quarta-feira, dezembro 05, 2007

Dois Em Um: Portugal e Venezuela

Duas idéias sem nenhuma conexão.


Não tenho mais tempo disponível para comentar diariamente o que acontece pelo mundo. Aliás, os milhares de um ou dois leitores do blog já devem ter notado.

O “Nadando” passou nos últimos tempos de repositório de idéias e percepções em primeira pessoa – uma espécie de Quake das idéias – a simples clipping de segunda mão com duas sentenças analíticas...

Mas tudo tinha um sentido...

Estando em uma terra estranha, com gente estranha, tu tens de pelo menos acostumar-se aos novos ares antes de pensar em comentar. Imagine o horror que devem ter sentido os europeus ao depararam-se com os hábitos canibais dos povos do Novo Mundo. Deveriam ter segurado suas críticas até entender seus hábitos. Multiculturalismo é isso aí. Entender os hábitos de costumes dos povos nos seus próprios termos.


Por isso eu nunca comentei de maneira mais analítica o povo português que me rodeia. Mas é hora de sair de casca.


Abaixo um picadinho de idéias.


Portugal


Vivo há quase um ano por aqui. E acho difícil comentar o que me rodeia. É muito estranho ser um comentador de comportamentos quando tu mesmo és o centro das atenções. Brasileiros são sempre um ponto focal de atenção em Portugal. Para o bem ou para o mal sempre há a onipresença brasileira em Portugal. Seja virtual (música – ou qualquer coisa parecida com isso , representados por Ivete Sangalo, Bruno e Marrone, Vanessa da Mata ou algum funk carioca, TV – novelas da globo) ou real (Felipão e as milhares de prostitutas ou as centenas de jogadores de futebol), o Brasil é o prato do dia em Portugal.

Outro dia enviaram-me um artigo de João Pereira Coutinho em que esta quase idolatria brasuca é explícita. O autor chamava os arrotos neo-comunistas da União Européia de intoleráveis (fumar dá multa, além de outros ataques “ intoleráveis” ao livre-arbítrio) enquanto louvava o “paraíso” brasileiro da informalidade e da liberalidade. Concordo com as críticas à União Européia, mas colocar o Brasil como o contraponto é forçar a barra , além de provar que o autor é um Brasil-deslumbrado: Compare os índices de Brasil e Portugal no "Global Peace Index" (10 para Portugal e 83 para o Brasil ) e o número de assassinatos (percentuais, por favor, por que eu já recebi muitos comentários de pessoas achando que, pelo fato de Portugal ser menor do que o Brasil, qualquer argumento baseado em taxas de criminalidade por 100.000 pessoas é automaticamente equivocado. É o triste resultado da educação brasuca).

Pois bem, os sintomas do Brasil-deslumbramento são evidentes por aqui. Concordo que a índole brasileira é em tudo contrastante ao português típico. A sisudez, timidez (aqui no Porto) combinados com uma sinceridade cortante (“grossura”) por vezes chocam os brasileiros por aqui, sempre acostumados com palavras suaves e os boas maneiras acima de tudo. Será que viramos um bando de maricas? Os portugueses, pelo contrário, dizem o que pensam abertamente. Eu acho isso muito divertido. (“Gostaste da salada de frutas?” “Sim” - respondeu uma amiga à garçonete- , para depois ouvir de volta um : “então por quê deixaste tudo no prato?”).


Por outro lado o deslumbramento com a “alegria” e a “espontaneidade” do Brasil é inversamente proporcional ao tratamento que brasileiros de carne e osso recebem por aqui. Não entendo como um povo que consome tantas novelas e músicas de terceira vindas do Brasil não perde a oportunidade de ressaltar, ao primeiro brasileiro real a cruzar-lhe o caminho, “como os brasileiros falam errado”,”como os brasileiros” ou isso ou aquilo. Deve ser algum tipo de esquizofrenia social. Sem falar pela adoração ao presidente Lula. Até entendo.Pois gostar de Lula estando a mais de 5.000 km de distância é no máximo uma esquisitice. É como alguém apreciar comida indiana sem ter que viver na Índia.


Existem outras diferenças. A maior é a de que o português é um europeu. E como todo europeu, é muito diferente de um latino americano. Por mais próximas que sejam as línguas, um latino americano sempre se dará melhor com outros latinos americanos do que com um Europeu. Isso é verdade até mesmo com relação aos Argentinos. Europeus são uma classe à parte. O humor, tratamento, modos diferem muito do Brasil. E da América Latina. Por lá a alegria é um componente da vida (estou me referindo à alegria verdadeira e não à sua sub-espécie mutante-decadente que é o alegre-exibicionismo para turista, a obrigação de ser “alegre” quando alguém está olhando ou quando se está no exterior.


Gosto muito de Portugal. É o que posso dizer. A frieza portuguesa (que os brasileiros em geral criticam em demasiado) é, na verdade um ponto positivo: estamos muito acostumados à mentiras bem educadas (“pode deixar que eu te ligo”, entre outras) e estranhamos demais uma verdade sem rodeios.


O período que estou aqui lembra-me dos tempos que vivi em cidades de colonização tipicamente Européia no Brasil: o português é tímido e aparentemente frio como um alemão, mas gosta de gritar como um italiano. Além de falar palavrões - “nomeadamente” (como diriam os tugas) “caralho”, além de outros - numa freqüência que rivaliza até ao “bah” dos gaúchos...


Venezuela


Não poderia deixar de falar na derrota de Chávez. Foi uma derrota consentida, como tudo deve ser na Venezuela. E por quê Chávez deixou a oposição ganhar? Por quê o dissidente do regime, Raul Isaías Baduel (devo confessar que eu achava toda esta estória de que o General Baduel – um dos apoiadores do regime de primeira hora – teria se transformado em opositor no regime, por ter avaliado a “nova” constituição que Huguito como totalitária e anti-democrática, como mais uma manobra chavista para enganar a oposição (um novo Manuel Rosales talvez) e dar uma fachada de normalidade ao regime) sabendo que os resultados REAIS das pesquisas de opinião davam uma vitória acachapante do Não por 60% a 40%, foi até Chávez para dizer que a oposição não aceitaria novas mentiras e que se realmente Hugo não aceitasse os resultados haveria um banho de sangue. Sinalizou também que os militares não aceitariam tal situação.

Foi nesta situação que o nosso valoroso Chávez capitulou, não sem antes armar os resultados para que sua derrota não fosse humilhante.


Baduel é o mesmo general que ficou famoso por aqui por ter suas fotos comprometedoras (ao lado de um boneco do Pikachu) divulgadas na internet.


Novos capítulos ? Rapidinho Chávez volta ao modo normal. Não alimentem falsas esperanças, caros Venezuelanos. Enquanto Lula continuar a apoiar tais figuras, não haverá condições de melhoria frente a esta maré vermelha latino americana. Ao contrário do consenso popular, não é Chávez que “ameaça” a democracia da América Latina. Ele apenas é a ponta mais visível do Iceberg. Mas quem realmente golpeia aos navios é o presidente Lula. Ele é quem apóia estes regimes usando o Brasil como financiador destes, numa versão comuno-revolucionária local do Banco Mundial. A derrota de Lula e o PT no Brasil é condição básica para o retorno democrático à America Latina.






2 comentários:

Anônimo disse...

Sou Português, e embora às vezes me irrite com a escrita "brasileira"-não muito frequente neste blog-, quero dar os parabéns pela frontalidade, coragem e inspiração com que faz este blog!
E pelas informações muito preciosas sobre a podridão que "governa" Cuba e a Venezuela ( e em alguma escala o Brasil, embora os casos de corrupção sejam mais conhecidos).
Não encontro na blogosfera um blog português com tais qualidades!
É que a intoxicação do 25 de Abril ( o socialismo é que é bom; ditadores só à direita: Fidel é El Comandante,etc..)ainda deixa marcas.
Espero que continue com o mesmo entusiasmo porque bem precisamos dum blog assim em Portugal

13inary disse...

Pois é Luís, como português que sou, fico contente por gostares de viver em Portugal.
E, como temos trabalhado juntos, e passamos tantas horas lado a lado, significa que também não abominas de todo o ambiente de trabalho e, consquentemente, os teus colegas.
É verdade que os portugueses complexos relativamente aos brasileiros. Eu próprio, que me considero mais um cidadão do mundo, do que um português, por vezes, reconheço alguns desses sintomas em mim.
Mas, não pensem os brasileiros que têm a exclusividade, pois a verdade é que, na minha opinião, os portugueses, quando se encontram em Portugal, são xenófobos. (Parece uma anedota, vindo de um povo que, em tempos, ajudou a descobrir o mundo, e deixou descendentes nos quatro cantos.)
Sinceros, meu amigo, o tempo te mostrará que sinceridade é uma qualidade muito rara, inclusivé em Portugal. E, aquilo a que chamas agora de sinceridade, é apenas a nossa forma de ser, e não a verdadeira sinceridade.
Sim, somos um povo cinzento e carrancudo. E, para muita pena minha, que adoro viajar e conhecer o mundo e outras culturas, normalmente não conseguimos reconhecer as nossas qualidades, que são muitas, assim como as vossas.

Grande abraço.