Cloverfield, o filme, tem sido avaliado das mais diversas maneiras. A "Veja" classificou-o como uma versão "youtube" de uma improvável mistura de "Bruxa de Blair" com "Godzilla".
Muitos sites americanos conservadores acusaram a fita de explorar os atentados de 11 de setembro, usando-os como inspiração a um descerebrado filme-pipoca.
Pois fui ver o filme, ontem.
Aqui embaixo podem ver o trailer do filme que, aqui em Portugal teve o título oficial de "Código: Cloverfield".
E se estou escrevendo algo aqui a respeito dele é por que este filme, de alguma maneira, muito me impressionou. É um daqueles que tu chegas em casa e começa a procurar algo na internet que satisfaça a sua curiosidade.
Sim, o filme tem um enredo, um roteiro. Mas prende não pelo que mostra, mas pelo que esconde. E este filme esconde muitas coisas de verdade.
À saída do cinema, muitos outros espectadores avaliavam este como um dos piores filmes que já haviam visto... Discordo.
"Cloverfield" tem elementos de "Godzilla". E da "Bruxa" pelo fato de simular um filme caseiro. Mas há outros.
O mais notório é a semelhança com "A Guerra dos Mundos", não só a versão cinematográfica cometida por Spielberg há dois anos, mas como a própria obra original de H.G. Wells. "Cloverfield" copia do filme de Spielberg a mesma estrutura utilizada para mostrar o primeiro ataque do monstro. A mesma curiosidade inicial, a preocupação crescente que explode em surtos de terror e correria generalizada. Em "Cloverfield" temos o mesmo "salvem-se quem puder". Perfeito!
Outro ponto a notar é que a literatura de H.G. Wells também é assim, colocando o narrador como o personagem principal de suas narrativas. É a versão século 18 equivalente à utilizar a câmera do celular para documentar um acidente de trânsito hoje em dia.
O melhor do filme,no entanto, é que ao final se trata de uma história romântica. Os personagens centrais são pessoas comuns. Esta é a diferença deste filme para os outros: o ponto de vista é sempre o das vítimas, que nem sabem do que estão correndo e nem por que morrem. E não simples desmiolados festeiros. A festa inicial tinha um motivo para acontecer. Não era apenas mais uma "rave" qualquer.
Outro ponto, a conexão, digamos, iconográfica com o 11 de setembro existe e é proposital, seja na cabeça da Estátua da Liberdade que literalmente voa como uma bola de futebol lançada em profundidade, quicando sobre prédios, carros e pessoas, seja na imagem de prédios se esfarelando sob um mar de poeira.
Li nos créditos que o produtor deste filme é J.J. Abrahams, o cara por trás do LOST.
Entendi tudo. Nada foi mostrado durante o filme que explique a situação. Pelo menos não neste filme. Exatamente como o seriado, que deve estar na quinta (?) temporada e até agora nada de entregar alguma explicação.
Finalmente, o filme é excelente, mas peca pelo fato de haver cenas meio sem conexão ou explicação maior. Parecia que foram soluções plantadas ali sem o menor propósito (como a cena dos parasitas do metrô). Pois parece que era esta mesma a intenção do projeto / filme: fazer as pessoas irem busca explicações para o filme elas mesmas. Pelos sites que visitei parece mesmo que o filme tinha outro roteiro, na qual a culpa do "despertar" do monstro recaía sobre a companhia japonesa onde o personagem principal, Rob, iria trabalhar...
Enfim... Prevejo que a onda de especulações sobre o filme irá continuar, mesmo com o filme nas telas. Vejam!!