim isto é o que mais odeio no capitalismo: temos de tentar salvá-lo até dos próprios capitalistas, que ao tentar congelar sua posição no mercado acabam se aliando estratégicamente aos profetas do estado-grande. Enquanto ficam eles neste fausto convescote, nós ficamos com o desemprego, sub-emprego, os altos impostos e a falta de segurança.
Nossa única esperança é continuar lutando para fazer a democracia-capitalista-liberal ser implantada algum dia, pelo menos em nosso país. E a luta, em face de todas estas dificuldades é longa.

Ah, como eu odeio o capitalismo...