A pergunta a ser respondida é por quê nossos capitalistas bem-sucedidos não lutam pelos valores de fundo – básicos portanto - que os ajudaram a chegar no atual sucesso empresarial.
É o que Olavo fala em saber guiar o carro mas não ter a mínima idéia de como ele faz para andar.
Numa metáfora podemos dizer que o carro brasileiro está precisando de reparos urgentes. Mas como dizer isso e se fazer entender se o motorista acha que colocando gasolina e pisando fundo ele sempre vai chegar a qualquer lugar? Falar em bateria, radiador, Injeção eletrônica e troca de óleo para eles é como falar grego. Irão responder que tudo o que é necessário é colocar combustível e pronto (nesta metáfora o combustível seria a taxa de juros).
Então fica estabelecido que a visão do que é o capitalismo, sua raiz, sua origem, o cerne e seus fundamentos está completamente fora da sintonia de nossos capitalistas.
A pergunta é : e deveria?
Muitos dizem que o papel de um capitalista é gerar riquezas, é criar oportunidades e atender às necessidades de um mercado. Pedir mais do que isso está completamente fora de questão. O capitalismo, na visão destes, é agir de forma pragmática – quando não egoísta. O capitalismo não necessita de idealismos.
Poderia dizer que isso é verdade. Mas uma verdade parcial. Um capitalista só pode ser pragmático se existir uma opção para isso, ou seja, se houver uma outra escolha possível "não pragmática"como contraponto da opção "pragmática". Assim, tendo esta última ganho o jogo de decisões mentais de nosso bravo personagem., podemos dizer que houve uma escolha pragmática.
Mas não é isso que temos no Brasil. Pode ser verdade em alguma outra cultura, mas não na brasileira. Não há outra escolha possível, tendo o agravante de que a cultura social brasileira ainda influencia mais nosso "capitalista" (neste ponto tenho de começar a usar aspas – no ambiente brasileiro há tão poucos reais capitalistas que temos de nos referir aos que se consideram como tal desta forma)a ser "pragmático".
Explico: Imagine uma criança que cresce numa família de criminosos. Que tipo de ação "pragmática" será sua opção natural no futuro? A de considerar o crime como uma opção viável, oras. Imagine um capitalista vivendo no Brasil. Que tipo de capitalismo sairá dali? Um mezzo-pizza socialista, que acha que achacar o estado e tirar vantagem de políticos corruptos é o que há. É a 'realidade' para ele.
Enquanto o nosso sistema socialista-totalitário travestido de capitalismo de estado vai se afirmando cada vez mais (quando foi a última vez que se falou em redução de alíquotas de importação e privatização? Alguém lembra?), com o que se preocupam nossos "capitalistas"? Com as últimas modas de gerenciamento importadas do exterior.
Não tenho nada contra se pagar milhões para um charlatão como um Michael Hammer destruir o que havia ainda de racional em nossas empresas em função de uma reengenharia qualquer (quando tento recordar quanto embolsaram Juran e Deming – responsáveis pelo renascimento da manufatura – comparado com um Hammer da vida, vejo o quanto o capitalismo decaiu em seus valores). Acontece que nos países mais industrializados, o estrago é sempre menor pois existem redes de segurança culturais contra este tipo de aventura.
Por aqui não. A "destruição criadora" (bah, como isso parece com o programa político-partidário de esquerda, gente!) acabou sendo mais um capítulo de auto-destruição em nosso capitalismo mambembe.
Ou seja, o que resta de capitalismo no país encolhe a cada dia e nosso capitalistas fazem o quê? Pagam os tubos por modas de gerenciamento que só funcionam onde existe capitalismo real, como isso acaba não funcionando, se viram com o que podem.
Quando o último resquício de "capitalismo" for varrido da nossa sociedade, será que ele estará praticando "capitalismo"? Não. Simples troca de favores clientelistas - que será o capitalismo "pragmático" de então.
Não podemos ser tão condescendentes com nossos capitalistas, de deixar que sejam pragmáticos em tempos como esse. Do jeito que está, são uma emulação perfeita ao "Imbecil Coletivo"(apud Olavo de Carvalho em "O Imbecil Coletivo") em versão capitalista, com ambos rumando para um futuro cinzento.
Numa sociedade como a nossa, à beira de um totalitarismo 'simpático', nossos capitalistas – pelo menos os que ainda têm algum recurso para lutar contra a Hidra - não podem se dar ao luxo de ser tão cretinos.
Um comentário:
A respeito de recente artigo ( http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=4503 ) do senhor João Costa:
Sua analogia é brilhante e oportuna, porém se estendida até as suas últimas conseqüências lógicas acaba por desfalecer-se. Se entender tanto de automóveis fosse uma conditio sine qua non para poder dirigi-los, a indústria automobilística jamais teria avançado além do Modelo T. Um dos pontos fundamentais do sistema capitalista é a sua natureza redutiva e simplificadora que permite a mobilidade social aos atores presentes no sistema de produção. Isso vai necessariamente de encontro à crítica do Professor Olavo de Carvalho, pois o conhecimento das condições históricas do capitalismo não é necessário - a não se sob uma perspectiva estritamente mercadológica - para a otimização do sistema produtivo.
Entender de carro não é condição para dirigi-los. Mas é preciso que alguém por perto entenda disso quando o carro quebrar. Para muitos motoristas é preciso ter pelo menos um mecânico - e no Brasil não temos isso, temos? Muito menos temos fabricantes. Aqui no Brasil só há motoristas.
Um outro ponto talvez importante é o fato de intelectuais - marxistas, conservadores, liberais ou de qualquer outra rotulação - com raríssimas e notórias exceções também serem incapazes de produzir qualquer coisa senão idéias. (...) É fácil concluir que o entendimento da complexidade do motor à combustão só é útil quando existe alguém para operá-lo.
Certo. Mas quem disse que o Olavo de Carvalho pretende que os intelectuais façam tudo? Quem tem uma pretensão assim são os seguidores de Lênin. O ponto é que há pessoas capazes de guiar carros, mas falta pessoas capazes de consertá-lo ou fabricá-lo, e o ideal seria ter as duas coisas. No Brasil não temos.
Em suma, foram os capitalistas americanos que produziram as ferramentas necessárias para combater o totalitarismo nazista. Sem eles, a resistência intelectual teria sido esmagada e a marcha totalitária sobre a Europa teria, em seu tempo, provavelmente tomado todo o mundo. Isso é tudo o que os capitalistas têm a oferecer, o que em absoluto não os fazem cretinos; apenas demonstra o alcance e as limitações de suas forças.
Os americanos enfrentaram os nazistas com armas produzidas pelos capitalistas americanos e os nazistas enfrentaram os americanos com armas produzidas pelos capitalistas alemães. E antes dos nazistas tomarem o poder na Alemanha havia lá... Capitalistas! E prósperos, e influentes, e poderosos, e eficientes. Pois os nazistas se impuseram ideologicamente, daí ganharam o poder político, e daí submeteram os capitalistas. Os nazistas americanos não se impuseram ideologicamente, e portanto não ganharam o poder político. E graças a isso os americanos puderam enfrentar os exércitos nazistas com armas produzidas pelos capitalistas americanos.
Não me parece que o senhor João Costa tenha criticado o artigo do Olavo de Carvalho ( http://www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=4474 ), mas o que imaginou ler nele. Podemos dizer que o artigo do senhor João Costa tem duas intenções: corrigir o senhor Olavo de Carvalho, e acrescentar algo ao artigo do senhor Olavo de Carvalho. A parte que corrige é péssima, mas a que acrescenta é ótima.
Postar um comentário