quinta-feira, janeiro 06, 2005
Breves pinceladas sobre uma coisa chamada "amor"
Às vezes só se pode comentar sobre um assunto a uma distância segura do mesmo. Se este assunto é o amor então, não dá para - estando à beira da praia - achar-se seguro o bastante para arriscar-se nesta seara. Ondas de 20 metros poderão varrer a praia de modo avassalador, jogando por terra toda e qualquer sensação de segurança do provável observador.
Mas aqui estou, sem colete salva vidas e sem protetor solar a provar que os tolos sempre fazem o menos provável. Ou seguro.
Bem, afinal das contas o que é o "amor"?
É o produto mais procurado do mercado das emoções, o mais comprado, mas também o mais subavaliado por seus vorazes consumidores...
Devo desapontar aos poetas, principalmente ao nosso "poetinha", que dizia que o "amor é eterno enquanto dure". Esta frase talvez seja a maior falácia sentimental que alguém possa acreditar pois em minha avaliação ela tem uma incrível semelhança com aquela outra de Andy Warlhol que dizia que no futuro todos seriam famosos....Por quinze minutos. O que Vinícius de Moraes prega é uma espécie de celebração amorosa "eterna" em seus quinze minutos de fama....
Isto não pode ser amor. Não pode haver num ciclo curto de tempo chance alguma do verdadeiro amor florescer. O giro necessário para que ele se revele em sua plenitude passa muito longe do ciclo das paixões avassaladoras. É preciso que a paixão ardente e cega se acomode para que o verdadeiro amor possa então requisitar seu lugar de direito em nossas vidas.
É nestas horas em que se percebe a diferença entre o menino e o homem e da menina e a mulher.
Como disse, o amar vem depois da paixão, vem depois do "tsunami" dos sentidos. É quando o homem e a mulher se descobrem - vitimados por tal maremotos - rotos, nus e solitários em uma praia deserta, não tendo mais nenhum lugar para ir ou para se esconder. Não há mais escolhas nem fugas. É quando tem de olhar um ao outro nos olhos, sem disfarces e decidir a transformarem-se de amantes em amigos, companheiros, confidentes e ...amantes. O homem e a mulher foram feitos para serem "uma só carne" e este é o momento crucial desta decisão.
O que isto significa?
Em uma certa dose, significa a perda de parte de sua identidade individual e grupal para dentro de outra, nova identidade. O homem e a mulher devem abandonar suas familias, seus pais, seus irmãos e até mesmo seus amigos em um determinado grau e assumir uma nova postura perante a vida .
Não, não quero dizer que o casal deve se isolar do mundo, mas quero dizer que haverá uma nova identidade para o homem-mulher perante o mundo.
É o momento em que o homem e a mulher deixam de ser seres-metade (como explicava Platão em "O Banquete") para serem novamente seres completos. Mas isto custa-nos demasiado. E tem de ser de parte a parte.
É neste momento crucial que se definem as diferenças que apontei lá encima.
Muitos garotos correm assustados dessa hora da verdade, voltando à segurança da casa paterna como um guri que quebrou a vidraça da vizinha.
E muitas e muitas mulheres desistem.
Para conhecermos esta coisa chamada amor não há escapatória senão uma entrega incondicional. E devemos estar prontos para isso, pois significa muito mais um "se doar" do que efetivamente receber ou ganhar de outrem.
O problema é que às vezes quando tu pensas que estavas nesta experiência de modo definitivo - "para valer" - o outro lado estava apenas brincando de casinha, e sai, procurando por outro brinquedo mais interessante. Aí nos perguntamos "Vale a pena?".
Não sei mas é esta uma de nossas missões como seres humanos.
A chave, como dizia Valter Franco é que "tudo é uma questão de manter a linha reta, a espinha ereta e o coração tranquilo". Às vezes parece que fraquejamos ou desistimos, e nossa disposição acaba num meia disposição, num olhar meio de otimimismo-bittersweet ou um romantismo-pé-no-chão.
Apesar de tudo a espera (ou esperança) é fundamental...
Enquanto isso
"Smile though your heart is aching
Smile even though it's breaking
When there are clouds in the sky, you'll get by
If you smile through your fear and sorrow
Smile and maybe tomorrow
You'll see the sun come shining through for yousmile" (Chaplin/ Turner/Parsons)
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