terça-feira, setembro 13, 2005

Confissões de uma mente conservadora

As aparências enganam. E quanto mais vivemos de aparências maior este engano. Despir-se das aparências e encontrar o que há de realidade embaixo do aparente é a raiz do pensamento conservador. Isto significa a existência de um significado em todas as coisas, especialmente ao homem e sua trajetória no mundo.

Puxar este fio de entendimentos é o caminho para o entendimento desta realidade.

A realidade ou a verdade é um caminho estreito e difícil de percorrer. Mas ele está lá independente de nossa vontade. E percorrer este caminho é a grande aventura, a grande busca da própria existência.


Não sei absolutamente qual o caminho traçado por outros nesta busca, mas meu trajeto até aqui se baseou muito mais em percepções, intuições tão primitivas quanto poderosas sobre a existência de uma estrutura de realidade real – que independe do ser humano para existir – e que foram depois lapidadas por estudos mais profundos. Estas percepções vêm desde a minha infância.


E elas vêm furiosamente à minha mente, como o coice furioso de algum cavalo selvagem ou como a tragada de um cigarro muito forte. Pequenas mas poderosas percepções, que depois são lapidadas pelo estudo em pedacinhos de azulejo a formar o meu próprio caminho.

Mas seguir esta seqüência não é fácil.

O mundo ao redor – tenho experimentado isso muitas vezes, seja no grupo de amigos, de familiares ou mesmo no trabalho – não percebe isto como uma verdadeira busca, mas sim como expressão de simples preferência pessoal, um capricho intelectual incompreensível. Uma espécie de masoquismo ideológico. Sim, somos vistos como um exército vitoriano brancaleone.

Mas decifrar a realidade, esta pedra de Rosetta filosofal, não é como fechar as páginas de um livro a hora que mais lhe aprouver, dar uma pausa para ver a novela das oito e voltar à carga logo depois- como se estivesse tudo normal.

Conhecer a realidade, por menor que ela seja impõe-nos um dever intelectual a princípio, moral ao final de não poder mais virar a face à ela. É ter compromisso com esta verdade para a toda a sua vida a partir daquele ponto.

Isto nos coloca irremediavelmente fora do mundo. Pelo menos deste mundo que me rodeia: América Latina-Brasil. Não sei como seria viver em outro mundo mas viver aqui é provar com algum grau de certeza como teria sido a vida de Loth em Sodoma e Gomorra. É o lobo da Estepe Hessiano uivando à distância contra toda esta mediocridade vivencial presente.


O mundo nos percebe de uma forma completamente enviasada. Meus detratores, alguns bem próximos, ao invés de escolherem a luta aberta, preferem muitas vezes agir como 'snipers', disparando tiros certeiros à grande distância. O argumento preferido destes é rotular-me como "radical".


Radical mesmo é minha intenção de – sabendo pelo menos um naco do que é realidade – tentar passar este conhecimento adiante. Tudo em vão. Aí o manto da "radicalidade" cobre tudo. E não há mais diálogo possível.

Mas tudo bem. Uma verdade apreendida ainda assim é uma realidade. Mesmo que outras pessoas não tenham a capacidade de absorvê-las ou mesmo que eu não tenha a plena capacidade de defendê-las.


A responsabilidade moral para com a verdade é muito maior do que simples racionalizações dialéticas, ás vezes é um fardo pesado. Tentar viver sob as regras daquilo que se acredita pode ser muito, muito doloroso.

Descobrir subitamente que durante quase toda a sua vida não fostes mais do que uma criança, acreditando em sonhos desvairados que nunca poderiam ser mesmo reais é brutal, num primeiro momento. Depois disso, tentar cuidadosamente tentar descobrir quais outros aspectos de sua vida são mesmo reais ou apenas imagens projetadas pela sua mente, isto é , tentar saber em que extensão a sua vida foi construída por alicerces sólidos ou não, pode ser mais doloroso ainda. Pode não sobrar muito mais deste ataque tipo furacão Katrina da realidade sobre estes frágeis sonhos-de-vida.

Mas mesmo que sobre pouco, ainda assim é melhor do que viver no engano, na irrealidade.

Muitas vezes a vontade de voltar ao tempo em que tudo estava (aparentemente) bem, de fechar a caixa de Pandora, de restabelecer a sensação de segurança vazia, acontece.

Muitos dizem que os idiotas são mais felizes. Seguramente os idiotas são aparentemente mais felizes na sua ignorância – muitas vezes travestida de sabedoria afetada da realidade.

Não temos o direito de olhar para trás, de retornar ao útero materno, de dar um "desfazer" em nossas percepções. Mas como seguir em frente quando o que se descortina é uma aparente fuga de qualquer vestígio de felicidade?

A resposta ainda estou a buscar, mas descobri um autor que me ajudou a ter a exata percepção destas coisas. Quero dividir com vocês.

Trecho de Huberto Rhoden sobre Spinoza em "A Filosofia Contemporânea - volume II" página 70:


" Spinoza, disse Renan, teve de Deus a mais profunda visão que já veio ao homem. (Note-se esse 'veio', indicando uma revelação do além!) O conhecimento do homem, em todos os setores, esbarra constantemente com as grades da gaiola de sua finitude humana; pouco importa que essas grades sejam de ferro ou de ouro – elas são grades duma prisão, e ninguém pode sentir-se realmente feliz como prisionmeiro, nem mesmo num palácio de ouro.

Os que, nessa gaiola da sua finitude, se sentem felizes, como dizem, devem a sua 'felicidade' à sua ignorância. São incapazes de sentir a sua infelicidade; ou então se habituaram a tal ponto a essa condição de prisioneiros e criaram dentro de si tamanha obtusidade austera, como os hebreus do Êxodo do Egito usspiravam , em pleno deserto , pelas panelas de carne e cebolas da terra da escravidão. Um canário habituado à gaiola, com sua ração diária de alpista e seu poleiro seguro, acaba por ter as asas atrofiadas e perder as saudades da sua verdadeira pátria, a vastíssima liberdade da natureza.


O mais infeliz dos infelizes é aquele que perdeu o senso da felicidade e equipara a sua pseudofelicidade à verdadeira felicidade.
Sentir a sua infelicidade é uma grande felicidade, porque é uma porta aberta para a libertação e o princípio da redenção.

Há homens insconscientemente infelizes.

Há homens conscientemente infelizes.

E há homens conscientemente felizes.

Só estes últimos é que são real e solidamente felizes, porque não se acham em vésperas de novas infelicidades, como os outros.

A felicidade só pode ter por alicerce a liberdade, e a liberdade é a filha da verdade. Logicamente, só pode ser real e definitivamente feliz quem conhece a verdade, a verdade vivida e saboreada experiencialmente."

7 comentários:

Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Essa não! A olavete está pensando que é filósofa, mas o resultado é patético...

Luís afonso disse...

Eles não TEM nome!! Esta é a questão. São tão anônimos na internet quanto o são consigo mesmos: nenhuma identidade própria. Os comentariozinhos aqui servem para uma espécie de pichação virtual. "Viu mãe? Fui eu que fiz!!"

Anônimo disse...

Muito bom o texto, Luís!

Parabéns!

Só temos que achar um jeito de passar o laço nessa galera covarde!

Abs

LC

Anônimo disse...

Sensacional. O mito da caverna, do Platão, é o Brasil. Nós vemos sombras distorcidas da realidade, nada mais. E muitos dos que conseguirem ver a realidade preferirão voltar ao mundo de smbras...
Abraço.

Roberto Iza Valdés disse...
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