quarta-feira, fevereiro 20, 2008

A pedido de várias famílias: entrevista a Olavo de Carvalho



Bruno Garschagen entrevistou Olavo de Carvalho para a "Atlântico" (a melhor revista portuguesa em idéias) de Janeiro!


Abaixo, o link com a entrevista completa. O trecho escolhido é importante pois Olavo, de uma forma mais detalhada do que o costume, explica exatamente qual o "conservadorismo" que defende ( "a ordem espontânea) e a diferença da defesa desta "oprdem espontânea" e a defesa de um conservadorismo por si e em si mesmo. Neste último caso, o conservadorismo como uma regra formal, pode transformá-lo em algo tão "revolucionário" e totalitário quanto ao que (somente superficialmente) combate. Este seria o caso de Portugal sob o comando de Salazar e do Salarazismo.


Ainda não tenho qualquer bagagem de conhecimento para julgar se tais afirmações são ou não pertinentes , mas o que interessa mesmo é a definição do conservadorismo como a defesa da "ordem espontânea". Os revolucionários podem estar dos dois lados: no lado "progressista", acelerando artificialmente o seu desenvolivmento natural para que chegue aos fins antecipademente previstos e do lado "conservador", a tentativa vã de travar por completo o movimento natural, de modo a congelar a sociedade num determinado período de tempo.


O interessante é que, no Brasil, muitos acusam Olavo de ser um defensor deste tipo de conservadorismo, uma "revolução estática". Por isso este trecho é importante.


Aproveitem...



"Que é ordem espontânea?

É o conjunto de soluções aprendidas ao longo do tempo. É uma ordem espontânea porque não foi imposta por ninguém. É ordem porque tem um senso arraigado da própria integridade e rejeita instintivamente toda mudança radical. Mas é também aprendizado, isto é, absorção criativa das situações novas por um conjunto que permanece conscientemente idêntico a si mesmo ao longo dos tempos, por meio de símbolos tradicionais constantemente readaptados para abranger novos significados.
Examinem bem e verão que ordem democrática é precisamente isso e nada mais.

Se, ao contrário, um grupo imbuído do amor a valores tradicionais tenta deter a mudança, ele está introduzindo na ordem espontânea uma mudança tão radical quanto o grupo revolucionário que deseja virar tudo de pernas para o ar, pois o que esse alegado conservadorismo deseja é imortalizar no ar um momento estático de perfeição hipotética. Se esse momento, na imaginação dele, expressa os valores do passado, isso não vem ao caso, porque na prática política esse ideal será um “projecto de futuro” tanto quanto o ideal revolucionário.

Uma sociedade só embarca no projecto revolucionário quando perdeu todo o respeito por si mesma. Um respeito que, entre outras coisas, implica o amor aos valores do passado como instrumentos de compreensão e acção no presente, não como símbolos estereotipados de uma perfeição ideal no céu das utopias."




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A "SuperInteressante" história do Diabo

Hoje passei em uma banca de revistas aqui na cidade onde moro (Maia, Portugal) e acabei comprando a “Superinteressante” versão portuguesa. Há muito que relutava em comprá-la, fruto das más lembranças com a homônima brasileira.


A “Super” brasileira – lançada em 1986 (se não me engano) – era uma de minhas revistas favoritas à época. Mas nos anos noventa, sofreu uma decadência atroz. Nesta altura foi invadida por hordas de repórteres/colunistas remanescentes da revista “ShowBizz” - antiga “Bizz”, especializada em rock e esquerdismo adolescente – que, a esta altura, havia sido cancelada pela editora Abril. A trajetória da “Super” a partir daí foi decadente: matérias cada vez mais panfletárias, anti-americanas, multi-culturais e politicamente corretas. Enfim, nada que ver com conhecimento “científico”. Nunca mais comprei um só exemplar desta fábrica de idiotia.


Pois bem, a matéria de capa fisgou-me: “A Vida e a Obra de Satanás”. “Bah, se fosse na edição brasileira..” pensei, “teria muitos adjetivos nada abonadores sobre a Igreja Católica, especialmente sobre a Inquisição”.

Pois o resultado vai muito além do que eu esperava: é muito mais informativa e precisa. E não têm “ avaliações” ou “opiniões” dos editores. Vai ao ponto. E traz de quebra informações elucidativas. Com isso chega-se à conclusão que no Brasil tudo, mas tudo mesmo, acaba sendo influenciado pelo viés esquerdista, até revista científica. Compare este trecho com alguma edição brasileira da mesma revista.

O Protetor dos Bruxos (extraído da Super Interessante, edição 118 – página 27)


O Inquisidor Alonso Salazar de Frías foi responsável por um feito crucial na história da bruxaria. Em 1610 (estava Portugal sob a coroa de Castela), os juízes seculares de Logroño decidiram lançar uma ofensiva em regra contra o Diabo. Não tiveram dificuldade em localizar as vítimas, que obrigavam a confessar e, depois, condenavam à fogueira. A Inquisição, pouco inclinada a ver questionada a sua autoridade em assuntos religiosos, enviou os seus sicários, que, contagiados pelos juízes, descobriram 280 adultos e crianças que adoravam o Diabo.

As coisas começaram a mudar em Maio de 1611, quando a Inquisição ordenou Frías para fazer cumprir o édito segundo o qual os bruxos que confessassem podiam livrar-se da fogueira. O inquisidor interrogou 1802 bruxos, dos quais 1384 eram crianças com idades entre os 12 e os 14 anos. O relatório, que ocupa 5000 folhas, concluía: `Não encontrou nem um único indício do qual se possa deduzir que foi cometido qualquer ato de bruxaria, nem que tenham assistido a conciliábulos de bruxos ou participado neles, nem inflingido danos ou qualquer outra coisa. As provas não são suficientes para justificar o encarceramento.´

Graças a Frías, Espanha e Portugal não conheceram a terrível repressão que se verificou no resto da Europa”.



(Nota: Há de se separar a Inquisição Espanhola do período dos Reis Católicos , sob o comando de Torquemada (1480-98) - cujo fim era sumamente político e voltado à perseguição aos judeus -, com o período posterior (1600) , o da contra-reforma, em que a temporada de caça às bruxas imperou da França até a Alemanha, com suas fogueiras ardentes.


Para terminar, um aperitivo da próxima edição...


Uma Lenda Alimentada Pela Fé

A Reforma e, principalmente, a Contra-Reforma deram origem ao lançamento de alegações de crueldade por parte das Inquisições portuguesa e espanhola, o que está longe de ter sido provado pelos historiadores”