Uma das facetas menos visíveis da escassez de cultura que assola o paísís vem de onde ela deveria ou parecia florescer: o empresariado.
Se alguém olhar em qualquer lista dos mais vendidos não-ficção vai encontrar diversos exemplares de livros sobre gerenciamento empresarial. Em nossas empresas é muito comum que as "modas" de gerenciamento "varram" de modo quase que totalitário as salas dos gerentes e diretores das empresas brasileiras, como um pensamento único. Se fala em "reengenharia", "cinco-S", "teoria da restrições", "sincronização" como palavras de ordem num tom quase político-ideológico.
Mas tenho notado que o interesse em conhecer novas técnicas de gerenciamento é inversamente proporcional a nossa capacidade de implementá-las. Aquela mesma premissa - a da falta de cultura e educação, que fez de nossos estudantes os piores do mundo em recente competição mundial - pesa na hora de alavancar a competitividade do setor privado.
Esta incapacidade em absorver o mínimonecessárioo de novos conceitos para sua correta implementação afeta não só as empresas, mas as empresas que as primeiras recorrem para ajudar na implementação destes conceitos: os consultores empresariais. No fim das contas, tudo que se escreve pelos Michael Porters, Drucker, etc.. acaba sendo simplificado até a um esqueleto básico de vagos conceitos, receitas "infalíveis" e resultados duvidosos.
Isto não é problema se o que a empresa busca é uma certificação qualquer. O objetivo visível é alcançado ( o tal certificado) mas não o objetivo que aquele primeiro simboliza. Em resumo, as empresas nacionais se satisfazem com os signos mas não com seus reais significados.
Tudo isso seria um sério problema em empresas com real interesse em aumentar sua capacidade gerencial e portanto em sua capacidade de resolver problemas e interagir em um mundo cada vez mais interdependente. Mas não é problema para a maioria das empresas nacionais. Seus reais interesses residem em outras esferas.
As empresas nacionais são organizações que passam mais da metade do tempo tentando achar um meio de pagar menos impostos, sendo o restante ocupado pelos jogos de poder.
Para que perder tempo com atividades estressantes de "estudar" novos conceitos e formas de gerenciamento? Se for para ganhar mercado tudo bem, se "faz de conta" até se obter o que se deseja. E se volta às tarefas habituais logo em seguida...
O resultado disto tudo é previsível : milhões de reais são desperdiçados em ações e programas tão sem resultado que se fosse em uma empresa normal, o responsável por elas seria sumariamente demitido. Como por aqui quem banca é o próprio presidente a coisa muda de figura.
Apesar de tudo esta simulação de modernidade tem um lado bom: existem pessoas que acabam acreditando nisso tudo e aprendendo. Mesmo que saiam da empresa, vão levar um conhecimento de classe internacional consigo, o que vai valorizar o seu próprio trabalho.
Mas existe uma ameaça no horizonte, até mesmo para esta busca cosmética de competividade: a "responsabilidade social". Como este tema virou moda, não há revista empresarial, indicador de performance que não inclua hoje algum índice de "responsabilidade social".
Enquanto deveriam estar pensando em garantir efetivamente a sobrevivência da empresa e o emprego para seus funcionários, os empresários se dedicam cada vez mais a atividades inócuas de algum tipo de apadrinhamento, esquecendo suas vocações básicas. O pior que isto serve para fixar ainda mais a imagem de culpado que pesa sobre a classe empresarial, afinal não estão dando de graça, mas simplesmente devolvendo o que "roubou" antes...
Em tentando ser mais justo e politicamente correto, o empresário acaba cometendo a maior irresponsabilidade social que lhe é cabível: a falta de gerenciamento empresarial.
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