"My name is Jefferson, Bob Jefferson (not Thomas Jefferson)".
Lendo os artigos de Olavo de Carvalho ("Tristeza Pura" ) e de Sandro Guidalli para o MSM temos muito o que pensar.
O primeiro é um tapa-na-cara em nossa síndrome maníaco-depressiva de achar que qualquer escorregadela ocasional do PT pode se tornar o seu Nêmesis – e levá-lo a ser derrotado fragorosamente - ou ser a senha para a face obscura do PT voltar a se erguer, como o Anakin Skywalker finalmente se rendendo a Darth Vader, coroando de significado aquela imagem do Dirceu voltando ao congresso nos braços dos "movimentos sociais". Um Lenin redivivo voltando à Estação Finlândia.
Nem uma nem outra: A teoria de que temos de comemorar os feitos do "inimigo do nosso inimigo" não é nem um pouco sólida pois não sabemos se Jefferson pode ser considerado um realmente um "inimigo" do Planalto ou está simplesmente negociando um resgate maior.
Inegável é que o "affaire" mensalão pode ainda servir aos propósitos do PT, em aprofundando o clamor popular por um "salvador da pátria", por exemplo. Como este discurso é caro ao PT, fabricado cuidadosamente durante décadas, esta estratégia lhe dá vantagem natural. E quem poderia ser o "salvador" ? Ele mesmo ou de outro partido ungido por ele – como o PSOL – que invista no modelito. Ou seja: o PT pode se transmutar em outro PT mais puro, ético e "revolucionário" ainda. Um revolucionário de butique, na verdade, para manter acesa a chama do eleitorado e dos militantes mais radicais.
Então o outro lado, o "revolucionário" não existe? Não. A esquerda nacional – pelo menos a cúpula – já perdeu a crença no socialismo há décadas – mas não deseja que seus militantes o saibam. As vitórias eleitorais são fruto direto de uma militância idealista e aguerrida. Mas a cúpula – do PT e de todos os outros partidos ditos "revolucionários" – sabem que o capitalismo é o único sistema econômico coerente. A esquerda sabe disso mas tem de manter as palavras de ordem e as antigas bandeiras vivas pois não tem sobrevida eleteitoral após isso – vejam o que aconteceu ao PPS, por exemplo. Isto torna claro o caráter lúdico da volta de Dirceu ao congresso sob os aplausos dos seus movimentos sociais. Tudo encenação para manter a motivação da militância. Os únicos que acreditam nisso são os eleitores/militantes. E o MST...
Quanto à estratégia do Foro de São Paulo ser contrariada pelo atual governo, cabe uma boa análise: se de todas as resoluções do Foro – que são mais de dezena – apenas uma e somente UMA está sendo adiada por sua franquia local – o partido dos trabalhadores – isto não quer dizer que o governo brasileiro esteja rompendo com o Foro. Significa que o assunto "Foro" tem sido objeto de diversas reportagens mais abrangentes e que talvez não seja de bom alvitre lançar uma nova fase do plano em meio a tal confusão. Manter-se à direita de Chavez no contexto da América Latina é preciso, e para isso, pode-se atrasar algumas ações, estrategicamente, de modo a esperar por um momento mais adequado.
Ou seja: ficamos exatamente onde estamos. Mas isto não quer dizer que estamos seguros. Estabilidade num momento de quase guerra civil (hoje se mata mais no Brasil do que no Iraque, dizem as estatísticas), controle absoluto da sociedade e cultura pelo partido único (que se aparenta pluripartidário nas encenações que são nossas eleições) através do uso intensivo de tática gramsciana há mais de quinze anos, só quer dizer uma coisa: é a condenação à morte de milhões pela completa inoperância da iniciativa privada de um lado e da estrutura governamental de outro. O pior de dois mundos.
Como uma célebre frase do jogador Paulo Nunes – confundindo completamente o sentido original do ditado popular – "perdemos a guerra mas não a batalha". Mesmo assim, estas "batalhas" merecem alguma atenção.
Mesmo que tudo esteja perdido, que o Brasil tenha irremediavelmente tomado o rumo da insignificância mundial, que sejamos apenas um pequeno grupo de insatisfeitos perdidos no meio de uma multidão de imbecis lobotomizados e que não façamos muita diferença no final das contas, não deixa de ser prazeroso testemunhar que estas pequenas escaramuças entre criatura e criador tiveram o resultado de levar alguma verdade às primeiras páginas dos jornais ou à TV. Ao vivo.
LA
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