Já escrevi alguns artigos tentando desvendar esta entidade, sendo o último "Conservadores ... No Brasil?", em 2008. De lá para cá, algumas percepções e principalmente, algumas leituras me proporcionaram uma visão com mais profundidade e perspectiva do que escrevi em 2008 e que gostaria de compartilhar com meus leitores.
Primeiro um resumo: o liberal-conservador é um ente político-cultural com os pés fincados na tradição (no Brasil seriam o respeito à uma hieraquia de valores que vão do cristianismo e a responsabilidade individual em oposição aos valores coletivistas, com especial ojeriza a processos revolucionários) e com a cabeça econômica voltada aos modelos liberais da Escola de Salamanca, Adam Smith a Mises e Hayek. Muitos alegam que esta criatura nunca existiu em solo nacional, sendo apenas uma fracassada tentativa de tropicalizar o conservadorismo Made in USA.
Estes mesmos críticos "nacionalistas" não conseguem perceber que as teorias revolucionárias é que foram implantadas à força em solo nacional, não o conservadorismo e muito menos o liberalismo econômico.
Nos últimos meses li dois livros que ajudaram-me a refinar esta percepção. Com o primeiro, "1822" de Laurentino Gomes, percebi que os personagens que circundam os acontecimentos relativos à Independência do Brasil não tinham nada a dever aos tão admirados "pais fundadores" dos Estados Unidos, principalmente Dom Pedro I e o "patrono da Independência" José Bonifácio de Andrada e Silva; Com o segundo, "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" de Leandro Narloch, obtive uma comprovação de que o pensamento liberal-conservador é de fato a base da formação do Brasil, por isso mesmo é anterior a qualquer modelo revolucionário importado desde então, seja pela influência da Revolução Francesa seja os ideais comunistas e socialistas que a sucederam. No livro de Narloch há um capítulo chamado "Elogio à Monarquia" que abaixo reproduzo alguns trechos luminares.
Elogio à Monarquia (luisafonso):
"Entre 1822 e 1831, todos os ministros brasileiros que tinham educação superior haviam estudado em Portugal – 72% deles em Coimbra" (..)
"O iluminismo propagado em Coimbra era mais comedido e cauteloso. Os estudantes liam Adam Smith, pai do liberalismo econômico, e Edmund Burke, o pai do conservadorismo britânico – os dois autores foram traduzidos para o português por José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu. Cairu foi o homem que aconselhou D. João VI, quando este chegou à Bahia, a abrir os portos às nações amigas." (..)
"O visconde de Uruguai, que foi deputado, senador, ministro e conselheiro de D. Pedro II, acreditava que era preciso “empregar todos os meios para salvar o país do espírito revolucionário, porque este produz a anarquia e a anarquia destrói, mata a liberdade, a qual somente pode prosperar com a ordem”. (..)
"Criou-se assim um ambiente em que era deselegante e infantil pregar revoluções e reformas radicais. Havia um consenso, mesmo entre os políticos brasileiros de grupos inimigos, que mudanças, se necessárias, deveriam passar por um processo lento e gradual, sem sobressaltos e traumas, garantindo liberdades individuais. “Buscavam mudanças inovadoras, mas ao mesmo tempo queriam conservar o espírito das antigas estruturas econômico-sociais”, explica a historiadora Lúcia Barros Pereira das Neves no livro Corcundas e Constitucionais, outro clássico daquela época.5 No meio do caminho entre as reformas e a necessidade de manter a tradição, esses políticos são chamados hoje de liberais-conservadores." (..)"Desse ponto de vista, a monarquia teve para o século 19 o mesmo papel de ditadura militar no século 20: evitar que baixarias ideológicas instaurassem o caos entre os cidadãos."
Por este trecho percebe-se que o liberal-conservador sim é que é um perfil tradicional na política nacional, mas que foi embaçado pelos aventureiros, revolucionários que adentraram à história do país a partir da proclamação da República.
De um certo modo, ao entrar na "República", abandonamos o modo político verdadeiramente republicano para nos dedicar a selvagens experiências mais o menos revolucionárias, num processo crescente que teve, de tempos em tempos, apenas intervalos de redução em sua velocidade.
É hora, mais do que nunca, dos liberais-conservadores, voltarem ao seu lugar de direito na vida política nacional, lugar que foi lhes tirado ja há muito tempo.
4 comentários:
"É hora, mais do que nunca, dos liberais-conservadores, voltarem ao seu lugar de direito na vida política nacional, lugar que foi lhes tirado ja há muito tempo. "
Infelizmente, digo isso com sinceridade e em tom de lamento, já é muito tarde para isso. Infelizmente, já está tudo dominado. No século XIX, militares brasileiros, que deveriam defender o conservadorismo, deixaram-se seduzir pela loucura do positivismo de Comte, um rematado maluco, que era visto com desdém na França, seu país de origem, e resolveram derrubar o Império, crendo que estavam modernizando o país. Trocaram o governo de um homem honesto e culto, como D. Pedro II, por uma republiqueta bananeira, pontilhada por presidentes ineptos. É claro que isso não poderia dar certo. O positivismo comtiano é uma babaquice sem tamanho. Se os militares brasileiros tivessem estudado Burke, os escolásticos tardios, Richard Cantillon e os economistas austríacos como Carl Menger, o Brasil seria um outro país, desenvolvido, com uma população educada e próspera, com criminalidade baixa, com ordem, com respeito às liberdades individuais e à propriedade, governo reduzido. Mas preferiram a loucura de Comte e abriram a caixa de pandora para os experimentos revolucionários, começando com Getúlio, o ditador que quis fazer do Estado brasileiro o pai de todos os brasileiros. Comte foi o carro abre-alas, o navio quebra-gelo do movimento revolucionário no Brasil.
Depois de Getúlio, os militares tiveram uma chance dourada de se redimir do desastre da implantação da República. A intenção inicial era livrar o país dos extremistas revolucionários e entregar o poder aos civis, com um país pacificado. Castello Branco até que fez um bom trabalho. Mas veio Costa e Silva e as coisas foram por outro caminho. Ainda por cima, houve o levante do terrorismo de esquerda, nas cidades e no campo. Isso fez com que o regime recrudescesse. Vencida a guerrilha em 1973/1974, com os últimos focos sendo eliminados, ao invés de saírem como heróis nacionais, elegeram o socialista fabiano Geisel. Esse aplicou um programa de intervenção estatal como nunca se viu no Brasil. O Estado se agigantou terrivelmente. A dívida externa explodiu para financiar essa loucura estatizante. Chegou-se ao cúmulo de apoiar a intervenção de Cuba em Angola. A cereja no bolo foi a preparação da volta dos esquerdistas por Geisel. O governo Geisel permitiu que os esquerdistas tomassem conta das universidades, da imprensa, da cultura. Era a maldita doutrina da "panela de pressão" de Golbery em ação, o melancia, verde por fora, vermelho por dentro. Golbery achava que a "esquerda moderada" (seja lá o que isso signifique), deveria ser incentivada, para substituir a esquerda revolucionária. Ainda fizeram a burrice de colocar na prisão revolucionários comunistas presos com bandidos comuns (daí surgiu o Comando vermelho e outras porcarias). O pior, deixaram os revolucionários de esquerda mais graúdos voltarem em 79, com a anistia.
Esse foi o tiro de misericórdia. Aí o destino do país foi selado de vez. A Hidra vermelha voltou a ter mil cabeças. Daí para a frente a esquerda deitou e rolou. Hoje manda no governo, na imprensa, nas universidades, nas escolas, nas igrejas, na mídia, nos sindicatos e ainda recebe gordas pensões e indenizações pela "perseguição" do regime de 64. O regime de 64 foi útil para mitificar essa gente, como Lula, Dilma e tantos outros. E os militares? Eles, tiveram grande responsabilidade por esse estado de coisas, ainda não aprenderam a lição e pensam que os norte-americanos são o nosso grande problema, pois acham que aqueles podem invadir a amazônia a qualquer momento. O problema está na cabeça dos militares, que escolheram a doutrina errada para defender. Foi um erro monumental beber nas águas turvas do Comtismo. Isso embotou o cérebro de nossos militares. O positivismo comtiano além de ser uma aberração intelectual, abrindo as porteiras para o intervencionismo estatal, foi o pavimentador do movimento revolucionário no Brasil. Quem leu um pouco de Mises sabe que intervencionismo só pode levar ao totalitarismo. E intervencionismo estatal é uma das palavras de ordem da idiota doutrina de Comte. Hoje, as nossas Forças Armadas viraram Fraquezas desarmadas (metade dos equipamentos da FFAA brasileiras está inutilizado. Só para se ter idéia, da aviação aeronaval, só uma aeronave está em condições de uso) e vivem sendo humilhadas e desprezadas pelos esquerdistas de plantão. Na verdade, os vencedores de ontem são os derrotados de hoje e vice-versa. A miséria moral, a corrupção, a violência, a criminalidade e a indecência campeia. Com bolsa família e bolsa banqueiro, os governantes de plantão procuram agradar a quem tem tostão ou tem milhão, enquanto usufrui todas as regalias, vantagens e benesses do poder, sugando o máximo que pode do setor produtivo, com uma carga tributária astronômica, deixando o país moralmente falido, com uma infra-estrutura caindo aos pedaços.
Para quem quiser saber o estado de penúria de nossas Fraquezas Desarmadas ver http://www1.folha.uol.com.br/poder/887906-metade-dos-equipamentos-das-forcas-armadas-esta-indisponivel.shtml
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http://www.exercito.gov.br/web/imprensa/resenha?p_p_id=arquivonoticias_WAR_arquivonoticiasportlet_INSTANCE_UL0d&p_p_lifecycle=0&p_p_state=maximized&p_p_mode=view&p_p_col_id=column-3&p_p_col_count=1&_arquivonoticias_WAR_arquivonoticiasportlet_INSTANCE_UL0d_journalArticleId=443031&_arquivonoticias_WAR_arquivonoticiasportlet_INSTANCE_UL0d_ano=2011&_arquivonoticias_WAR_arquivonoticiasportlet_INSTANCE_UL0d_mes=3&_arquivonoticias_WAR_arquivonoticiasportlet_INSTANCE_UL0d_dia=13&_arquivonoticias_WAR_arquivonoticiasportlet_INSTANCE_UL0d_struts.portlet.action=%2Fview%2Farquivo!viewJournalArticle&_arquivonoticias_WAR_arquivonoticiasportlet_INSTANCE_UL0d_struts.portlet.mode=view
Luiz Oliveira
Excelente texto. Ficamos um tanto triste, é claro. É como olharmo-nos no espelho. E saber também que não estamos nem perto do fim deste processo revolucionário que nubla nosso presente e futuro. Que a noça moção está sendo levada por malfeitores já há bastante tempo.
Deus nos ilumine!
Caro Luís Afonso,
Aí está um tema para um estudo muito profundo. Reforçando essa ideia exposta, acrescentaria que a independência do Brasil, processo que prefiro chamar de secessão do Reino Unido, foi uma reacção contra as tendências revolucionárias que tomaram conta das Cortes de Lisboa.
Um grande abraço.
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