No artigo anterior mostrei algumas das informações que são sistemática e cuidadosamente escondidas de nossa população. Infelizmente, isto não é exceção. E a chave para entender isso é o fato de que a classe jornalística em nosso país tem um longo histórico de serviços à causa esquerdista – seja qual o matiz ideológico. E a afinidade ideológica não explica todos os casos. Muitas vezes os jornalistas simplesmente entregavam o que o “patrão” demandava.
Do texto anterior, me permitam repetir dois trechos fundamentais:
“Na época, a inteligência tcheca tinha numerosos jornalistas à sua disposição na América Latina”. - Ladislav Bittmann - The KGB and Soviet Disinformation: an Insider’s View
“O serviço de inteligência tcheco tinha canais jornalísticos qualificados à sua disposição na América Latina. Ele influenciava ideologicamente e financeiramente muitos jornais no Uruguai e no México, e mesmo possuía seu próprio jornal político no Brasil até abril de 1964”. - Ladislav Bittmann - The Deception Game
Ou seja: além da ideologia, existia o “ouro de Moscou” a incentivar os arroubos do jornalismo “imparcial” no país.
No Brasil dos dias de hoje, há quem ainda acredite que os meios de comunicação prestam um serviço honesto para construir a “cidadania” em nosso país. A idéia é totalmente ingênua, pois há mais de quarenta anos parte dos serviços do jornalismo “combativo” e “independente” do país são financiados por organizações tão desinteressadas como a KGB, Inteligência Tcheca e até as FARC, mais recentemente.
Mas, como desvendar as ligações perigosas entre o jornalismo “combativo” e o “ouro de Moscou”? Infelizmente existem poucas pistas a seguir. Há fontes de primeira como os Arquivos de Moscou que infelizmente estão fechados no momento. Só para citar a riqueza desta fonte, foi lá que o jornalista William Waack pesquisou as informações contidas no livro “Camaradas” (onde se confirmou que Olga Benário era de fato uma espiã comunista), por exemplo.
Resta o registro de ex-espiões como o próprio Ladislav, citado anteriormente, ou de um Anatolyi Golitsyn – este em seu livro, “New Lies For Old”, cita o caso de um um diplomata brasileiro (“Pedro”) cooptado pelo agente soviético Viktor Zegal em Helsinque, Finlândia em 1961. (página 290)
O problema é que o Brasil é citado apenas de passagem no relato destes ex-espiões. Então, estes livros servem apenas como ponto inicial para uma investigação mais detalhada. E para completar a tarefa é imperativo um contato com estas fontes qualificadas. Foi o que fiz.
Me interessei muito em manter contato com Ladislav para obter mais informações sobre o “affair” brasileiro – a Operação Thomas Mann e sobre os jornais ou jornalistas controlados pela inteligência Tcheca e soviética no Brasil.
Antes de prosseguir, permitam-me um pequeno resumo do autor: Ladislav Bittmann- cidadão tcheco - foi chefe de operações durante parte dos 15 anos em que trabalhou no “Departamento D” da inteligência Tcheca. A especialidade do departamento era criar operações fraudulentas de desinformação, black propaganda e operações de influência contra o inimigo número um do mundo comunista, os Estados Unidos. Ladislav desertou para os Estados Unidos em 1968, pouco depois da invasão soviética em seu país, que acabou com a “Primavera de Praga”.
Em minha jornada atrás de um contato com Bittmann, descobri que ele trocou de nome (para fugir da pena de morte imposta pelos seus conterrâneos em função de sua deserção) e, depois de ensinar durante muitos anos as técnicas de desinformação que tomou parte, aposentou-se, dedicando-se ao hobby da pintura. Depois de alguns contatos iniciais, e muitas negativas da parte do ex-agente tcheco, ele finalmente entrega o ouro:
LA - “Prezado Bittmann, a única informação que necessito saber é: qual era o nome do jornal controlado pela KGB/Inteligência Tcheca no Brasil, citado em seu livro 'KGB....' dentro da 'Operação Thomas Mann' e que foi fechado logo no início do regime militar, em abril de 1964? Era o jornal “O Semanario”?
Bitmann: “Prezado Alfonso (sic), como mencionei anteriormente, tudo que sei sobre o envolvimento do bloco soviético no Brasil foi incluído no livro 'Deception Game'. SIM, O JORNAL ERA 'O SEMANARIO'”.
Finalmente uma informação qualificada!
Mas, afinal, que jornal era “O Semanario”?
Os que pensavam se tratar de algum jornal panfletário, totalmente identificado com o socialismo, erraram. A inteligência Tcheca não iria financiar um jornal tão abertamente aliado às suas causas. Para fazer a diferença e realmente valer a pena, o meio de propagação de desinformação tinha de ter uma reputação acima de qualquer suspeita. Era exatamente o caso.
O “Semanário” era conhecido e respeitado como um veículo “nacionalista”. Ou seja, um jornal que defendia o interesse nacional acima de tudo.
Leiam esta transcrição do site da Fundação Getúlio Vargas sobre a imprensa da época (http://www.cpdoc.fgv.br/nav_jk/htm/O_Brasil_de_JK/Imprensa.asp) :
“A década de 1950 conheceu uma vigorosa imprensa nacionalista, devido, em parte, ao fato de que os jornais de maior circulação e prestígio, os do eixo Rio-São Paulo, não abriam espaço para a divulgação das posições nacionalistas, pois defendiam teses favoráveis à participação de capitais estrangeiros no desenvolvimento industrial do país. Para romper as dificuldades de divulgação de suas idéias, os nacionalistas criaram pequenos jornais, em geral tablóides semanais. O jornal nacionalista ‘O Semanário’ começou a circular no início do governo JK, em abril de 1956, mas sua viabilidade dependia da solidariedade militar, principalmente do Exército”.
Era estranho saber que os comunistas financiavam o jornal mas era noticiado que o Exército era quem bancava a sua “viabilidade”. Que prodígio de desinformação!
A partir do conhecimento de seus verdadeiros patrões, fica fácil entender outros “fatos” narrados pelo jornal (http://www.espacoacademico.com.br/034/34ebandeira.htm):
“No princípio de 1963, ‘O Semanário’ revelou que mais de 5.000 militares norte-americanos, "fantasiados de civis", desenvolviam, no Nordeste, intenso trabalho de espionagem e desagregação do Brasil, para dividir o território nacional”.
Esta informação é chave para confirmar a farsa da participação americana no “golpe” de 1964, criada posteriormente.
Estes fatos colocam em cheque a versão de que a imprensa “nacionalista” era ideologicamente neutra e lutava pelos interesses do Brasil. Então, se analisarmos em perspectiva, tínhamos na época de um lado a imprensa ferozmente socialista, e do outro, a imprensa “nacionalista”. No fundo financiados pelos mesmos “patrões”.
O paralelo entre aquela época e a nossa é alarmante: se naquele tempo, o fato de uma organização como a KGB ou seus coligados financiarem jornalistas ou até mesmo jornais em nosso país era cuidadosamente escondido, hoje em dia, por mais que fatos assim sejam revelados não há a mínima reação por parte de nossa classe política, nem de opinião pública.
A capacidade do brasileiro se indignar ou reagir é diretamente proporcional aos valores monetários envolvidos. Enquanto isso, a célebre frase de Den Xiao Ping adquire o seu real significado: “Não importa a cor do gato, contanto que cace os ratos”.
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