No filme “Duro de Matar 3”, Bruce Willis é obrigado pelo vilão a andar pelas ruas do Harlem com um cartaz escrito “Eu odeio negros”. Era severamente xingado e espancado pelos passantes até ser salvo por Samuel L. Jackson.
É exatamente a mesma reação que obtemos quando nos declaramos de direita. A diferença é que o personagem de Willis era obrigado a isso, enquanto nós o fazemos de espontânea vontade.
Por quê disso? Masoquismo?
Seria tão fácil ser mais um da maioria silenciosa, que vê o desenrolar dos acontecimentos deste país como um espectador de alguma uma tragédia grega, sofrendo reservadamente em frente ao seu home teather tomando uisquinho de 12 anos para relaxar...
No meu caso, não poderia me conformar com este papel de espectador. Não quando se está no próprio Titanic sabendo-se de seu desastre iminente.
A razão de escrever - seja na internet seja para as colunas “do leitor” nos jornais - é uma inquietação interior que já não pode ser represada.
Esta inquietação é uma revolta contra a paisagem atual deste país e especialmente da juventude.
A origem disto é que me considero um “outsider”. Desde criança nunca suportei a pressão de turminhas de escola, ditando regras de como se comportar ou como vestir. Decidi ser eu mesmo. Nunca precisei de ninguém para certificar minha própria “identidade”. E este forte sentimento devo a minha família, que sempre foi unida o bastante para que eu não tivesse que buscar esta identidade grupal fora dela. Bem ao contrário de hoje em dia, em que bandos de adolescentes perdidos criam falsas “famílias” enquanto desprezam as suas próprias – usadas como uma espécie de equipe de copa ou cozinha de algum hotel de luxo.
Meu desprezo por “turmas” e mais um forte sentimento de “faça você mesmo” sem esperar por outros é o que me move. E uma curiosidade quase mórbida em conhecer cada vez mais coisas, idéias, arte, cultura e o que há por trás disso. A necessidade desta busca incessante me fez seguir adiante, procurando sempre por respostas não prontas e relações inesperadas entre fenômenos conhecidos.
Devo confessar que minha opção direitista se deve muito mais a um “senso comum” do que a leituras ou estudos mais profundos. Mas a exata percepção da realidade, as várias camadas de sub-realidades que a compõe me foi apresentada há dois anos quando descobri o trabalho do filósofo Olavo de Carvalho.
Seus artigos primeiramente me causavam espanto e acessos de risos. Comecei a aguardar cada novo artigo para ver até onde aquela aparente “paranóia anti-comunista” tão anacrônica - como um filme B de ficção científica americano dos anos cinqüenta - iria chegar. Me intrigava que Olavo entregava o destino mas não o caminho percorrido. Teria de ler mais para chegar aos pressupostos de suas conclusões. O que foi feito quando me caiu nas mãos um exemplar de “O Jardim das Aflições”.
Este livro é para mim um dos mais influentes que já tive o prazer de desfrutar. O coloco na minha galeria de livros que ajudaram a formar a minha personalidade e minha forma de ver o mundo. Nesta fórmula-galeria coexistem nomes e obras como Hermann Hesse (Demian e O Lobo da Estepe), George Orwell, Dostoiveski (Crime e Castigo, O Idiota) e entre outros. O nome de Olavo nela determina o tamanho da pancada, da porrada intelectual que foi a leitura de sua obra.
Tudo isso só me reforçou sentimentos que já eram bastante fortes, mas sem uma base intelectual mais consistente, baseado mais no senso comum do que outra coisa. O principal é o valor do indivíduo, que é a menor e também a maior medida da humanidade possível. Não existem sistemas, regimes, regras ou doutrinas “humanas”. Existem regimes , sistemas, regras e doutrinas criadas por humanos.
Não existe coletivo. E sim um conjunto de individualidades.
Deus nos criou como únicos, com qualidades distintas e potenciais definidos. O desenvolvimento destes potenciais para melhorar nossas vidas e dos que nos rodeiam é a nossa única dívida com o criador.
Cada homem é um artista em potencial. E artistas fazem obras únicas para a admiração de seus pares. A obra do artista também é única. É a expressão de sua individualidade.
Por isso não acredito em coletivismos, coletivistas, socialismo e todos os regimes que tentam capturar a humanidade e a individualidade do homem em favor de uma suposta igualdade que não existe. A igualdade é um totem, um “neon god” que ninguém pode prestar devoção sem subtrair em alguma dimensão à sua própria substancialidade humana.
Mas o discurso coletivo é avassalador. Todas as virtudes que os seres humanos podem ter parece que foram sugadas para dentro da definição do socialismo. Ser contra o socialismo acaba sendo contra a humanidade seqüestrada por ele. E por isso ser de direita é tão outsider no mundo de hoje.
A direita é autenticamente outsider, verdadeiramente contra o stablishment cultural predominante do mundo atual. Somos os verdadeiros “punks” da cultura política. E o “stablishment” de hoje é o socialismo. Falando em “punks” gosto de ressaltar que o que eles fizeram foi uma revolução completamente individualista. O “do it yourself” era um slogan totalmente direitista, decidido e radical. Seu nihilismo os aproximava também de um anarquismo anti-totalitário. Pena que por falta de um mínimo de percepção ao mundo que os rodeava acabaram ajoelhando diante do altar do coletivismo mais raso como vaquinhas de presépio.
O que se vê no Brasil não difere muito: jovens semi-idiotizados por décadas de propaganda anti-capitalista, acabam caindo no apoio ao totalitarismo imbecilizante sem qualquer alternativa..
O choque destes indivíduos quando encontram um direitista na vida real é fatal: Só restam palavras de ordem ocas repetidas ad-nauseam como um mantra, quando não ações mais agressivas. Exatamente o que um “rebelde” receberia do “sistema”. Estes jovens não sabem que eles são o próprio sistema contra o qual tanto se rebelam.
Enfim, os verdadeiros outsiders, os rebeldes dos dias de hoje não são os ícones de butique vendidos pela mídia, mas os muitos “Winstons” (de “1984”) que tem coragem de sair pelas ruas reais ou virtuais mostrando sua identidade direitista à todos – não importando quantas provocações e insultos irão receber – pelo simples dever de mostrar que o rei está nu, ou melhor está morto, apodrecendo e levando uma boa parte da juventude com ele.