sexta-feira, janeiro 07, 2005

Luísa: 6 anos depois




Seis longos anos se passaram entre a primeira imagem e a segunda. E estes seis anos de experiência como pai me levaram a uma reflexão:
O que seria a vida das pessoas sem a experiência da paternidade?

Encontro muitos amigos ou conhecidos que decretam, no auge da sua juventude, que nunca irão ter filhos. Alguns vão mais adiante, dizendo que nem mesmo irão casar.

Acho tudo muito divertido, a princípio, pois estas opiniões coincidem com as de minha filha Luísa a respeito. Lulu fala que não vai casar, que não quer ter filhos e tudo mais. Para logo em seguida dizer que gostaria de uma "irmãzinha"...
Mas ela tem uma vida toda pela frente e a perspectiva sobre maternidade de uma criança de 6 anos é completamente diferente de um adulto.
Aos seis anos estamos muito preocupados com nosso bem estar imediato, colocando em primeiríssimo lugar como prioridades do dia-a-dia a aversão a qualquer tipo de dor ou mal estar. Por exemplo: estou há dias tentando convencê-la a me deixar arrancar seu segundo dente-de-leite, prestes a cair, sem o mínimo de resultado. "Vai doer papai!!" é o veredito final. Nem a fada dos dentes conseguiu me ajudar nesta empreitada...

Voltando ao ponto: me parece que a preocupação da juventude com seu próprio bem estar imediato é muito semelhante a uma criança de 6 anos. Quando vejo jovens cada vez mais preocupados com seu próprio corpo, com detalhes de sua aparência tomando cada vez mais tempo e atenção de suas vidas, não posso deixar de observar que para esta juventude hedonista, o corpo - seu e dos outros - tomaram o lugar das brincadeiras e folguedos infantis.

Nesta visão a maternidade/paternidade é por definição "deformadora": a mulher deixará de ter a sua aparência usual que poderá retornar ou não. O homem por seu turno deixa de ter o grau de liberdade desejado.

Outra fonte é o próprio trabalho: atualmente a preocupação com uma carreira, um "lugar ao sol" faz com que muitos casais prolonguem, se não eliminem o universo paternal de suas vidas.

Ficamos então entre dois fogos: os muito jovens (ou com cabeça de) não pensam em filhos e evitam a todo o custo a maternidade (mas não a sexualidade, o que torna a opção de não-maternidade abortiva, em minha opinião) já os casados acabam evitando a experiência da paternidade por motivos mercadológicos.

De qualquer forma é uma experiência fascinante. Tenho aprendido muito com a Lulu. O aprendizado que um filho proporciona é tremendo. Para ambas as partes.

O que eu aprendi:
PACIÊNCIA! Acho que é o maior aprendizado que os pais podem obter com seus filhos. O mundo agitado de hoje, a ansiedade de ver resultados rápidos, tudo isso fica em segundo plano no relacionamento pai-filho. Pensar duas, três vezes antes de agir é fundamental.

CONSISTÊNCIA. Este foi mais doloroso. Se tu dizes que vai fazer alguma coisa, tomar uma atitude se a criança desobedecer tu terás que fazê-lo. Então muito cuidado com que vais falar. Pesar muito o tipo de reação prometida. Isto é fundamental. O pior para a criança é os pais dizerem que vai acontecer determinada coisa, dependente do comportamento, e ela não acontecer, não importando o que ela tenha feito.

PAI É PAI. AMIGO É AMIGO. Nunca pensei em ser "amigo" de minha filha. A tarefa que me foi designada por Deus foi a de pai. Pais tem atribuições muito mais dolorosas para com o filho do que um amigo apenas. De uma certa maneira o amigo é como o consultor de empresas. Te dizes o melhor caminho , mas a decisão é sua. Pais não podem agir como "consultores de comportamento" de seus filhos. Educar muitas vezes quer dizer que os pais sabem muito bem como o filho tem de agir em determinada situação e eles não tem de entender todas as razões dos seus pais para agirem de determinada maneira. O diálogo é importante, mas existem coisas e razões dos pais que são "inexplicáveis" para garotinhas de seis anos.

TEMPO. Ninguém consegue ser pai, mãe ou qualquer coisa importante para a criança não dedicando tempo para estar ao seu lado. A experiência de compartilhar o crescimento do seu filho é fundamental. Talvez esteja colocando em alguma medida a necessidade dos próprios pais estarem ao lado dos filhos muito mais do que a necessidade deles estarem com seus pais, mas não dá para delegar a tarefa de paternidade. Pode-se dizer que os pais não precisam estar o tempo todo ao lado dos filhos, somente nos mais importantes. OK, mas quais serão os momentos importantes?? No mundo atarefado de hoje muitos pais - eu mesmo também - acabam querendo compensar a falta de tempo ou disposição com presentes: é necessário evitar isso. Fazer as crianças começar a vê-lo como um Papai Noel ao invés de um simples Pai pode gerar consequências desastrosas.

DIZER NÃO. Este é fundamental. Se não é não, então a resposta é "não". Crianças devem enfrentar as negativas, as frustrações de não ter todos os seus desejos atendidos o tempo todo . Nossa vida não é assim, por quê então criar um mundo virtual?

BRINCAR. Ter tempo, mas não participar do que ela gosta de fazer pode ser desanimador para a criança. Tive estes insights quando levava Luísa religiosamente ao supermercado no fim de semama. Ela achava ótimo, um programa divertido até, mas acabava sendo o único programa infantil do dia. Criança tem de brincar como criança e se possível acompanhe-a nisso. Depois ela pode te ajudar nas outras tarefas do dia a dia...


Ih! Isto aqui acabou parecendo um manual de auto-ajuda...
O objetivo não era isso.
Era só agradecer a Deus a vinda de minha filha Luísa que nesses seis anos (completados ontem) tem me ensinado muito mais coisas do que eu provavelmente ensinei a ela.

Feliz Aniversário Luísa!!

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