Título: Obama Blues | 11-02-2009 |
URL: private:stream | 21:13:52 |
Em 2002, depois de flertar com o perigo por década e meia, finalmente o Brasil decidiu-se pela eutanásia, pura e simples. Em 2006 confirmou seus votos.
A morte do Brasil, como nação é uma realidade. Na ocasião, perdi muito do meu interesse em manter-me atento e crítico do processo entrópico nacional, pois havia a certeza que não havia muito o que fazer.
A única resistência vinha de onde não havia como ser uma resistência verdadeira: o ambiente virtual da internet. Blogs, sites, grupos de discussão brotavam e erguiam-se contra o estado das coisas. Mas a grande maioria (com honrosas exeções como o Farol da Democracia Representativa) não passav do virtual para o real. Por dois problemas:
A visão de que os problemas nacionais resolveriam-se apenas pela via econômica (pobreza, criminalidade, eram todos consequencias de má distribuição de renda, inflação, falta de desenvolvimento).
A solução passava pela política: eleger um anti-lula. Qualquer um.
Mas isso é outra história.
Minhas atenções voltaram-se para o que acontecia nos Estados Unidos onde uma forte reação conservadora das últimas décadas havia colocado-o contra as tendências mundiais (liderada pela Europa), em sua maioria, socialistas e neo-laicas (ver a doutrina Sakharov – convergência “ In the ideological and political field, East-West convergence on communist terms”-Anatoli Golitsyn).
Com a eleição de Obama parece que o último bastião do conservadorismo cultural e econômico, fatalmente, terá o seu dia de Brasil também.
De uma certa forma, o Brasil acabou sendo uma experiência de "sucesso" que vai espalhando-se pelo mundo; Um manual de "best practices" que parece estar sendo copiado ipsis literis ao redor do mundo.
Aqui em Portugal, por exemplo, há uma onda de criminalidade inimagináveis há poucos anos (em 2007, o país era apontado como um dos lugares mais seguros do mundo). No cerne da questão está a mudança de uma série de procedimentos legais que acabaram de por de volta às ruas centenas de crimonosos perigosos por conta daquela mentalidade muito conhecida dos brasileiros que reza que o criminoso é uma "vítima da sociedade".
Voltando ao tema, parece-me que, subitamente , o processo entrópico chega em grande estilo aos EUA com a eleição de Barack Obama (em termos, pois o processo esteve mascarado pelo habitual dualismo democrata-republicano, onde estes últimos obtiveram vitórias culturais significativas nos últimos anos, dominando o debate nacional e deixando a impressão que não haveria condições de uma queda às teses populistas de um B. Obama) . Obama e Lula têm muito em comum: ambos foram ajudados pela mídia; Ambos foram vendidos como santos milagreiros.
Minha reação à eleição de Obama foi a mesma da reeleição de Lula. Com ele, boa parte de minhas esperanças acabaou por desfazer-se no ar.
Apesar deste cenário Hiroshima pós-Enola Gay, vi um filme que vale a pena comentar. " Operação Valquiria" com Tom Cruise, que conta uma das dezenas de tentativas fracassadas de assassinar Hitler, acabou por trazer-me algum ânimo. Se, mesmo na Alemanha, havia quem não concordava com Hitler e pagou mesmo com suas próprias vidas as tentativas em detê-lo, o que dizer de coisas como Lula, Chavez, Evo, Obama & Putin?
Minha consciência chama-me de volta. Nem que seja ao menos para mostrar às futuras gerações que nem todos concordavam com tudo que acontecia por aqui e lá.
PS.: Olavo de Carvalho foi saído do Jornal do Brasil. Muitos comentadores liberais sustentam que o dono do jornal pode tirar ou colocar quem ele quiser para escrever em suas páginas. É seu direito de exercer liberdade, portanto a decisão nada teve de "censura" ou coisas do gênero.
Discordo pois, em primeiro lugar, não dá para pensar mais em termos de luta política-revolucionária como há trinta anos.
Uma nova ditadura, nestes novos tempos, nunca será uma "ditadura" como nos acostumamos a conhecer. Assim como "censura" nunca será vendida como tal, mas como uma medida para forçar um posicionamento "politicamente correto" dos indivíduos recalcitrantes. Tudo muito clean e civilizado. Com apoios até dos defensores dos direitos humanos.
O que não percebem que uma guerra cultural é uma guerra cultural. Nos Estados Unidos, as tentativas de acabar com os talk-shows conservadores por meio de ressucitação de políticas como a "fair doctrine", é vista sim como um atentado à liberdade de expressão. Se no Brasil tivéssemos dezenas de jornaisl, tvs, rádios com perfil conservador eu não veria problema nisso. Mas é o contrário. Há uma meia dúzia de conservadores e seus espaços estão menores em todos os meios. Só conseguem alguma relevância aqueles que adotam um tom e posturas "autorizados" pelo sistema: os comentaristas econômicos com grande matiz anti-religioso.
O que estes colegas acabam por fazer é mais ou menos como as nações européias, que na tentativa de combater Hitler, usaram seus arsenais e táticas da Primeira Guerra contra Divisões Panzer, a Luftwaffe e a Blitzkrieg.
Como dizia Caetano Velloso em pleno 1968, com os Mutantes a detonar “È Proibido Proibir” ante uma platéia hostil de universitários-idiotas úteis: “ Vocês não estão entendendo nada. São a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem!”
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