quarta-feira, julho 07, 2004

Olavo de Carvalho, Lobos e Rinocerontes

F�lix Maier, em artigo publicado em 2002 tratou Olavo como "Denisovich" Carvalho - relacionando-o � obra de Alexandr Solzhenitsyn "Um Dia na Vida de Ivan Denisovich" - e terminava com a cita��o "dize-me o que pensas de Olavo de Carvalho e eu te direi quem �s".

Pois aqui fa�o minha humilde vers�o, reconhecendo a refer�ncia direta da den�ncia na obra do nosso fil�sofo com os "Rinocerontes" de Eugene Ionesco.

A similaridade da den�ncia social de Ionesco - baseada no espanto provocado pela convers�o generalizada de tantos pensadores livres aos ideais fascistas antes, durante e depois da segunda guerra mundial- e da den�ncia Olaviana de que vivemos num pa�s em que a elite intelectual de livre e espont�nea vontade tamb�m escolheu o mesmo caminho � impressionante.

O processo de imbeciliza��o coletiva preconizado nos artigos e livros de Olavo - principalmente no "Imbecil Coletivo", de 1996 - tem o seu precursor na not�vel obra teatral de Ionesco "Os Rinocerontes".

Nosso imbecil coletivo pode ser descrito como um primo muito pr�ximo dos rinocerontes Ionesquianos. Minha desconfian�a � que o imbecil seja o estado larval imediatamente anterior ao rinocerantismo. Com o mesmo teor absurdo.

A obra de Ionesco era baseada no sentimento do absurdo al�m da compreens�o sobre como a ra�a humana, especialmente a elite da elite - os intelectuais da Europa - pessoas livres e bem pensantes poderiam se dedicar a defender atrocidades totalit�rias em nome e em troca de abstratos "bons sentimentos".

A mesma situa��o se aplica ao cen�rio nacional. Mas Olavo n�o teve a mesma recep��o de sua plat�ia. Enquanto a obra de Ionesco at� hoje � cultuada como um vigoroso protesto contra os totalitarismos e o processo de boviniza��o do seres humanos, tal qual "1984", a den�ncia de nosso "Imbecil Coletivo" n�o teve o mesmo destino. Ao inv�s de desnudar o processo de imbeciliza��o �s massas, de modo cristalino e factual, o que se seguiu aqui foi a eleva��o de seu autor � categoria de celebridade com sinal invertido.

Se visitarmos alguns sites na internet ou f�runs de discuss�es iremos encontrar toneladas de palavras vazias e iradas contra a obra de Olavo. Muitas opini�es baseadas em outras opini�es, que s�o ainda criadas em laborat�rio pelos nossos engenheiros sociais.

Algumas vezes nosso fil�sofo parece ter se tornado n�o uma figura de carne e osso, mas mais uma "lenda urbana" que infestam a internet ("Olavo n�o existe" � um dos temas recorrentes nestes f�runs). Outras vezes � pintado como uma vers�o daquilo mesmo que est� a denunciar: um fascista, um nazista....

Quando as emo��es, os tais "bons sentimentos" vazios, destitu�dos de sentido mais amplo, dominam os argumentos de quem se pretende mudar o pa�s, s� posso chegar a seguinte conclus�o: Olavo, chegaste tarde demais!!

A imbecilidade coletiva j� se elevou ao "state of the art" neste pa�s. � quando o imbecil, encontrando seus pares em tal elevado n�mero se acredita poderoso o suficiente para definir o que seja "verdade". Para eles, a verdade n�o se revela no rec�ndito secreto de sua pr�pria consci�ncia. N�o, a verdade � o consenso do grupo. A vers�o atual de realidade, neste contexto pode ser definida como uma grande vota��o num reality show: o importante � "acertar" o que a maioria ir� decidir. Ficar com a maioria. Fazer parte do grupo. That�s reality...show.

Aos poucos que conseguem enxergar o processo - ao longe, tais como lobos solit�rios (pois � necess�rio uma dist�ncia profil�tica desta manada para evitar o cont�gio)- verificam a transforma��o do nosso jovem em imbecil, e finalmente de imbecil em rinoceronte.

A figura do rinoceronte � muito feliz nesta analogia: contra uma manada de rinocerontes enfurecida n�o h� nada que possa ser feito.

Chegamos tarde: os imbecis j� est�o em franco processo de rinoceriza��o. S� resta a n�s solit�rios lobos da estepe, o momento certo de correr....

terça-feira, julho 06, 2004

A trai��o de Hollywood aos valores americanos

O site Dissecting Leftism traz uma contribui��o valiosa �s causas da moderna Jihad e ao anti-americanismo:
"Estou t�o contente em conhecer sua fam�lia" disse uma mulher isl�mica a um visitante americano. "'N�s pens�vamos que os americanos n�o tinham valores, que eles eram materialistas e s� pensasem neles mesmos. Pens�vamos que n�o havia compromisso com as crian�as e suas fam�lias, que todos viviam na imoralidade. � t�o maravilhoso ver que estas coisas n�o s�o verdade!' E de onde vem esta imagem da Am�rica? Se algu�m planejasse criar uma poderosa estrat�gia de propaganda para desacreditar completamente os valores americanos, n�o teria pensado em nada t�o efetivo quanto os produtos made in Holywwod mostrados � bilh�es de pessoas todos os dias".

Realmente se pode dizer que a ind�stria do cinema e da m�dia em geral Norte-Americana � o maior promotor do anti-americanismo e at� da Jihad, pois promovendo os valores que s�o o contr�rio dos verdadeiros valores da sociedade americana, atraem a ira dos fundamentalistas para com os n�o-fi�is.

N�o tinha me dado conta, mas o fato de que Holywood tenha sido o primeiro (e maior) foco de "invas�o" e coopta��o do Partido Comunista Sovi�tico dentro dos Estados Unidos n�o pode ser por acaso.
Leio alguns textos que a estrat�gia da tomada de Hollywood s� foi tentada ap�s a primeira e fracassada investida direta no meio sindical americano.

Olhando deste ponto de vista, � fundamental ter um servi�o de propaganda negativa funcionando e financiado inteiramente pela pr�pria "v�tima"...

segunda-feira, julho 05, 2004

Socialismo: a "terceiriza��o" do altru�smo...

Estive pensando longamente por que um modelo falido como o socialismo
ou o comunismo - ou qualquer outra ideologia coletivista - t�m tanto apelo no subconsciente coleti�vo nacional.

Por exemplo: o 'novo' partido do rebeldes do PT. � claro que tinha que ter 'socialismo' obrigatoria�mente no nome, e se sa�ram com um nome digno de Ionesco:'Partido do Socialismo e da Liberdade', ou simplesmente P-Sol. Parece nome de doen�a capilar.. 'Livre-se da 'P-Sol'-r�ase!'

Retornando: A causa primordial � a estrat�gia gramsciana de ocupar os espa�os, emulando uma
sociedade "socialista" em toda a sua express�o cultural. Isto explica o atual estado das coisas e � percebido pelo uso da linguagem como arma de transforma��o social. Este esquema mental � t�o poderoso que at� not�rios pensadores liberais e conservadores acabam, em algum ponto, escorre�gando no discurso f�cil de "justi�a social" e cidadania, por exemplo.

Mas isso n�o poderia por si s� exercer tanta atra��o sobre por��es t�o grandes de nossa popula��o.
Por qu� o socialismo agrada tanto aos ouvidos das massas?

A minha opini�o � por que existe um outro componente: o discurso do desapego "material" e da caridade, contrabandeados sorrateiramente do universo crist�o para dentro do socialismo.

O altru�smo e a caridade s�o fortes elementos nas doutrinas crist�s, s� que o ator principal - dentro de sua concep��o - � o indiv�duo. A responsabilidade por tais atos pertence ao indiv�duo. Os conceitos de caridade e altru�smo n�o podem ser coletivizados. Mas isso n�o � considerado ou levado em conta e como o discurso se casa com o do igualitarismo, acaba projetando �s massas que a responsabilidade por ajudar os mais pr�ximos N�O � de responsabilidade do indiv�duo, mas do 'MODELO ECON�MICO'.

Dentro desta vis�o, a maldade impl�cita do modelo capitalista fica evidente, pois os elementos ou o 'mercado' n�o pensa no coletivo.Ent�o o modelo socialista � '�ticamente' superior ao modelo capitalista.

Com o socialismo como 'mocinho' e o capitalismo como 'bandido' neste tele-catch farsesco montado pela esquerda, n�o � de estranhar que a plat�ia tor�a entusiasticamente pelos primeiros.

Isto � particularmente atraente, principalmente entre a popula��o mais jovem, que acabam associando as responsabilidades pela caridade ou altru�smo ao Estado. O socialismo da "inclus�o social" e do igualitarismo seria ent�o a solu��o ideal para aqueles que se preocupam com os mais necessitados mas n�o querem perder tempo com tarefas relacionadas a isso. Como o igualitarismo � uma tarefa do Estado, eu - pessoa f�sica - n�o precisaria me preocupar com tais detalhes.
O Estado faria a sua parte, levando o bem-estar e os "direitos sociais" �s faixas mais carentes da popula��o. Simples, sem envolvimento pessoal, sem obriga��es .
O pre�o a pagar, na forma de altos impostos (embutidos em todos os bens e servi�os obtidos ou contratados pela popula��o) seriam uma justa medida, haja visto o n�mero aberrante de pessoas vivendo "abaixo da linha da pobreza" e a brutal desigualdade social neste pa�s.

O efeito colateral seria ainda mais ben�fico: resolvidas as responsabilidades sobre quem deve agir - no caso, o Estado - as pessoas, tranquilizadas (eu diria "entorpecidas") de que "algu�m"
estaria fazendo "a sua parte", estariam liberadas ent�o para se dedicarem ao que lhes � mais caro e importante - segundo a �tica dos formadores de opini�o deste pa�s - o seu pr�prio umbigo.

Na sociedade brasileira atual isto � terrivelmente vis�vel. Enquanto se espera do governo que gere o desenvolvimento, que resolva os problemas da "fome", da sa�de, da educa��o de toda a popula��o,
o que se espera dos indiv�duos?
Aos indiv�duos, resta o conforto de se preocupar com o que o Estado permite que sejam decis�es pessoais, que se resumem no que consumir, em que quantidade ou que frequ�ncia. Com o que sobrar.

Resumindo: O socialismo representa uma esp�cie de "terceiriza��o do altru�smo", no qual as pessoas acreditam por que a contrapartida tamb�m � vantajosa: libera as pessoas de terem de se preocupar com seu semelhante, afinal tal 'tarefa' caberia ao Estado. Mesmo a um pre�o alt�ssimo.

Esta tamb�m � uma das raz�es do sucesso do discurso coletivista em nosso pa�s.

Artigo: Olavo de Carvalho - Evolu��o e Mito

Segue artigo de Olavo de Carvalho (jornal da tarde - 06/05)

"As discuss�es correntes sobre evolucionismo e criacionismo, ci�ncia e f�, espiritualismo e materialismo, s�o em geral bem pobres de compreens�o filos�fica, em compara��o com a riqueza de dados e argumentos que p�em em jogo. Se eu metesse minha colher no assunto, seria apenas no intuito de chamar a aten��o para algumas precau��es b�sicas que t�m sido a� bastante negligenciadas.

� que o ser humano s� tem tr�s linguagens para dar forma ao que apreende da realidade: o mito, que expressa compactamente impress�es de conjunto; a ci�ncia experimental, que descreve e explica grupos particulares de fen�menos segundo um protocolo convencional de m�todos e aferi��es; a filosofia, que faz a transi��o entre as duas anteriores. Qualquer conhecimento satisfat�rio das origens escapa necessariamente �s possibilidades da ci�ncia, j� que a descoberta delas seria apenas mais um cap�tulo do mesmo processo c�smico que se pretende explicar e n�o um miraculoso arrebatamento da mente cient�fica para fora e para cima do processo. Um evolucionismo conseq�ente teria de explicar-se a si mesmo como etapa da evolu��o, mas para isso seria for�ado a abdicar da pretens�o de veracidade literal e consentir em ser apenas mais um s�mbolo provis�rio depois de tantos, sujeito, como todos eles, a converter-se no seu contr�rio mais dia menos dia. A �nica verdade do evolucionismo � a de uma contrapartida dial�tica do criacionismo, assim como nenhum criacionismo pode existir sem deixar aberta alguma brecha evolucionista.

A intelig�ncia humana tende na dire��o de um conhecimento explicativo das origens e dos fins e sente por ele uma atra��o que � elemento constitutivo e essencial da sua estrutura; mas uma tend�ncia n�o � e n�o ser� jamais uma realiza��o. O ideal da ci�ncia como conhecimento universal apod�ctico � ao mesmo tempo uma miragem inalcan��vel e o princ�pio efetivo que d� estrutura e validade ao esfor�o cient�fico. � algo simultaneamente real e irreal ? exatamente como o significado dos mitos, que brilha na dist�ncia mas se furta a uma decifra��o cabal. Toda ci�ncia, nesse sentido, � ritual: cont�nua reencarna��o c�nica de um sentido inaugural (e ao mesmo tempo �ltimo) que nem pode desaparecer por completo do cen�rio vis�vel nem manifestar-se por inteiro dentro dele, pela simples raz�o de que o abarca e transcende. ?Nele vivemos, nos movemos e somos?, dizia o Ap�stolo.

Por isso a busca incoerc�vel e insaci�vel do conhecimento apod�ctico, tal como o conhecimento potencial que nela j� se insinua, s� � apropriadamente expressa na linguagem mitol�gica, e isso � tanto mais verdade quanto mais essa tend�ncia se amplia para abarcar a ?totalidade?. Toda teoria cient�fica ou especula��o filos�fica das origens desemboca, em �ltima inst�ncia, no mito, e acus�-la de mito n�o �, por isso, uma obje��o s�ria. Tanto o evolucionismo quanto o criacionismo s�o mitos, isto �, narrativas anal�gicas, insinua��es finitas de um conte�do infinito, separadas do seu sentido por um hiato t�o imensur�vel quanto esse mesmo sentido.

Todos os mitos giram em torno de dois modelos b�sicos: o criacionismo b�blico e o casualismo epicuriano. Entre esses dois, n�o se trata de escolher o mais "cient�fico", o que seria apenas uma confus�o de planos, uma "met�basis eis allo gu�nos" (troca de g�neros), e sim de averiguar qual o mais apropriado � express�o da estrutura da realidade existencial e portanto ao adequado posicionamento do homem no processo c�smico. Como esta estrutura � observada desde dois pontos de vista -- a confian�a dos crentes num Deus bondoso e o sentimento gn�stico de abandono --, sem que um possa suprimir o outro, de vez que ambos constituem elementos estruturais da mesma condi��o humana que se desejaria expressar, o debate deve ser transferido do terreno das pretens�es cient�ficas para o da adequa��o existencial. � no autoconhecimento, e n�o em especula��es cosmol�gicas despropositadas, que se descobre, quando se pode, a efic�cia maior e a maior legitimidade intelectual do criacionismo, o que n�o nos d� evidentemente os meios de "refutar" o casualismo, mas apenas o de desmascar�-lo como mentira existencial. Menrira existencial porque, n�o podendo explicar-se a si mesmo como etapa do processo, n�o reconhece essa sua impot�ncia constitutiva e em vez disso se refugia num arremedo de transcend�ncia, a pretens�o de certeza cient�fica final habilitada a exorcisar para sempre todos os mitos. "


Olavo de Carvalho � professor de filosofia,
diretor do Semin�rio de Filosofia do Centro Universit�rio da Cidade (RJ)
e autor de "O Imbecil Coletivo:Atualidades Inculturais Brasileiras"
Link para o artigo olavodecarvalho.org