sexta-feira, março 10, 2006

U2 e a Infantilização da questão "pacifista"

Lendo o artigo do Olavo de Carvalho no Mídia Sem Máscara, este trecho chamou minha atenção:

"Na visão dessas criaturas primevas, a Nova Ordem Mundial é o bom e velho imperialismo americano que, mal camuflado, estende suas asas sobre o globo terrestre, pondo em risco a soberania das nações pobres, cuja esperança então se volta para os poucos núcleos de resistência espalhados pelo mundo, como Cuba, a Coréia do Norte e os terroristas islâmicos, bravos pigmeus em luta contra o gigante, à imagem e semelhança da Princesa Léa e Luke Skywalker enfrentando aos trancos e barrancos as tropas imperiais sob o comando de Darth Vader (não inventei a comparação; ela já se tornou lugar-comum do imaginário esquerdista)."

Exatamente o meu ponto: Temos hoje de um lado, eventos cada vez mais claros ("mais claros" disse eu? Os fatos estão gritando em nossa cara!) sobre a natureza deste "governo mundial", com a união dos mais variados grupos anti-americanos - aliás, anti-ocidentais, anti-cristãos, anti-democráticos - todos orquestrados a parecer movimentos espontâneos. Do outro lado, por sua vez, temos uma infantilização completa do público que poderia percebe estes movimentos e lutar contra eles.

Por mais radical e aberto que seja o conflito - me atrevo dizer que já passamos da fase da guerra cultural e estamos no início da guerra real - e mais graves as consequências para o mundo livre, menor é a estatura moral e cultural das pessoas para perceber este jogo.

A cultura "pop" - por exemplo, tomando todos os espaços possíveis - já destruiu completamente a cultura geral, o cinema, a música e a própria intelectualidade. Hoje temos um bando de guris a brincar de capa e espada contra o "grande satã" americano enquanto os os verdadeiros inimigos esperam pacientemente a hora de agir.

Boa parte da juventude hoje em dia está tão submersa e escravizada à slogans mentais - tão cuidadosamente aplicados ao longo de décadas, `a moda NLP (programação neuro-linguística) - que não conseguem relativizar por exemplo o "pacifismo", sendo um fim-em-si-mesmo, por algo muito mais importante: a própria auto-preservação.

O exemplo mais grotesco dessa mistificação é a atuação recente do Bono Vox (dizem que é simplesmente "Bono" mas fico com a velha denominação) na América Latina. Li muitos protestos irados contra o recente artigo de Reinaldo Azevedo, do "Primeira Leitura" chamando Bono de "imbecil" e convidando-o para tocar em Teerã.

Todos sabem que, diferente do Reinaldo, aprecio o trabalho do U2. Mas tenho de reconhecer a perplexidade com que recebi a tal conclamação para a "coexistência pacífica" entre judeus, cristãos e Muçulmanos durante os shows no Brasil.Não pode ser o mesmo Bono de duas décadas atrás, no tempo de "Sunday Bloody Sunday".

A letra dizia algo sobre a necessidade de se deixar de lado o sectarismo político e pregava a união da Irlanda numa só pátria, com a benção de Jesus. Mas a canção começou a ser usada como hino revolucionário, ao ponto de Bono, no disco/vídeo "Under a Blood Red Sky" (1983) enfatizar que "Sunday.." não era uma "canção revolucionária". Fez ainda mais. Em 1988 no disco/show "Rattle and Hum" fez um longo discurso contra os apoiadores irlandeses-americanos da tal "revolução": "Que glória há em jogar uma bomba durante o desfile de veteranos de guerra, em frente de seus filhos e netos"?. "Que glória há em morrer pela revolução"? Perguntava, ante uma platéia perplexa.

Bono pregava a união, mas sabia o que era moralmente condenável . E sabia como a pregação por "união" sem o devido julgamento moral poderia levar a uma romantização da "revolução" e da violência.

E aqui chegamos. Com todas estas lições aprendidas, Bono volta a exaltar a coexistência "pacífica" sem nenhum reparo moral. Revolucionários islâmicos explodem-se levando centenas de inocentes consigo. Protestam e queimam embaixadas por causa de "charges" ofensivas. Era justamente a hora de se perguntar de novo, corajosamente: "Que glória há em morrer pela revolução"?

Pode ter faltado coragem, mas se não for é o atestado mais emblemático da idiotização geral das percepções e ações humanas contra o mal. Coexistência pacífica? Tenho de concordar com o Reinaldo: Bono, vai para Teerã!

Um comentário:

Norma disse...

Oi, LA! Preciso conversar mais com você sobre esse negócio de PNL.
Ótimo post!
Beijos!