Valladares-Brasil:EnCastellano
Brasil: debate eleitoral, política exterior e "inferno" cubano
Me atrevo a pedir ao povo brasileiro, tão afetuoso, bondoso e compassivo, que se manifeste ante seus candidatos presidenciais, solicitando-lhes que o futuro governo atue com firmeza no campo diplomático e humanitário, para contribuir na libertação de 11 milhões de meus irmãos cubanos que na ilha-cárcere continuam seqüestrados em sua própria pátria
*Armando F. Valladares
O jornal brasileiro "Folha de São Paulo" enviou aos candidatos presidenciais um questionário com seis perguntas sobre Cuba comunista. Em sua edição de 6 de agosto pp., esse jornal informou que o presidente Lula, que aspira a reeleição, negou-se a responder por sugestão dos coordenadores de sua campanha. Explica-se que este tenha sido aconselhado a optar pelo silêncio, mesmo quando não se justifique. Com efeito, o delicado tema de quase cinqüenta anos de ditadura, opressão e crimes comunistas, e de atual asfixia de 11 milhões de cubanos indefesos, exigiria incômodas definições do Sr. Lula que poderiam abalar, ao menos em parte, o enigmático, amnésico e anestésico torpor, carente de princípios e ideologias, que parece dominar o debate eleitoral brasileiro no que se refere à política exterior.
Em outubro de 2002, fui objeto da ira do então candidato Lula, quando durante uma entrevista concedida ao jornalista Boris Casoy me qualificou de "picareta", simplesmente porque me atrevi a lembrar em artigos para a imprensa, de uma maneira estritamente objetiva e documentada, o grave compromisso de Lula com o ditador Castro. Ambos fundaram em 1990 o Foro de São Paulo, uma coalizão de partidos e entidades revolucionárias que incluía narco-guerrilheiros colombianos, para rearticular as esquerdas latino-americanas depois da desintegração do império soviético (cf. "Neo-Lula, sugestão coletiva e cubanização" e "Ironias do neo-Lula, nada respondem e confirmam apreensões sobre aliança com Castro e Chávez", Diario Las Américas, Miami, 25 de setembro de 2002 e 11 de outubro de 2002).
Em julho de 2003, enquanto cubano desterrado e ex-preso político durante 22 anos no "Gulag" das Antilhas, me vi na obrigação de consciência de publicar outro artigo no qual mostrava, também de uma maneira objetiva e valendo-me de uma linguagem invariavelmente respeitosa, que o presidente Lula havia se transformado "no maior sustentáculo internacional do regime comunista de Cuba, com todas as graves responsabilidades que isso implica diante do povo cubano e do generoso, cordial e intuitivo povo brasileiro, porém, sobretudo, diante de Deus" (cf. "Cuba: Lula sustenta o 'bloqueio' interno castrista", Diario Las Américas, Miami, 22 de julho de 2003).
Em julho de 2006, o governo brasileiro teve um papel decisivo na brusca esquerdização do Mercosul, cujos mandatários, reunidos na cidade argentina de Córdoba, receberam a Venezuela chavista como membro pleno e assinaram um tratado comercial com Cuba comunista, de grande benefício para esta última. Em começos de agosto pp., a propósito da enfermidade do ditador Castro, o presidente Lula lhe enviou uma cordial e comprometedora mensagem tratando-o de "querido amigo", invocando a "amizade que nos une" e lembrando a "luta conjunta de tantos anos".
No Brasil, figuras representativas da chamada esquerda católica, como o cardeal Arns, Frei Betto e Leonardo Boff chegaram a ver em Cuba "sinais" do Reino de Deus onde, na realidade, o que existe é uma ante-sala do inferno. É esta a realidade que descrevi em minhas memórias de mais de duas décadas de cárcere e torturas contínuas no "Gulag" castrista ("Contra toda a esperança", Plaza & Janés, Barcelona, 1985), cujo texto em português ofereço por e-mail a meus irmãos brasileiros, gratuitamente, bastando escrever para armandovalladares2005@yahoo.es
O povo brasileiro deu muitas mostras de afeto e de compreensão pelo sofrimento do povo cubano. Em 2001, por exemplo, foi decisiva a preocupação da opinião pública, de autoridades e de meios de comunicação desse gigantesco país para que as jovens Sandra Becerra Jova e Anabel Soneira Antigua, literalmente seqüestradas e retidas na ilha contra a vontade de seus pais, profissionais cubanos residentes no Brasil, fossem finalmente libertadas e enviadas a esta nobre e acolhedora terra, para reunir-se com suas respectivas famílias.
Hoje me atrevo a pedir a esse mesmo povo brasileiro, afetuoso, bondoso e compassivo, que se manifeste ante o candidato Lula e ante os demais candidatos presidenciais, solicitando-lhes um compromisso público para que o futuro governo atue com firmeza no campo diplomático e humanitário, de maneira a contribuir para a libertação de 11 milhões de meus irmãos cubanos que na ilha-cárcere continuam seqüestrados em sua própria pátria.
*Armando Valladares, ex-preso político cubano, autor do livro "Contra toda esperança", onde narra 22 anos nas prisões castristas, foi embaixador dos Estados Unidos ante a Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, durante as administrações Reagan e Bush. E-mail: armandovalladares@yahoo.es
Tradução: Graça Salgueiro
Valladares:EnviarLivroContraTodaAEsperanca (envio gratuito, por e-mail, em formato Word, como uma manifestação de apreço do Autor pelo povo brasileiro, e de esperança na ajuda diplomática e humanitária do Brasil para a libertação de Cuba).
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