Tenho recebido milhares de um ou dois e-mails contestando minha crítica
ao que Políbio Braga escreveu sobre o livro de Steve Levitt e de um outro autor chamado “Freakoconomics” onde o aborto é citado como uma das causas (a mais comentada por sinal) da redução da criminalidade nos EUA durante os anos 90.
Minha crítica se valeu muito do que Ann Coulter cita em seu livro “Godless” sobre a politização das ditas causas da redução da criminalidade.
Mas os defensores de Roe vs Wade (o caso que deu origem à decisão da Suprema Corte americana em 1973 liberando o aborto) citam exaustivamente o trabalho sério de Levitt no livro supra-citado.
Não li o livro e isto tem sido o cavalho de batalha desde então.Obtive na internet o trabalho de Steve Levitt intitulado “Understanding Why Crime Fell in the 1990s: Four Factors that Explain the Decline and Six that Do Not”, que parece ser o cerne do argumento exposto no livro.
Nele, Levitt “separa” o que ele acredita que tenha a ver com a queda e os fatores que ele acredita que não.Entreos que ele coloca como os responsáveis estão (na ordem que ele mesmo menciona)Aumento do efetivo policial
- Aumentoda população carcerária
- Término da onda epidêmica do crack
- Legalização do aborto
Boom econômico dos anos 90
- Envelhecimento da população
- Melhoria nas estratégias policiais (efeito "Giuliani")
- Leis proibindo o porte de armas
- Leis permitindo o porte de armas
- Aumento no número de penas de morte
Vejamos:
Dos pontos tidos como responsáveis pela queda, número um e dois são inquestionáveis. Sobre o aumento da população carcerária, eu reproduzo o gráfico do estudo abaixo.O ponto número 3 é duvidoso. Como a onda do crack terminou? Me parece que foi fruto dos pontos 1 e 2 do que um fator “aleatório”: Com mais policiais nas ruas e o aumento da população carcerária, é óbvio que
muitos trraficantes foram tirados de circulação.
O ponto 4 é o menos citado no estudo mais o mais comentado. A liberação do aborto como causa da redução
da criminalidade. Estranhamente sobre este ponto não há nenhum gráfico mostrando por exemplo o número de
abortos ilegais pré e pós 1973. Nada disso. Apenas isso é citado:
“A teoria se baseia em duas premissas 1) crianças não desejadas são mais propensas ao crime e 2) o aborto legalizado leva a uma redução no número de filhos não desejados”
E tome muitos dados sobre a redução no número de crimes contra a criança onde existe o aborto legalizado.
Agora dentre os fatores que “não têm” a ver com a queda ele cita o efeito Giuliani (número três) como
insignificante. Isto é uma mentira deslavada.
“Mesmo depois do sucesso triunfal de Giuliani, democratas negaram seu reconhecimento. Aqueles que não acreditam nunca irão acreditar. Eles começaram dizer que as taxas de criminalidade já estavam caindo durante a gestão de Dinkis (prefeito democrata de NY antes de Giuliani) - como se a
redução de 2.154 mortes em 1991 para 1.995 em 1992 fosse o equivalente à Batalha de Midway. Provavelmente foi erro de totalização”.
Isto é “bias” em sua mais perfeita forma. O que Levitt credita para o aumento extraordinário do número do população carcerária? A falta de crack para traficar fez os criminosos se entregarem? É óbvio que a mudança na
estratégia policial sob Giuliani teve sim um efeito no aumento do número das prisões.
O ponto 5 – a permissão de portar armas não ter peso significativo na redução dos crimes- é outro furo, mas o pior fica por conta do argumento de número seis.
A quatruplicação do número de penas capitais entre os anos 80 e os 90 é citada como um “fraco desestimulante ao crime” pois a longa espera no “corredor da morte” com dezenas de recursos e protelações faz a idéia da morte distante do possível criminoso. Nada é tão falso.
A diferença é brutal! De 117 nos anos 80 para 478 nos anos 90.Pode ser que o tempo passado no corredor da morte seja realmente alto, mas o fato é que se matou quatro vezes mais de criminosos nos anos 90! Será que isso não tem nenhum efeito na mente e nas intenções de um futuro criminoso? É óbvio que sim!
Devo admitir isso mesmo sendo pessoalmente contra a pena de morte.Conclusão:
Levitt no final das contas é um dedicado pregador de sua religião, o esquerdismo politicamente correto.
Tags: steve levitt | polibio braga | pena de morte | Giuliani | freakonomics | Ann Coulter | aborto | Crime
6 comentários:
Prezado Luís Afonso,
Sugiro que reapresente o gráfico com o eixo vertical partindo do zero, e não de cem, como está, para não dar a impressão de que se está usando inadequadamente a estatística (embora isso não seja verdade, pois o número de prisões de fato multiplicou-se).
É que, deixando o gráfico como está, o pessoal da esquerda e/ou pró-aborto vai se concentrar apenas nesse único aspecto do artigo para tentar desmerecê-lo por completo e, talvez, por extensão, ao próprio site.
Fazendo o gráfico partir do zero, o recado continuará sendo dado, pois a diferença continuará retumbante, e os esquerdistas/abortistas não terão como virar as costas à verdade, como gostam de fazer.
Um abraço,
Flávio.
Vim convidá-lo e aos seus leitores para conhecer o Movimento Evolução, apartidário e que tem como objetivos: 1. Criar uma rede de blogs amigos para divulgar idéias sobre educação e conscientização política. 2. Mobilizar blogs, mídia, artistas e outros formadores de opinião em uma campanha permanente pela transparência e coerência na política brasileira. 3. Informar, divulgar e discutir assuntos relacionados à cidadania. 4. Exigir dos nossos representantes, no Congresso, a defesa dos interesses dos cidadãos.
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Obrigada.
beijos e bom domingo
Li o livro Freakonomics e não acho que ele seja de todo ruim, desde que lido mais como uma curiosidade. O ponto relativo ao aborto, certo ou errado sob o ponto de vista econômico, padece de um desvio moral (não necessariamente do autor do livro, mas, talvez, mais de seus leitores) que é o eliminar possíveis criminosos (leia-se: pobres) antes mesmo que eles possam vir a se tornar um mal para a sociedade. O pano de fundo ético de um tal pensamento justifica, em uma instância mais avançada, jogar cianureto na água de todos os pobres do planeta. Se a idéia é eliminar o problema, defender o aborto por (um dos) seus efeitos possíveis ou prováveis é mera hipocrisia. Que se defendesse, portanto, uma chacina global censitária, baseada na renda individual ou familiar. No fundo, o exemplo de Freakonomics é um favor para quem defende que existem conceitos além da planilha.
Abs.
Pablo Henrique
P.S.: Não sei porque o blogger não está colocando meu nome
Concordo em tudo, mas a escala do gráfico foi um deslize mesmo...
Prezado Luís Afonso,
referi-me, acima, à escala do segundo gráfico ("Pena de Morte nos EUA).
Abraços, Flávio.
Excelente post.
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