“
White riot - I wanna riot / a riot of my ownBlack people gotta lot a problems / But they don’t mind throwing a brick
White people go to school / Where they teach you how to be thick” (“White Riot” - The Clash)
Já vou logo avisando que uma das coisas que mais gosto de fazer é encontrar relações entre eventos aparentemente desconexos, criar pontes imaginárias ligando estes pontos distantes.
Pois aqui estou fazendo uma crônica sobre o movimento da intifada francesa. Mas com um enfoque diferenciado.
Muito se tem falado da cobertura errônea da imprensa local e mundial sobre a natureza dos eventos na França. A maioria da imprensa – comprometida com o socialismo rosa-choque da social democracia e o welfare state – acha que os acontecimentos foram uma clara demonstração de falta de compaixão e cuidado da sociedade francesa e o estado francês para com os imigrantes, especialmente da África e Oriente Médio. Na visão desta parte da imprensa a solução para este problema seria AUMENTAR ainda mais o crasso assistencialismo das políticas sociais francesas. Isto mesmo, querem aumentar ainda mais as políticas assistenciais. Se Bush também ameaça fazer o mesmo em Nova Orleans- a cidade na qual a obesidade mórbida de assistencialismo transformou seus cidadãos em passivos espectadores da própria tragédia – uma versão acidental de “Esperando Godot” - , imagine na França.
A decisão do governo francês em aumentar ainda mais as políticas assistencialistas terá o mesmo efeito dar pílulas e preservativos à uma adolescente grávida.
Por outro lado, a parte lúcida da mídia revela a que o movimento é na verdade uma “intifada”. Uma proto “jihad” em solo europeu, muitos séculos após a 'reconquista'.
Depois de décadas de políticas coniventes com imigrantes islâmicos que querem gozar do “dolce farniente” do welfare europeu mas não se iintegrar ao novo continente, a Europa percebeu que perdeu o cerne da sua cultura tentando se “defender” do “radicalismo” religioso dos imigrantes (símbolos religiosos – até mesmo os que sforjaraam a própria identidade francesa – foram banidos das escolas) em vão: hoje a cultura européia só existem em seus museus e os descendentes dos imigrantes dizem ao que vieram. Trouxeram a “jihad” ao âmago da Europa. Mas de um jeito legitimamente ocidental, na forma de uma “revolta juvenil” que todos os jornalistas adoram.
Todos os jornalistas engajados gostam de uma “revolta”. Ela faz parte do ideário da esquerda, desde especificamente maio de 68. É a essa ligação que eu quero me aprofundar.
No final dos anos 50, um grupo de poetas criou um movimento – claramente inspirado na visão filosófica existencial – chamado de “angry young man”. Era a revolta do jovem na Europa com o mundo do pós-guerra ainda despedaçado à sua volta. Mesmo nos Estados Unidos, com os beatniks e o cool jazz havia esta mesma tensão, revolta no ar. Era a época do “homem revoltado” de Camus ao lado do “Rebelde Sem Causa” americano, que roubavam carros em gangues tendo dois carros na garagem de casa.
Outra e mais definitiva semelhança da revolta francesa vem do outro lado do Canal: A explosão, ou revolta Punk Rock na Inglaterra dos anos 70. Explico:
Durante os anos 70 a Inglaterra vivia uma grande recessão, impulsionada pela crise do petróleo e pelo welfare state. É . Depois de décadas de política assistencialista-sindical patrocinada pelo partido trabalhista, a Inglaterra convivia com a decadência do partido. E uma decadência que parecia, aos olhos da juventude, a decadência do próprio país. Greves espoucavam em quase todos os setores dos serviços públicos (diziam que os mortos teriam que ser jogados no Tâmisa por causa da greve dos coveiros), o desemprego entre os jovens batia na casa dos dois dígitos.. E aí?
Joe Strummer dava a senha para o movimento “revolta branca – eu quero uma revolta, uma revolta do meu jeito/ Os negros têm muitos problemas mas eles não ligam em atirar tijolos equanto os brancos vão para a escola / Onde lhes ensinam a ser estúpidos”
Este era o sentimento: o de se sentirem-se estúpidos que necessitam de cuidados especiais.
Exatamente o que o âmago do welfare-state acaba provocando: a apatia e a total dependência do indivíduo ao Estado. Contra este estado de coisas, os punks revitalizaram o velho bordão libertário de “faça você mesmo”. Mas no caso deles, a revolta se voltou mesmo à cultura – o punk se transformou numa iinfluência arrasadora em tudo o que foi feito na cultura pop das três últimas décadas – ou melhor dizendo , ao rock´n'roll (ou o que eles achavam que isso era). Então nossos punks se dedicaram aos coqueteés molotovs sonoros de pouco mais de três acordes que vitimaram milhares de tímpanos e qualquer senso de estética musical.
Uma espécie de resposta às causas da revolta punk foi emblemática: em 1979 foi eleita Margareth Thatcher e a Inglaterra começa sua rota de volta ao desenvolvimento e à relevância mundial.
E na França? Se nos anos 60 Mick Jagger cantava “O que um jovem pobre pode fazer senão montar uma banda de rock?”, nos anos 2000 na França, o que jovens islâmicos revoltosos poderiam fazer? Criar a “sua revolta”. Se os negros a tiveram nos anos 60, os hippies nos anos 60, os brancos nos anos 70. então agora era a sua vez.. E lá foram eles, sob os ensinamentos da Jihad, querendo criar um “Iraque na França”, mas com um feeling de “revolta” muito ocidental e pós-moderna na medida exata para diexar os jornalistas de ocasião extasiados..A diferença é emblemática: Como eles não sabem tocar guitarra, optaram por incendiar o carro mais próximo.
Ah, se eles pelo menos escutassem mais rock'n'roll, ou tivéssem um empresário com tino comercial como o de Malcon Mclaren (empresário dos Sex Pistols e inventor do movimento), poderíamos agora, ao invés de fogo e revolta, termos uma versão novo-milênio para “Rock the Casbah”!