"(..) Quando uma sociedade se descola propositadamente da realidade, toda a sua cultura se torna um instrumento de poder. E quando as pessoas pensam somente dentro de uma lógica de poder, é apenas um passo para uma guerra civil. Contudo, essa guerra civil não acontecerá de modo apocalíptico; é a destruição das instituições por dentro, como o cupim que come a madeira, para depois atingir a população numa letargia sem precendentes, da qual ninguém sabe mais de onde vem o mal que a aflige. A guerra civil se dará entre as famílias, entre os amigos, entre as pessoas mais queridas. E o fato de que, para destruir a sua vida, você não precisa mais de ter um inimigo e sim somente um bom amigo – eis a grande novidade do totalitarismo do século XXI.
(...)
Logo na sua abertura, Steinhardt, que foi preso pela Securitate (a KGB romena), fala sobre as três soluções que dão certo para o homem que tenta se manter íntegro em qualquer ambiente de espírito totalitário (e, por qualquer ambiente, entenda-se cultural, espiritual, político, social, etc.):- A primeira é inspirada em Alexander Solzhenitsyn, o autor de Arquipélago Gulag: a partir do momento em que você for preso, depois de ter atravessado o interrogatório de uma Gestapo, de uma KGB ou de uma Securitate, decida-se pela seguinte resolução – você é um homem morto. Se decidir isso, nada mais tem importância; podem torturá-lo, xingá-lo, incitar seus amigos e parentes à traição, nada disso lhe atingirá. Porque, afinal de contas, você morreu para o mundo.
- A segunda é inspirada em um romance chamado As alturas ocas, de Alexander Zinoviev, a partir de um personagem apelidado de O Rebelde. Consiste na decisão pela total inaptidão em relação ao sistema. Você se finge de louco – aliás, torna-se o próprio bobo da corte; assim, pode gritar aos quatro cantos sobre as mazelas da sociedade que ninguém o escutará porque, afinal de contas, sempre será considerado pelos outros como um pinel de marca maior.
- A terceira é inspirada em episódios das vidas de Winston Churchill e de Vladimir Bukowski. Churchill afirmava que, mesmo com o pressentimento de uma guerra terrível, sentia-se rejuvenescido como se tivesse vinte anos; Bukowski não podia esperar pelo momento de ser chamado pela KGB e enfim ser interrogado porque queria entrar na sala “como um tanque de guerra” e gritar a todos a verdade sobre a Rússia. Esta é a decisão do “retroceder nunca, render-se jamais”; a de que é melhor quebrar do que vergar; a do sujeito que encontra suas forças mesmo quando o combate parece estar completamente perdido.
Steinhardt afirma que essas três soluções dão certo em termos práticos e ninguém lhe disse o contrário. São atitudes essencialmente a-políticas, mas, se realizadas com uma certa retidão, podem provocar terremotos consideráveis na política de nosso país. Afinal de contas, o totalitarismo que reina no Brasil é o da estupidez humana. Logo, por que ter medo?
E aí, leitor? Agora sou eu que lhe faço a pergunta: Qual é a solução que você prefere?"
Comentário:
Instintivamente, uso as três. Prefiro "quebrar" do que dobrar ao vento.
Em relação ao Brasil, o país está se tornando cada vez mais uma grande tribo, ou melhor, um formigueiro.
Lembro que nos anos 50 havia uma campanha que dizia "Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil".
Tornamo-nos todos saúvas e acabamos com o Brasil, transformado em um grande formigueiro de apatia e negação da realidade. Tudo para viver "bem" nesta comunidade.
Algo como uma civilização pré-colombiana qualquer assombrada pelos deuses da chuva, do trovão e de Antonio Gramsci.
sexta-feira, janeiro 22, 2010
"As Três Soluções" Belo Texto do Martim Vasques da Cunha
quarta-feira, janeiro 20, 2010
Haiti, Lisboa: Terremotos e Religião
Haiti, Lisboa: Terremotos e Religião.
Sim, eu tinha que falar do grande terremoto no Haiti. Um terremoto que fez, do país mais pobre das Américas, piorar ainda mais.
A perda de vidas, ainda mais numa país já imerso no caos e na violência, é algo que nos choca frontalmente. Nos faz pensar que “justiça” poderia haver em fazer sofrer ainda mais centenas de milhares de inocentes .que têm sofrido há muito no pequeno país do Caribe. Esta é a pergunta que fica no ar, em meio a perplexidade e o luto mundiais.
Um comentário chamou-me a atenção. Não, não foi Chávez, afirmando que o terremoto foi culpa dos Estados Unidos, não. Foi do Cônsul Geral do Haiti em São Paulo que declarou que “ a tragédia pode ter ocorrido por causa da religião praticada por boa parte dos haitianos, descendentes de africanos. O vodu é uma delas”.
As reações a este comentário foram, na maioria, de protesto. Mas houve também quem concordou com a afirmação.
Eu, particularmente, concordo que a religião africana em geral, incluindo o vodu, tais como outras religiões pagãs, tem o resultado de escravizar às pessoas, por lhes negar o livre-arbítrio (pois afinal tudo acontece por resultado de forças “espirituais”). A consequência disto é o estado de torpor nas quais vivem estas populações e que é o que lhes direciona à pobreza e à mendicância.
Um ambiente como este explica a pobreza e o caos do país, mas não a ocorrência de terremotos.
Será que Deus escolhe os locais nos quais tragédias como essa ocorrem com base na religião que determinada população atende? Tais casos são a demonstração da Ira de Deus?
Há aproximadamente 2 séculos esta mesma pergunta era incessantemente indagada, por ocasião do Grande Terremoto de Lisboa.
No livro “Earthquakes in Human History”, Jell Zellingade Boer & Donald Theodore Sanders tentam desvendar a longa cadeia de efeitos das disrupções sísmicas. O grande terremoto que em 1755 dizimou a cidade de Lisboa tem papel central na obra, principalmente por causa do ambiente cultural e religioso da época.
Portugal era um dos países mais católicos do mundo, além de ser uma das primeiras potências mundiais modernas. O terremoto aconteceu no dia de Todos os Santos (1 de Novembro), um feriado em Portugal. Dia em que todos estavam a rezar nas igrejas. O terremoto aconteceu ao meio-dia, quando a maior parte da população estava em casa, preparando o almoço.
A cidade, após os tremores que destruíram boa parte das casas e muitas igrejas, sepultando seus crentes, ainda passou por incêndios tenebrosos, causados pelos fogões rudimentares a cozer o almoço e, para finalizar, um tsunami que arrasou o porto no Tejo, causando mais vítimas dentre aquelas que conseguiram safarem-se das anteriores.
Como poderia uma tragédia daquela extensão ter acontecido em Portugal? Deus não poderia ter deixado isso acontecer, era o que diziam.
Por causa deste acontecimento muitos pensadores, especialmente Voltaire, começaram a duvidar do otimismo filosófico reinante – disseminado por Leibniz e Rousseau – que propunha em resumo que Deus é bom, por conseguinte a providência Divina irá fazer com que tudo dê certo ao final. Mesmo que não saibamos quando algo aconteça, ao final tudo será bom. Na obra “ Candida”, Voltaire perguntava “se este é o melhor mundo possível, o que será dos outros?”
O terremoto ainda serviu para diminuir o poder da Igreja Católica em Portugal, pois o rei José I nomeou com poderes quase absolutos a Sebastião José de Carvalho e Mello, o Marques de Pombal, para reconstruir a cidade. Pombal, um liberal radical, começou por acabar com a poderosa Companhia de Jesus e pôs a Igreja Católica sob o poder do Estado.
A origem desta ação foi a resistência dos Jesuítas em colaborar com os esforços de reconstrução. Para eles e para a Igreja Católica, a Ira de Deus foi causada pelos pecados das pessoas, então os sobreviventes deveriam dedicar-se à oração e a remissão dos pecados, não à reconstrução. “Os clérigos também sugeriram a auto-imolação e a Inquisição condenou muitas pessoas à fogueira em cerimônias conhecidas como 'autos-de-fé'”, cita o livro.
Deus odiava a Lisboa ? Deus odiava ao Haiti? A resposta a estas duas perguntas é não. Ninguém que lhe seja fiel será preservado à morte, nem o contrário, quem lhe dá as costas será morto como “vingança”. Deus não satisfaz-se à visão da morte de inocentes. Deus apenas tem deixado a humanidade trilhar o seu caminho, desde o Jardim do Éden, quando arrogou-se, pelo poder de persuasão de Satanás, a ser “como um deus, sabendo o que é certo e o que é errado”.
Quanto aos terremotos, é um acontecimento natural. O fato de acontecer no Haiti, como aconteceu em Lisboa, só prova que “o tempo e o imprevisto sobrevêm a todos” (Eclesiastes 9:11). Assim como milhares de cristãos foram jogados aos leões em Roma e isto não diminui a fé dos primeiros cristãos, não são acontecimentos como este no Haiti que devem servir de motivo para diminuir nossa fé e nossa crença.
Em termos humanos, nem sempre tudo dará certo ou terá um final “bom”. Em termos divinos, sim, mas isso não quer dizer que compreendamos as Suas ações, imediatamente.
O que nos resta? Ajudar aos sobreviventes, mesmo em oração.
terça-feira, janeiro 19, 2010
“Bom trabalho, Israel!”
"Bom trabalho, Israel!"
http://www.artision.com/blog/?p=412
O Estado de Israel, mantendo a sua tradição humanitária, enviou para o Haiti uma missão de socorro que encheu dois aviões Boeing 747 (Jumbo). Homens e mulheres da Magen David Adom (o equivalente à Cruz Vermelha israelense) e da polícia israelense desembarcaram no aeroporto de Porto Príncipe logo após a tragédia e ali perto montaram aquilo que já está sendo chamado de "o Rolls Royce dos hospitais de campanha".
A comparação com a famosa marca britânica de automóveis de luxo não é exagerada. Embora dezenas de outros países também tenham enviado equipes de ajuda, apenas Israel montou e vem mantendo um hospital capaz de atender com conforto e segurança aos feridos com mais gravidade – alguns deles em estado terminal.
Neste momento, a central de ajuda israelense no Haiti conta com 220 voluntários, sendo 40 médicos e 25 enfermeiras e paramédicos. A unidade possui uma farmácia completa; uma ala pediátrica; um departamento de radiologia de alta tecnologia; uma Unidade de Terapia Intensiva completa, e ainda uma sala de emergência; duas salas de cirurgia; uma maternidade e um departamento de medicina interna.
As equipes israelenses trabalham em conjunto com as missões internacionais, auxiliando também no resgate de sobreviventes soterrados nos escombros. Os voluntários de Israel aproveitam o know how adquirido em décadas de conflitos militares para salvar as vidas inocentes dos milhares de haitianos vítimas de uma das maiores tragédias naturais de todos os tempos.
Esta não é a primeira vez que Israel auxilia no resgate de vítimas de acidentes naturais. Em setembro de 1985, após um terremoto no México, as equipes de Israel operaram durante 16 dias, salvando 55 pessoas das ruínas. Outro terremoto atingiu a Armênia em dezembro de 1988. Lá, a Magen David Adom trabalhou por 12 dias, salvando inúmeras vidas.
Na década seguinte, Israel auxiliou as vítimas dos atentados terroristas em Buenos Aires (1992 e 1994) e no Quênia (1998). Em 1999, após um terremoto que atingiu a Turquia e a Grécia, foram enviadas duas equipes de resgate e construído um hospital de campanha. A delegação de Israel resgatou 12 sobreviventes e 140 vítimas. O hospital atendeu 1200 pacientes, efetuou 40 cirurgias e a equipe ajudou 15 mães a dar a luz. Por fim, em 2004, Israel auxiliou no resgaste das vítimas de um carro-bomba que atingiu um hotel no Egito.
A presença de Israel no Haiti demonstra a natureza humana da sociedade criada pelo projeto sionista.
Como estão cantando nas ruas de Porto Príncipe, "Israel, good job!": Bom trabalho, Israel!
segunda-feira, janeiro 18, 2010
Avatar: Evitar
Avatar é uma historinha tirada de qualquer filme sobre a "Conquista do Oeste" com toneladas de glacê (efeitos especiais) adicionada a uma mensagem ecológica. Na realidade mais "eco" do que "lógica". O filme é uma ode infantil à nova religião mundial: o neo-paganismo ecológico.
Neste novo universo, Deus não existe. Foi algo criado pelos pérfidos "homens brancos" para desviar a humanidade dos seus verdadeiros deuses: as amigas plantinhas, os companheiros animaizinhos, o irmão-sol e a irmã-lua. O papel da humanidade neste novo universo é simplesmente co-existir em "harmonia" com os outros elementos. Para isso, deve renunciar ao progresso científico e tecnológico, vivendo em comunidades de nível neandertal (o o que se imagina que fossem).
É claro que não estou afirmando aqui que o mundo como nós o conhecemos - com seus inúmeros problemas, dentre os quais o ecológico - seja o ideal, mas é o único que podemos conceber preservando as maiores conquistas da humanidade: o livre-arbítrio e a razão.
H.G. Wells em seu "Time Machine" nos fala de um tempo futuro onde a humanidade é dividida em duas sub-raças: os morlocks, detentores da tecnologia, com aparência nada humana e que alimentavam-se dos belos e jovens elois, que, por sua vez, tinham a inteligência de um esquilo. Os primeiros dominavam as máquinas subterrâneas e os segundos viviam num mundo falsamente paradisíaco, onde eram tratados como gado para servir de alimento aos primeiros.
No filme de Cameron, os morlocks somos nós, a sociedade ocidental capitalista que precisa acabar com os habitantes do planeta Pandora para continuar existindo. Misture a isso um romance tipo "Pocahontas" e pronto: eis Avatar.
Já deixamos de acreditar que a mãe-natureza é uma divindade há muitos séculos; Que os astros e matéria tem sentimentos desde a Idade Média, quando a física aristotélica foi abandonada para dar lugar ao conceito de transcendência. Deus está acima da criação. Por causa da transcendência é que a ciência pode florescer. As religiões pagãs continuam a acreditar no contrário: Deus está contido na criação. Este conceito é a imanência.
Cameron, além de muitos outros cineastas atuais, defende a volta ao imanente, onde a natureza é uma espécie de deidade e tem de ser não só preservada, mas adorada. Sim, acredito que a natureza tem de ser preservada, na medida do possível, mas acima de tudo isso está a preservação da raça humana.
É claro que há outras relações que se pode destacar, como uma influência rousseana do "bom selvagem", que por sua vez foi cria da Utopia de Thomas Moore e que foi concebida à luz da descoberta do "Novo Mundo".
Mas tudo isso é demais para um filme com resultados tão opostos aos recursos empregados. Neste ponto Cameron pode ser até tachado de hipocrisia: vai forrar a carteira com mais e mais dólares oriundos de um sistema de produção que ele adora desprezar em sua obra.
Por outro lado, como filme e mesmo comparando aos "efeitos 3D" deste Avatar, prefiro mil vezes o fantástico "Beowulf" do Zemeckis.