quinta-feira, outubro 30, 2008

Brasileiros, Portugueses e a "Última Flor do Lácio"

Portugueses, Brasileiros e a “Última Flor do Lácio”

John Ray, um dos muitos amigos que criei na internet (“amigos” por causa da extrema proximidade em termos de posicionamento político e social – John é , talvez, o ateu mais conservador que eu conheço – e também por que já nos linkamos tantas e tantas vezes que eu já perdi a conta.), escreveu um artigo sobre a proximidade entre os australianos e os ingleses. Proximidade que é produto do fato de a sociedade australiana viver e se comportar como uma extensão social e, algumas vezes, política da Inglaterra. O aspecto mais “sui generis”desta ligação é a língua: o sotaque australiano imita perfeitamente o sotaque de Oxford – tido como o mais aristocrático dentre todos os diversos falares na Inglaterra.

Fiquei a pensar no relacionamento entre Brasil e Portugal.

Estou aqui há quase dois anos e, ao contrário de afinidades, encontro muitas diferenças entre o “ser” português e o brasileiro. As diferenças da psiqué já são bastante conhecidas. Mas encontrei algumas outras que me surpreenderam. Uma delas é a diferença entre brasileiros e portugueses com relação ao uso da língua portuguesa..

Nós, brasileiros, temos como certo o fato (facto, vá lá!) que os portugueses usam muito melhor a língua pátria do que nós: falam melhor e, por consequência, devem escrever melhor também.

Aqui não vou comparar o conteúdo do que escrevem portugueses e brasileiros: eles ganham de goleada – pois ainda há um fiapo de bom senso e conservadorismo neste pequeno país quase socialista (comparativamente ao Brasil , ou pelo menos o que o Brasil era antes dos programas sociais “bolsa”-alguma-coisa sob os quais os brasileiros foram soterrados nos últimos anos).

Na verdade – surpreendentemente – a diferença no uso da língua é um pouco diferente: enquanto nós evitamos a todo o custo falar a regra culta de nossa língua (motivo mais óbvio: falar corretamente, no Brasil, é sinônimo de pedantismo ou esnobismo pueril-cultural; é coisa de quem quer ser “melhor” do que os outros, mesmo sendo, efetivamente, melhor) para sermos mais um da “galera”, de forma geral, conhecemos melhor a gramática portuguesa. Pedir a um português – com curso superior – que explique o uso da crase (traduzindo em português europeu: “'a' com acento grave”) é tortura: eles não vão conseguir explicar. Por conseguinte, o uso correto da língua demonstra que é simples questão de costume. Ver um filme com legendas em português surpreende e decepciona, muitas vezes. O mais absurdo é que já peguei-me a explicar regras de gramática portuguesa para portugueses! E olha que eu não sou grande “sábio” na matéria.

E qual a visão dos portugueses sobre isso? Eles acreditam que todos os brasileiros escrevem exatamente como falam! Como nós costumamos engolir os “ss”, usamos a segunda pessoa do singular com o verbo da terceira, além de outros atentados, imaginam eles que escrevemos da mesma forma.

Outra surpresa linguística é perceber que o português brasileiro é , dentre todas as formas de português praticados pelas ex-colônias o mais diferente - em termos de fonética – e , também, pelo isolamento cultural, o mais repleto de arcaísmos. O meu sobrenome – Assumpção – inicialmente tido como uma forma errada (“ brasileira”) do que seria “Assunção” é , na verdade, com se escrevia primitivamente. Outros termos em voga no Brasil , como “ ônibus”, “trem” e até mesmo o gerúndio, já foram abandonados pelos portugueses há muito tempo (sim, eram termos utilizados: em um jornal de 1918 lia-se “omnibus” ao invés da forma atual “ auto-carro”). Guardamos termos e expressões que os portugueses perderam a ciência de que já foram utilizados anteriormente. Somos então, em termos de língua escrita, uma espécie de “celacanto”.

Quanto a fonética, não sei, realmente de onde provêm o “ amaciamento” de nossa forma de falar. Li numa matéria da Veja, há algum tempo, que foi por causa da influência dos escravos africanos. Mas aí tem alguma coisa errada, pois a fala de Angola e Moçambique é quase indistinguível da portuguesa.

A regra, pela percepção média do povo português, era eu ser uma espécie de libertino ou jogador de futebol. Ou ambos. O fato de ser brasileiro e conservador é algo que espanta a muita gente.

Mesmo morando em um país em que se fala a mesma língua, de alguma forma, sinto-me muitas vezes mais estrangeiro do que os ingleses que lotam as praias do sul de Portugal no verão...



domingo, outubro 26, 2008

O Que Estou Ouvindo: Electric Light Orchestra ("Time":1981)

Time cover
Na virada dos 70 para os 80 trabalhava em uma loja de discos (Bybo Som, Passo Fundo -RS) e era um ávido consumidor de pop e rock (basicamente movia-me para fora do som Discothéque e entrava no new wave, via Blondie "Eat to the beat".
Sim, havia já a Electric Light Orchestra e estava no seu auge. O grupo de Jeff Lynne havia lançado "Discovery" em 1979 (que alguns chamariam de "Very Disco" - pois foi o primeiro com uso de sintetizadores e batidinhas discô em massa) e havia colaborado na trilha de "Xanadu", o musical brega em patins da Olivia Newton John. O primeiro eu havia gostado, principalmente por "Last Train to London", mas não ao ponto de comprar um LP (era assim que se dizia) inteiro.

Quando saiu "Time" em 1981, a mim foi indiferente. Meus grupos favoritos eram Blondie, Pretenders e B-52´s. Um colega de faculdade foi quem me alertou para os sons futuristas de "Twilight". Escutei e realmente fiquei impressionado, principalmente com "Epilogue" a lhe fazer as honras iniciais.

Mas, novamente, não foi um LP que tenha comprado.

Eis que 27 anos depois, comprei o "reissue" de Time, feito em 2001 com mais duas faixas bônus e... Torna-se a minha atual paixão musical.

"Time" é uma obra conceitual, coisa que, em 1981, fazia torcer o nariz dos puristas básicos do new-wave.: é a história de um homem que é sequestrado em 1981 e vai parar em 2095. Aprisionado lá, sem poder voltar, sente falta de seu amor em 1981 - lhe deram uma amante robô em 2095, incapaz de trocar reais sentimentos (alguém aí lembrou da D.D. Jackson?). Após muito penar, finalmente volta a 1981 para explicar ao mundo quais decisões erradas do mundo atual irão afetar para sempre os destinos da humanidade, agora e no futuro distante..
O enredo é meio science-fiction sabor H.G. Wells mas é a música que interessa.
"Time" é uma das minhas atuais paixões: Jeff Lynne é um compositor pop de primeira linha. Electric Light Orchestra é um dos grupos mais sub-avaliados das décadas de 70-80.
Enquanto Bee Gees e Abba conhecem a glória ainda hoje, quem realmente fazia música sofre um ocultamento cultural justamente quando a década de 80 (e 70) estão em voga???

Aqui, um anime muito criativo, tendo como base "Epilogue" / "Time" e "Yours Truly, 2095", é claro de "Time" da Electric Light Orchestra. Aproveitem..  


Electric Light Orchestra Prologue twilight yours truly 2095