sexta-feira, outubro 26, 2007

Guevara e Seus Aduladores Patéticos: Mais Um.


A capacidade brasileira de dar a uma trupe de idealistas a “voz” oficial da imprensa nacional nunca chegou a um nível tão baixo.


Se fosse algum decano do jornalismo nacional, que tivesse participado da “luta revolucionária” nos anos sessenta, um romântico nostálgico de seu passado, ainda vá lá. Mas o gajo é um jovem. O seu nome é David Coimbra e é um dos colunistas do jornal Zero Hora.


É mais um daqueles casos em que cronistas esportivos escapam das páginas onde seus achismos são tão inócuos quanto o horóscopo do dia e invadem os espaços até então ocupados pelos cronistas “profissionais”. Coimbra até substitui Luiz Fernando Verissimo.. Agora sabemos por que.


O fato de cronistas esportivos transformarem-se em cronistas do quotidiano é um fato notável. Notável do modo de funcionamento do brasileiro, sobre o qual o futebol ajuda a explicar. Não consigo deixar de pensar que a mania do brasileiro ter opinião sobre tudo o que não conhece – e ter opiniões quase dogmáticas quanto mais o assunto lhe escape aos sentidos – é obra de nossa adoração ao futebol e a sua legião de opinadores-profissionais, que enchem horas e horas de programação diária em nossa rádios, quilômetros em nossos jornais.


O opinador de futebol pode tudo sem ter que nunca prestar contas à realidade. O Brasil tem comentaristas esportivos demais. Fora do seu ambiente.


Faustão foi comentarista esportivo. Galvão Bueno pensa que é um. Paulo Santana acha que é cronista, e assim por diante. E David Coimbra é o mais novo da tropa.


Seu artigo de hoje na Zero Hora (“ As Vejas que eu Vi”) é um monumento à patetice-esquerdista nacional. David deve ter bebido algo (“Às Cervejas que eu Bebi”???) para cometer tal estultice. Pretende com ele fazer o seu “J´accuse” contra Veja, como se fosse o Pedro Collor denunciando seu irmão presidente. De “J´accuse” para “Jacuzzi”: Para isso se vale de uma edição de 1997 de Veja que retrata a o por quê de o mito Guevara estar ressurgindo na década passada. Coimbra explica que prefere aquela realidade a esta, referindo-se à reportagem de capa de Veja desfazendo o mito Guevariano, publicada há semanas.


Que David é alguém que prefira outras realidades, isto é patente. Mas o pior é tentar impingir o seu próprio estrabismo sensorial à revista. À Coimbra parece que “Veja” publicou esta reportagem apenas para mostrar a SUA opinião “editorial” sobre o mito, nada tendo a ver com a “ realidade” que é o “fato” de Che ser um exemplo contra o imperialismo na América Latina.


Que um brasileiro diga isso por aqui e ainda seja impresso em um jornal de grande tiragem como a ZH é sinal de como nossa percepção da história é uma completa piada. A História se repete como farsa? Também, se até mesmo livros didáticos nacionais são forrados de propaganda ideológica, como espantar-se com uma coluna como esta? É óbvio que Coimbra representa o presente. O presente estado do jornalismo brasileiro, formado em instituições em que a norma é a propaganda, não o conhecimento.


Em qualquer outro país seria muito fácil fazer tal opinião cair no ridículo. Fora do Brasil há toneladas de relatos reais sobre o comunismo, Cuba e Che Guevara. Um deles é um documentário com algumas vítimas sobreviventes que contam como era o Che na realidade (“ Che, Anatomia de Un Mito”). Mais dezenas de artigos/livros escritos por pessoas como Álvaro Vargas Llosa, Armando Valladares mostram a verdadeira face do Che.


Mas como o Brasil é o país do carnaval e do futebol vivemos na fantasia temos um séquito de comentaristas de futebol a opinar sobre a “realidade”...



Para terminar reproduzo trecho de entrevista de Álvaro Vargas Llosa para o site da Globo.com:


G1- Ele é visto politicamente ora como um libertador do continente, ora como um assassino. Existe embasamento para assumir alguma dessas visões?
Vargas Llosa –
A afirmação de ele ser um assassino não é uma questão de opinião, mas de fato. Tanto antes da Revolução, em Sierra Maestra, quanto após a conquista de Cuba, Che Guevara participou pessoalmente de várias execuções, e isso está muito bem documentado. Particularmente, apontaria a época em que ele era chefe da fortaleza de La Cabaña, usada como prisão, em Havana. Ele foi responsável por esta prisão por seis meses em 1959, e neste período aconteceu a maior parte das execuções em Cuba. Ele era o presidente da banca judicial de fazia as decisões finais sobre as execuções. Estou falando em centenas de mortes, muito bem documentadas e com a participação dele.

Isso não é algo que ele negasse. Pelo contrário, ele defendia essas ações com o argumento de que a justiça revolucionária deveria seguir um código draconiano, drástico, como única forma de eliminar a possibilidade de contra-revolução. Ele se orgulhava de participar do que chamava de “limpeza” de Cuba. Não há questão de que ele estava envolvido em execuções por motivos políticos, o que só pode ser considerado assassinato.

G1 – O principal biógrafo dele, Jon Lee Anderson, defende essas ações como atos de guerra. O sr. concorda?
Vargas Llosa –
Se aceitarmos este argumento, vamos ter que aceitar que as vítimas de Pinochet também foram vítimas de guerra. O argumento da guerra serve para legitimar a violência da ditadura argentina, quando cerca de 30 mil pessoas desapareceram. Não sei de nenhuma ditadura, de direita ou de esquerda, que não tenha usado o argumento de estar em guerra como desculpa para eliminar seus inimigos políticos.”