quinta-feira, novembro 18, 2004

Por que os Estados Unidos não devem deixar o Iraque

Segundo o blogger iraquiano Zeyad em Healing Iraq a situação no Iraque pode estar ruim, com rebeldes atacando em várias cidades, mas pode piorar se os Estados Unidos se retirarem de lá.
Leiam este trecho: "A Associaçao dos Docentes Muçulmanos lançaram orientações de que se deve chamar as forças de segurança iraquianas de 'apóstatas', por que 'iraquianos não deveriam lutar contra iraquianos num país sob ocupação'. Estas orientações implicam que se a ocupação acabasse amanhã então estaria tudo bem em iraquianos matarem-se uns aos outros, como tem occorrido durante as últimas três décadas."

Fica claro então que, se os EUA se retirassem do país neste momento, a guerra civil no Iraque começaria de imediato, com níveis de violência maiores do que os até agora registrados, pois a fúria dos "rebeldes" se voltaria para seu próprio povo.

Para terminar: Outro blogger iraquiano, Easmon de Iraq&Iraqis comenta o resultado da últimas eleições americanas a ofensiva contra Fallujah.
"Para mim, como iraquiano, fiquei muito feliz e agradecido pelos resultados das eleiçoes nos EUA por que eu não poderia encarar uma nova política para o Iraque feita por um outro partido que pensa que as coisas aqui no Iraque deveriam ficar por conta da ONU. Conhecemos muito bem o quão corrupta é a ONU por aqui. A justificativa para minha defensiva em relação à ONU foi a carta do secretário geral da ONU para o primeiro ministro Alawy no dia 6 de novembro, alertando o governo iraquiano para que não atacasse Fallujah.. Ok, então não se ataca ; Qual o plano então? Na tal carta, nenhuma resposta"

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Por quê Israel tem de negociar com os palestinos?

Why must Israel negotiate with the Palestinians while Beijing refuses to negotiated with the Tibetans?"

Esta matéria de Steve Shamrak no Brookesnews coloca um pouco de luz na questão de um peso, duas medidas na questão.

De acordo com qualquer especialista em contra-terrorismo não se pode em hipótese algum "negociar" com estes elementos. Negociar significa validar seus métodos de persuasão e servem para aumentar o que tentam diminuir.

É por isso que nenhum governo negocia com rebeldes terroristas - mesmo com intenções legítimas de independência como os bascos, curdos, chechênos. Nem a ONU apoia tal tipo de ação.

Por outro lado, em se tratando do palestinos, tudo muda de figura. O mundo praticamente obriga Israel a negociar e aceitar os termos em que terroristas negociam.

Ao mesmo tempo não obrigam por exemplo a China a negociar sua retirada do Tibete. A causa?

Shamrak entrega : "The idea of Palestinian people was born in the mid of 1960s, after Arab states realized that it was impossible to destroy Israel using military force. The plan for destruction of the state of Israel through political manoeuvring, propaganda campaign and diplomatic arm-twisting was drawn and put to action."

quarta-feira, novembro 17, 2004

O Pensamento (confuso) do pacifista-mor Dalai Lama



Dalai Lama, supostamente a reencadernação de Buda, o inspirador mundial do pacifismo zen, mostra todo o seu (confuso) pensamento sobre pacifismo, armas, e -surpreendemente - pre-emptive war.
A entrevista foi publicada no penúltimo número da revista Seleções.
Seleções: O senhor tem um animal preferido?
Dalai: Talvez os pássaros. Alimento os mansos. Não sou violento, amas, se aparece um falcão quando os estou alimentando, pego a espingarda de ar comprimido

Seleções: O senhor tem uma arma de ar comprimido?
Dalai: Tenho , mas só atiro para assustar os falcões


Seleções: De quem mais o senhor apreciou a companhia?
Dalai: Vaclav Havel, o papa, Willy Brandt – que aprendi a admirar durante a guerra fria. Apesar das dificuldades ele ganhou a confiança dos líderes soviéticos sem muito prejuízo aos direitos de seu país. É a maneira certa. Defender seus direitos, seus valores, e ao mesmo tempo ser um bom amigo.

Seleções: Alguém mais?
Dalai: O presidente Mao. Nosso primeiro encontro foi formal e eu estava muito ansioso. Depois, poem, nos jantares oficiais, ele me fazia sentar ao seu lado e me tratava como filho, chegando a dar comida em minha boca! Como ele tosia muito, eu tinha medo de pegar uma doença! (risos) Ele dizia que era muito bom eu não fumar. Ele não conseguia parar. Gostei da maneira como admitiu isso para mim e acho que criamos uma bela amizade. Eu também o respeitava muito. Sem dúvida alguma ele foi um grande revolucionário. Mas, ao mesmo tempo, seus modos sempre foram os de um camponês.

Seleções: Há mais de quarenta anos, o senhor foi obrigado a deixar a sua terra natal. Desde então, a cultura do Tibete foi suprimida e muitos tibetanos morreram em fuga. O senhor deve sentir raiva ou ódio dessa situação.
Dalai: Raiva, acho que às vezes. Ódio, quase nenhum. Aprendemos a não sentir isso. Não faz muito tempo conheci um velho monge tibetano que passou quase 20 anos num gulag chinês. Enquanto me falava de seu sofrimento, ele mencionou que enfrentou situações difíceis. Imaginei que fosse algum risco de morte, mas ele explicou que havia enfrentado o perigo de perder a compaixão pelos chineses. Sabia que estava sofrendo por causa de suas vidas passadas, deseu carma. E agora essas pessoas que lhe causavam sofrimento criavam novo carma e teriam de enfrentar conseqüências negativas. E isso é motivo para nos preocuparmos com elas. Conter a raiva não significa ceder. Lutamos por nossos direitos, pela justiça, massem rancor. O verdadeiro sentido da luta sem violência não é só a ação, mas também a motivação . Numa de suas vidas anteriores, Buda, para salvar 499 pessoas, matou uma. Essa pessoa pretendia eliminar e roubar 499 companheiros. Então Buda raciocinou que, se aquele indivíduo fizesse isso, não apenas 499 pessoas morreriam, como aquela pessoa cometeria um pecado. Buda aceitou o pecado de matar uma pessoa e salvar 499 outras, exclusivamente por compaixão.

Seleções: Como monge, que experiências de uma pessoa comum o senhor acha que perdeu?
Dalai: Obviamente perdi esta experiência aqui [ele aponta para a própria virilha e ri].


Comentário: começo a achar que a causa do pacifismo universal a qualquer preço é talvez o que mais tenha afastado o mundo deste objetivo. Quando Dalai fala de Mao, parece que a figura do "presidente" não teve nenhum responsabilidade sobre a violência que se abateu sobre o seu amado Tibete. Dizer sobre Mao que "acho que criamos uma bela amizade" é algo completamente descolado da realidade. Por quê não usou então esta "bela amizade" para evitar o sofrimento e a morte de tantos colegas monges nos gulags? A simpatia com que o Dalai fala de líderes comunistas como Havel e comunistas-ma-non-troppo como Brandt é patética: Brandt ganhou a "confiança dos soviéticos" em meio a guerra fria, num país como a Alemanha Ocidental só queria dizer uma coisa: traição, pois os soviéticos não estavam interessados em "paz mundial" coisa nenhuma.

Apesar de tudo fiquei intrigado com a referência à ação preventiva do antigo Buda, matando um suposto ladrão assassino para poupar a maioria. Não é isso que Bush se propôs nos casos do Afeganistão e Iraque, com a diferença que houveram mais 2.000 mortes a justificá-las?

Pelo menos o Dalai usa arma - de pressão - mas usa. Provavelmente no Brasil teria que entregar a sua arma ao poder público.... Irônico.
Mas fiquei com a - quase - clara impressão de que o representante de Buda que precisávamos para esta época não seria este, mas sim o outro citado pelo Dalai na entrevista.

terça-feira, novembro 16, 2004

Antropofagia: Oswald de Andrade, partindo da "auto-estima" até a morte da cultura nacional.

O presidente Lula tem em quem se inspirar. O presidente, que já sabe que “auto-estima” não tem nada a ver com a indústria automobilística, deveria observar mais o trabalho do escritor Oswald de Andrade. Oswald tem tudo – principalmente a base teórica – daquilo que Lula tanto busca quando fala em que o “melhor do Brasil é o brasileiro”. E conhecendo Oswald se sabe quais serão os resultados deste tipo de campanha.

Oswald, além de escritor, foi um dos inspiradores da “Semana de Arte Moderna de 22” - movimento chamado por Monteiro Lobato de “paranóia ou mistificação” - como também foi um membro ativíssimo do Partido Comunista Brasileiro. Esta última função deu estofo e conteúdo às outras atribuições do artista.

Mas o que mais chamaria a atenção de Lula foi o movimento antropofágico lançado por Oswald em 1928 – chamado de “Pau Brasil”. O movimento tinha uma base teórica tão rasa quanto o roteiro de uma novela mexicana: usava-se a figura do índio antropófago, cujas tribos no Brasil pós-descobrimento eventualmente devoraram alguns europeus, como símbolo da nova arte brasileira. Seria uma arte novíssima surgida da fagocitose do elemento estrangeiro metabolizado e miscigenado com os elementos nacionais. Uma arte de exportação para o mesmo estrangeiro que de alguma forma a inspirou. Também faziam parte do manifesto antropofágico a recuperação de elementos marginais na cultura brasileira, ofuscado pela busca dos “clássicos” e do “conservadorismo”.

Estava aí criada a base teórica de nosso atraso cultural. Não precisávamos mais evoluir culturalmente nem aprender nada de novo com os estrangeiros. O movimento pregava uma falsificação cultural : embalar o que de mais tosco existia na arte nacional com o apelo fácil da ”modernidade”. Oswald deve ter percebido muito bem em suas andanças pela Europa no início do século que a tal “modernidade” (aliás chegamos atrasados: o que Oswald trouxe na bagagem era a “pós-modernidade”) era um embuste: qualquer débil mental poderia criar “obras” como aquelas. Até mesmo brasileiros.

A arte “moderna” que Oswald apreciava, o cubismo, futurismo, dadaísmo, surrealismo entre outros “ismos” não eram arte de verdade. Eram movimentos anti-arte, pois estavam plenamente engajados na desconstrução do que antigamente se chamava “arte”. E todos os participantes destes movimentos também eram ativos comunistas. Na verdade todos estes movimentos eram como um cavalo de Tróia a destruir “por dentro” os valores da sociedade ocidental. Tal era a “avant-garde” européia do início do século. E a qual resultado poderia se chegar na apropriação de elementos tão pobres como matéria prima para o “novo”?

As evidências estão aí até hoje. Oswald e seu pau-brasil foram precursores de um outro movimento chamado “tropicalismo” nos anos sessenta. Este movimento pregava que a “modernidade” consistia em recitar um poema concretista de Augusto de Campos ou uma letra lacrimejante de Vicente Celestino ao ritmo de tamborim e guitarra elétrica, vestindo roupinhas de plástico. Esta é a modernidade da qual o Brasil não consegue livrar-se há décadas: os dois líderes do movimento, Gil e Caetano foram elevados à categoria de “intelectuais”, sendo muito influentes nos destinos da cultura do país. Um deles é o ministro de cultura do governo Lula. Há mais de trinta anos o fantasma do tropicalismo-pau-brasil assombra em quem pensa em cultura no país.

O resultado do movimento foi o de onseguir transformar a cultura nacional na “geléia geral” que seus líderes tanto apregoavam. O sentido do aprendizado cultural acabou. Na visão tropicalista todo o brasileiro pode ser superior a qualquer estrangeiro por suas qualidades intrínsecas: tocador de tamborim, de caixa de fósforo, compositor em guardanapo de papel. Não há necessidade nenhuma de haver algum refinamento desta “arte”. Ela já é a expressão mais autêntica do povo brasileiro.

Mas o que não se percebe é que este polaroide dos anos sessenta está amarelado demais, como Caetano mesmo dizia em 1968, ser tropicalista ainda hoje é como tentar “matar o velhinho que morreu ontem”. Não existe no Brasil nenhum tipo de cultura vagamente conservadora para se fazer frente. Nem mais o tipo de vanguarda que Oswald encontrou no início do século passado para se inspirar. Quero dizer que a própria vanguarda de hoje é pior ainda...

No fundo, esta “arte”, bem como as intenções governamentais de melhorar a “auto estima” nacional não passam de mentiras. Mentiras para um país acreditar que ele é mesmo belo, que é grande, mesmo sem estudar, mesmo sem desenvolvimento, mesmo tendo índices de educação e violência muito piores de outros países economicamente mais atrasados do que o nosso.

Mas existe alguma esperança quando se verifica em nível mundial, uma reação, uma revalorização do pensamento clássico/conservador. Pena que jamais chegará ao Brasil, pelo menos enquanto o império da incultura tropicalista mantiver seu reinado.

O que acontece no país é que a hegemonia da visão tropicalista ainda vigente – sem um conservadorismo a atacar – acaba por devorar o próprio rabo. A síntese da falta de uma real cultura de um lado e a elevação de qualquer tosca manifestação ao nível de arte do outro foi a recente turnê européia da “rapper” MC Tati Quebra Barraco: patrocinada por entidades feministas, Tati mostrou o “novo feminismo” nacional com obras (?) do quilate de “Eu tô podendo pagar motel pros homens”, “Sou feia mas tô na moda” e “Dako é bom” (referência de duplo sentido a uma marca de fogões).

Analisando em perspectiva, Oswald errou propositalmente em falar de “antropofagia”. O que importamos da Europa para deglutir não era realmente arte. Não passava de lixo. Então não houve uma antropofagia. E o nível em que se encontra a cultura nacional não se pode mesmo falar em antropofagia, temos que nos referir a ela com outro desvio alimentar/fetichista:“coprofagia”.