sexta-feira, setembro 03, 2004

London's Burning


Hoje, depois de mais de 14 anos voltei a ouvir um disco que marcou minha vida: "London Calling" do Clash.
Conheci a obra em 1981, quando entrei na faculdade.
Bueno, sei que eles não passavam de um bando de esquerdistas. Pior, bancando os mais "letrados" da cena punk inglesa. Mas o importante é que atrás da atitude havia música - e versos poderosos. Foram os primeiros a unir o reggae com o punk.

Ouvir The Clash em 1981 era um alívio: música seminal, cantando as dores das vidas das ruas, uma realidade palpável. Bem distante dos "platinum disks" colecionados pelos medalhões do rock de então , como Rod Stewart e os Eagles que cantavam as delícias de ser...bem, um rock star...

Por aqui a coisa era pior ainda: ouvir Chico Buarque e Ivan Lins em mais uma metáfora rebuscada sobre ditadura ("não lavei as mãos / é por isso que eu me sinto / cada vez mais limpo" - Ivan Lins) dava no saco. A alternativa era pior ainda ouvir Maria Bethânia em mais um sambolero derramado do Gonzaguinha celebrando as alegrias de ser mulher possuída pelo seu macho era demais..

A questão central era que o punk não tinha letras e ou atitudes que "queriam dizer" alguma coisa: elas simplesmente diziam!!!

Apesar de ter uma conotação totalmente anti-stablishment o punk nasceu de uma campanha de marketing poderosa... Acho que pode ser um exemplo típico de "nihilismo de mercado".

O Clash foi um produto típico deste desvairio: eram cultuados pela comunidade punk original, para serem logo taxados de "vendidos" quando assinaram o seu primeiro contrato para gravar um LP (é o que se dizia na época, folks..). Vá entender... Enquanto isso Malcom McClaren ganhava os tubos com os Sex Pistols (sinceramente, para mim os caras eram muito, muito ruins)..

Tudo isso para dizer que os sentimentos que este disco ainda me trazem são algo poderoso: uma nostalgia irada, uma inquietação nostálgica, lembranças da primeira trepada, angústia adolescente, os anos perdidos sob pilhas de livros (será que foram perdidos?), ouvir "The Card Cheat" enquanto devorava as páginas de "Demian" do meu eterno Hermann Hesse foram momentos de revela~ção marcantes para mim...

A música do Clash trazia os mesmos sentimentos despertados pela literatura de Hesse...

Enfim este é um disco fundamental."When they kick at your front door /How you gonna come? / Put your hands in your head / Or in the trigger of your gun" permanece atual...

Apesar de esquerdistas, meus agradecimentos eternos a Joe Strummer(in memoriam) e Mick Jones.

Nenhum comentário: