sexta-feira, março 04, 2005

Estatuto do desarmamento, a “détente” cabocla


Cortador de unhas: a arma suprema de defesa pessoal no Brasil, num futuro próximo.

Ao tempo da guerra fria, especialmente nos anos 80 na gestão de Ronald Reagan, vimos um movimento articulado mundialmente em torno do pacifismo e contra a proliferação de armas nucleares. A Europa, ameaçada pelas ogivas nucleares dos países da cortina de ferro, queria impedir a instalação do sistema defensivo Pershing II por conta de tal pacifismo. Erroneamente, demandavam muito mais as reduções dos estoques de armas nucleares do ocidente do que das armas em poder dos comunistas, de modo que acabavam por dificultar sua própria defesa. Este movimento era chamado “détente”.

O "leit-motiv" destas manifestações de aversão à posse ou proximidade com as armas (de fogo e/ou nucleares) era a idéia de que armas têm um poder transformador sobre o ser humano, que elas mesmas acabam induzindo o ser humano a cometer crimes.

Esta mesma idéia básica é o que permeia a polêmica em torno das armas de destruição em massa não encontradas no Iraque. Segundo esta visão, a falta de evidências da presença de tais armas, tornaria Saddam Hussein automaticamente menos culpado ao olhos de boa parte da opinião pública mundial.

É a volta ao conceito de que o ser humano em sua essência é bom e que o torna mau é a sociedade – e as armas.

Tal é o discurso por trás das razões do “estatuto do desarmamento” no Brasil.
O problema são as armas. Elas tem o poder de modificar o ser humano “bom” e torná-lo “mau”. Por isso a necessidade de uma urgente “détente” cabocla para amenizar esta ameaça.

Seguindo o mesmo raciocício lógico – como o estatuto do desarmamento só recai sobre as armas de fogo – podemos concluir que nem todas as armas teriam este poder transformador sobre o ser humano. As armas teriam então qualidades “ativas” (modificariam a vontade do ser humano) e “passivas” (não modificariam esta vontade). As primeiras são as armas de fogo. As segundas são quaisquer coisas usadas como armas – exceto as armas de fogo.

Se o governo pensa que são as armas de fogo em poder da população brasileira as verdadeiras “armas de destruição em massa” que ameaçam a paz no Brasil, então podemos concluir que as ações do nosso ministro Thomaz Bastos em descriminalizar o crime estão corretas.

Sugiro uma opção ainda mais radical: que soltem os criminosos e prendam em seus lugares - de preferência em prisões de segurança máxima, sem direito à atenuentes - as armas "ativas". Estas sim as verdadeiras culpadas pelas altas taxas de criminalidade no país.

E a defesa do cidadão? Bem, de minha parte estou estudando detidamente o uso do cortador de unhas como arma de defesa pessoal. Outro dia mesmo, verifiquei com surpresa que este é um dos ítens que são apreendidos como “armas” nos aeroportos. Deve ser a a escolha correta.

Pelo menos - se não evitar o assalto - vou poder me livrar de futuras arranhadas...

Justiça "social" = injustiça

Paulo Leite, em artigo brilhante no site de Diego Casagranda, cita o livro "America’s Thirty Years War", escrito em 1998 por Balint Vazsonyi. Vazsonyi, pianista e intelectual húngaro que fugiu do comunismo de sua pátria para os Estados Unidos.

Nele o autor define acertadamente o que é a tão falada "Justiça Social":

"As definições de justiça social acabam caindo em um de três pontos principais:

“(1) alguém deveria ter o poder de determinar aquilo que você pode ter, ou

(2) alguém deveria ter o poder de determinar aquilo que você não pode ter, ou

(3) alguém deveria ter o poder de determinar o que tirar de você para dar a outros que vão receber sem ter nenhuma obrigação de ganhar ou merecer.”


Resumo: Alguém (o Estado, ou melhor os burocratas estatais) irão definir o que é JUSTO cada pessoa alcançar ou obter através do seu trabalho e esforço pessoal, para dar aos outros que não teriam esta capacidade por vários motivos.

Isto é comunismo em sua pior vertente.

Pessoas são seres dotados de discernimento para não só lutar por seu lugar ao sol mas também ajudar aos outros em seu caminho.

Ao Estado não cabe o monopólio da caridade. Ela é uma característica inalienável do ser humano.

Alguns ainda vão dizer que Justiça Social é a forma de criar uma sociedade cristã. O capitalismo seria uma forma anti-cristã de sociedade pois colocaria os homens em "desigualdade", diferentemente do conceito de que "todos os homens são iguais".

Lembro que o capitalismo, ou pelo menos a vertente liberal do capitalismo, que prega que cada homem deve desenvolver seu potencial de acordo com suas capacidades, tem mais a ver com o cristianismo do que possa parecer.

Em Tessalonicences 2 capítulo 3 versículo 10 lemos (tradução Almeida) :
"Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também".

Isto é bem distante do conceito de justiça social, welfare state e "teologia da libertação", não é mesmo?

quinta-feira, março 03, 2005

Matéria da ZH sobre a homenagem ao guerrilheiro assassino no RS.

Abaixo carta à ZH, que publicou na edição de hoje 03/03/05 uma matéria
sobre os protestos da comunidade militar (e quem tem algum senso de
justiça) sobre a proposta de dar nome de rua ao assassino covarde do
bravo tenente Mendes Jr. em 1970.
A matéria saiu AQUI (tem de ser cadastrado para ler)

---------- Forwarded message ----------
From: Luís Afonso Assumpção
Date: Thu, 3 Mar 2005 14:59:05 -0300
Subject: Matéria da ZH sobre a homenagem ao guerrilheiro assassino no RS.
To: Atendimento ao Leitor

Prezados Senhores:

Causou espanto a forma enviesada que ZH reportou o caso da homenagem
do guerrilheiro Diógenes Sobrosa - sendo questionada na câmara.
Nem mesmo o autor do projeto de lei, o vereador Ervino Bresson, usou
palavras tão brandas em relação ao Diógenes.
Bresson reportou à ZH que "disseram que ele matou um policial com
porretada na cabeça".
Enquanto ZH, numa covarde crítica ao questionamento da "homenagem"
destilava desdém : "Tudo porque Diógenes esteve envolvido em 1970 na
morte do tenente da Polícia Militar de São Paulo Alberto Mendes
Júnior".

"Esteve envolvido"!!?? Por Cristo!
Diógenes e seus comparsas (Carlos Lamarca incluso) mataram , ou
melhor esmigalharam o crânio do Tenente Mendes - que havia se rendido
amistosamente ao grupo guerrilheiro para poupar a vida dos seus
comandados - à coronhadas!

Parece que a guerra fria ideológica - pelo menos para ZH - não acabou.
O único lugar em que os FATOS são mencionados - de raspão - foi na
entrevista com o criador do monstro, o vereador Besson.

A matéria de ZH reduziu a toda a dimensão do fato de um criminoso
covarde estar sendo homenageado com nome de rua na capital a uma
diatribe ideológica.

O vereador Besson pelo menos admite: "Estou num brete. Se ele foi
torturador de policial, também foi torturado pela polícia. Temos de
analisar os dois lados. Quero me
inteirar do assunto".

Apesar de errar na avaliação - afinal dizer que ele foi "torturador de
policial" chega a ser ridículo. O caso não foi de tortura mas de
extermínio. E Diógenes ser "torturado pela polícia" chega a ser
estúpido , visto que Mendes não só foi torturado, mas veio a falecer
disto. Enquanto nosso assassino curtiu muito bem sua vidinha,
falecendo aos 56 anos em 1999.

Se ZH tiver um pouco de amor aos fatos e não das versões , publique a
história real do tenente Mendes.
Aqui está um dos links disponíveis.
usina
de letras

Apesar da posição do vereador Besson, quem está num "brete" é a Zero
Hora: afinal ela está a cada dia se parecendo com um veículo de
desinformação ideológica do que realmente um jornal.
A campanha "ZH mente" dos tempos do governador Olívio Dutra está
virando uma realidade no final das contas.

Luis Afonso Assumpção
_____________________

luis.afonso@gmail.com
http://againstred.blogspot.com
http://la3.blogspot.com

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Luís Afonso A. Assumpção
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terça-feira, março 01, 2005

Ilha das Flores: Esta não é a nossa vida

Meu artigo "O Homem que copiava matou um cara na Ilha das Flores", sobre o cinema fake-realista de Jorge Furtado rendeu alguns e-mails de leitores interessados na matéria da Zero Hora citada no artigo.
Pois bem, aqui está a íntegra a matéria intitulada "Esta não é sua vida" publicada no segundo caderno da Zero Hora de 13 de março de 2004, por ocasião dos 15 anos do lançamento do filme.
Tirem suas conclusões.
O interessante é que durante 15 anos a voz dos moradores sequer foi ouvida por algum veículo da grande mídia. Pelo menos nesta ocasião, a Zero Hora cumpriu seu dever de informar e descortinar a realidade, deixando um pouco de lado a os confetes sobre esta obra "fundamental" do "cinema gaúcho" como é a praxe. O rei ficou nú.




Moradores contestam imagem da comunidade apresentada em "Ilha das Flores"

"Não era nada daquilo"

Janaína Gonçalves da Silveira, 25 anos, estava na cena em que os moradores da ilha recolhem comida.

Ela recorda que as crianças realmente corriam atrás dos caminhões que iam até a Ilha Grande dos Marinheiros para descarregar os alimentos rejeitados ou com prazo para vencer.

- Filmar era divertido, era bem diferente, mas a gente estava pensando também no dinheiro que iria receber.

Janaína só conseguiu assistir a Ilha das Flores pela primeira vez no ano passado, e comenta que teve de agüentar os comentários que seus colegas do DMLU faziam sobre o filme.

- Não era nada daquilo. O filme dizia que a gente brigava com os porcos.

"Não vivíamos com os porcos"

Eva Gonçalves Machado, 62 anos, vive desde 1972 na Ilha Grande dos Marinheiros. Diz que é um bom lugar para morar, apesar de não ter água encanada e só contar com luz elétric a há uns 10 anos.

- É bom aqui. Se pode ir a Porto Alegre de bicicleta, de carona, até a pé.

Mas o tom de voz de Dona Evinha muda ao falar do filme Ilha das Flores. Ela participou da cena que mostrava adultos e crianças esperando para entrar num pátio e recolher restos de comida. Ao lembrar como foi a filmagem, ela conta que a produção deu cachorro-quente e refrigerante para quem estava atuando. Ri quando recorda que os câmeras do filme subiam uns na costas dos outros para conseguir um ângulo melhor, mas reclama, irritada:

- Eles nos mandaram entrar no pátio junto com os porcos. A gente não fazia isso, não dividia comida com os porcos. O caminhão da Ceasa vinha no sábado, e o dono da granja, que criava porcos, separava em tonéis o que ele ia doar para o povo e o que ia para os animais.

Sua filha, Maria Solange Gonçalves da Silveira, 30 anos, também figurou na cena. Ela lembra que, naquela época, não havia nada para fazer na ilha.

- Foi uma festa, era novidade. Eu pensei que seria atriz. E eles disseram que iam voltar para mostrar o filme, mas estamos esperando até hoje.

Solange viu Ilha das Flores em 2002, ao lado de colegas do DMLU, e ficou revoltada:

- Eu dizia que não era eu, que não estava no filme.

Dona Eva conta que viu o filme no Cine Avenida, no início dos anos 90. Foi toda alegre, brincando que tinha o papel principal, ela diz que achou o curta "um esculacho":

- O porteiro do Avenida me perguntou o que eu achei. Respondi que não gostei, que estava uma porcaria.

"O filme devia deixar claro que é ficção"

Gineo Silva, 40 anos, era um dos meninos que corria atrás do caminhão. Atual vice-presidente da Associação dos Catadores de Material de Porto Alegre, lembra que na década de 80 caminhões de supermercados distribuíam de porta em porta frutas e verduras machucadas e produtos com validade por vencer. A partir de um momento, os caminhões largavam tudo na granja que aparece no curta Ilha das Flores. Lá, os alimentos eram divididos entre o que iria para os porcos e o que seria doado.

- O filme foi prejudicial para a ilha. Senti que nós, seres humanos, somos inferiores aos porcos. A gozação era na escola, nos ônibus.

Segundo Gineo, os adultos teriam recebido o equivalente a R$ 20 e as crianças, R$ 5 pela filmagem de Ilha das Flores. Ele conta que já aconteceu de universitários visitarem a Ilha Grande dos Marinheiros achando que a população divide comida com animais.

- O filme devia trazer no início uma tarja bem grande, dizendo "Esta é uma obra de ficção".

segunda-feira, fevereiro 28, 2005

"Nadando" vai para o Rio. E sobrevive!!!



Estive alguns dias no Rio de Janeiro, em fevereiro.
Foi minha segunda visita. A primeira, num longíquo 1988 - ao tempo do governo Moreira Franco ( o prefeito eu não lembro - seria Saturnino Braga?).

Minha percepção, distante 18 anos da primeira visita, é bem diferente do que poderia supor: achei o Rio bem melhor agora do que naquela época.

Minhas recordações de então - fiquei em Copacabana- era de que o centro do Rio era um lugar que não poderia , sob hipótese alguma, transitar fora do horário comercial. Lembro de um pequeno passeio por lá em que os odores de urina, sujeira eram predominantes. Assim como a superpopulação de mendigos e "moradores de rua".

Pois bem, depois desta última visita, confesso que achei o Rio relativamente mais seguro do que Porto Alegre.

No Rio andei basicamente à pé ou de ônibus de linha regular, trajado como um turista típico (ou seja: um alvo fácil). Andei pelo centro velho do Rio num domingo à noite, por exemplo. Uma coisa impensável em Porto Alegre.

Mas o que mais me chamou a atenção foram a limpeza e o baixo número de meninos de rua e mendigos. Porto Alegre seguramente tem mais crianças pedindo nos sinais do que o Rio.

A percepção nacional é de que o Rio é a capital mais violenta do país. A guerra do narcotráfico é um pesadelo para todos os moradores do Rio.
Mas parece que esta triste realidade ainda não contaminou todos os aspectos da vida na Cidade Maravilhosa.

Para tirar esta dúvida, resolvi olhar as estatísticas sobre a taxa de homicídios no Brasil e tive uma surpresa: O Rio ou São Paulo não estão nos primeiros lugares!!!

Segundo o site CRISP - centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública de Minas Gerais lista de cidades com maior número de homicídios por 100.000 habitantes no Brasil (base: 2000) é

1) Recife - PE
2) Vitória - ES
3) Cuiabá - MT
4) São Paulo - SP
5) Rio de Janeiro - RJ

Porto Alegre aparece em 12 lugar.
A capital mais segura é Florianópolis.

Ou seja: as grandes capitais do Brasil como Rio e São Paulo não são os lugares mais violentos do Brasil. São sim os lugares onde a violência é mais noticiada.

Por coincidência Rio e São Paulo são as cidades onde estão localizadas as maiores redes de televisão do Brasil...

Não sei da opinião dos demais mas de minha parte, "o Rio de Janeiro continua lindo"...