Denunciado há anos pelo Olavo de Carvalho, parece que agora sai das sombras - em reportagem extensa - toda a rede de intrigas e de compra de "dossiês" que ajudaram a criar a marca do "Partido da Ética".
Saiu na Zero Hora.
O serviço secreto do PT | |||
HUMBERTO TREZZI | |||
Flagrado prestes a comprar um dossiê antitucano, o serviço secreto do Partido dos Trabalhadores desta vez fracassou. Mas, desde 1989, vinha colhendo uma série de sucessos nos bastidores de disputas presidenciais. |
O dedo deles em escândalos |
1992 |
Missão: derrubar Collor |
Agente: José Dirceu |
Petistas ilustres ajudaram a municiar a imprensa com dicas sobre corrupção no governo Fernando Collor. Parte dos dossiês originou a CPI de PC Farias, tesoureiro de campanha de Collor. Ele acabou condenado por sonegação de impostos, e Collor sofreu impeachment. Entre os que abasteceram a mídia com denúncias, estava um grupo de assessores ligado ao deputado federal José Dirceu (PT-SP). |
1993 |
Missão: derrubar os Anões do Orçamento |
Agente: Waldomiro Diniz |
O serviço de inteligência do PT convenceu o ex-diretor do Senado José Carlos Alves dos Santos a dar entrevista mencionando os nomes dos parlamentares que cobravam propina das empreiteiras para apresentar emendas destinando recursos a grandes obras. Como os parlamentares eram quase todos de baixa estatura, a investigação levou o apelido de CPI dos Anões do Orçamento (na foto acima, a leitura do relatório da CPI). Foi sugerida a cassação de 18 deputados. Destes, seis foram condenados e perderam o mandato, entre eles Ibsen Pinheiro, posteriormente inocentado nos processos criminais. O principal assessor do PT a municiar a mídia foi Waldomiro Diniz. |
2002 |
Missão: afastar suspeitas em Santo André |
Agentes: José Dirceu e Gilberto Carvalho |
O prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), foi seqüestrado, torturado e assassinado. As investigações apontaram para um esquema de cobrança de propina supostamente montado por ele para beneficiar o partido. Petistas que trabalhavam com ele, suspeitos do homicídio, foram grampeados pela Polícia Federal. Sob o comando de José Dirceu e Gilberto Carvalho (ex-secretário do prefeito Celso Daniel e atual chefe de gabinete de Lula), o serviço acionou procuradores para impedir que os conteúdos dos grampos vazassem para a mídia. A Justiça invalidou os grampos. |
1998 |
Missão: examinar o Dossiê Cayman |
Agente: José Dirceu |
Apesar de estar em disputa com o PSDB, o serviço de inteligência do PT ajudou a desarmar uma bomba contra os tucanos. Alertou o candidato Lula de que eram falsos os papéis do Dossiê Cayman e não deveriam ser usados na campanha daquele ano. O dossiê atestava a existência de uma empresa criada em nome de integrantes do PSDB em paraísos fiscais, para envio ilegal de dinheiro. Entre os donos fictícios da empresa estariam o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso e o então ministro da Saúde, José Serra. Perícias mostraram a falsidade dos documentos. |
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2002 |
Missão: neutralizar Garotinho |
Agente: Oswaldo Bargas |
A mando de Oswaldo Bargas (que era da campanha de Lula à reeleição, até o estouro do Dossiê Cuiabá), emissários do PT procuraram o candidato a vice-presidente pelo PSB, Paulo Costa Leite, e tentaram convenê-lo a abandonar a chapa encabeçada pelo governador fluminense Anthony Garotinho, ameaça em potencial à candidatura de Lula. Costa Leite renunciou porque, entre as informações que vazaram sobre ele na campanha, estava a de que integrara o Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão de espionagem do regime militar. |
Missão: neutralizar Ciro |
Agente: Wagner Cinchetto |
Wagner Cinchetto, um dos integrantes do serviço de inteligência do PT, vazou para a imprensa documentos que apontavam a compra superfaturada de uma fazenda e desvio de dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) por parte de Paulo Pereira da Silva, candidato a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes (PPS). O dossiê ajudou a naufragar a candidatura de Paulinho e Ciro. |
Missão: neutralizar José Serra |
Agente: Wagner Cinchetto |
Wagner Cinchetto e o serviço do PT conseguem, com funcionários do Banco do Brasil, documentos sobre supostas irregularidades num empréstimo feito por um parente de José Serra. A papelada resultou numa ação civil pública do Ministério Público contra o responsável pelo empréstimo, Ricardo Sérgio de Oliveira, também caixa de campanha dos tucanos. A mídia foi avisada. Serra, que já estava atrás nas pesquisas, perdeu a eleição para Lula. |
2006 |
Missão: neutralizar os tucanos |
Agentes: Jorge Lorenzetti Oswaldo Bargas |
Chefe do serviço de inteligência da campanha de Lula à reeleição, Jorge Lorenzetti foi o principal articulador da negociação do Dossiê Cuiabá, que tinha informação supostamente comprometedoras para candidatos do PSDB à Presidência e ao governo de São Paulo. Bargas, também da cúpula da campanha, ofereceu o dossiê à revista Época, em uma reunião reservada da qual participou Lorenzetti. |
A sombra de Dirceu | |||
O ex-governador catarinense Esperidião Amin tinha um apelido para o núcleo de inteligência do PT: PTpol, trocadilho da palavra Interpol e da "polícia do PT". Senador à época da CPI do Orçamento, em 1993, Amin achava "fantástica" a rapidez com que José Dirceu apresentava documentos que só um espião poderia conseguir. |
A influência de uma gravação |
Entrevista: Wagner Cinchetto, consultor sindical que integrou o núcleo |
Rompido com o PT e a CUT, o consultor sindical Wagner Cinchetto, 43 anos, conta a Zero Hora como agiu no grupo:
Zero Hora - Em 2002, o senhor gravou uma fita que apontava para contas do deputado Luiz Antônio Medeiros no Exterior. Foi a pedido do PT?
Wagner Cinchetto - Do Oswaldo Bargas e do atual ministro do Trabalho, Luiz Marinho. Eu tinha trabalhado com o Medeiros e gravei uma fita com provas de conta secreta no Exterior que resultaram num enorme dossiê. O pedido de cassação do Medeiros estava pronto. Mas aí conversaram, e ele concordou que o PL fizesse o vice de Lula. O PT votou contra a cassação.
ZH - O presidente Lula sabia?
Cinchetto - Olha, o Bargas era homem forte do Lula, a mulher dele era secretária do presidente.
http://www.clicrbs.com.br/jornais/zerohora/
Porto Alegre, 25 de setembro de 2006. Edição nº 15007
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