segunda-feira, setembro 13, 2004

A Elite Suicida

Audi A4, negro, rodas de liga leve, CD-player última geração, bancos de couro, teto solar, vidros fumê, adesivos de vários lugares – caros do mundo – no vidro traseiro...
Um veículo típico de quem é bem sucedido na vida. Um símbolo de sucesso capitalista, poderia se dizer, se não fosse um detalhe...
Um imenso adesivo do Partido dos Trabalhadores no pára-choque com a inscrição “O Brasil tem jeito... Vote no PT.” Corte.

Agora, neste ambiente pré-eleições municipais 2004, estes exemplos pululam a cada esquina, em cada semáforo.

Não quero aqui impedir a livre expressão das idéias, crenças ou simpatias políticas ou religiosas de qualquer indivíduo. Eu só quero entender....

Bandeiras e símbolos do PT na mão de militantes – geralmente funcionários públicos ou em cargo de comissão – sendo agitados nas ruas bem como usados como símbolos quase religiosos em barracos na periferia são parte natural da paisagem de um ambiente impregnado pela luta de classes como nosso país. A lógica disto é que cada classe busca defender o seu espaço. Funcionários públicos os seus cargos, os pobres buscam justiça social.
Mas o que faria a elite neste cenário?

Este é o grande truque dialético das esquerdas. O apoio das elites ao ideário de esquerda é um apoio roubado, surrupiado. Uma confissão obtida após uma longa sessão de tortura político-ideológica.

Este é o seu verdadeiro significado.

Tal qual delegados criminosos que buscam os “suspeitos de sempre” para qualquer crime e obtém praticamente qualquer confissão com o uso adequado de certas técnicas bem conhecidas, a esquerda também obtém suas confissões e adesões da elite da mesma maneira. Com uma diferença: a vítima não sabe que está sendo torturada.
A lógica de grudar a culpa de um crime à própria vítima é uma das mais perversas ferramentas deste processo.

E nossa elite, infelizmente a aceitou sem pestanejar. O processo é lento. E foi descrito por suas vítimas detalhadamente.
O pior é que tudo é percebido como o fim de uma longa busca pessoal e particular no rumo de “sua verdade”. Basta ler entrevistas de alguns de seus expoentes locais, como Walter Salles para perceber o seu padrão.
Walter, filho de banqueiros, talvez a expressão maior de sucesso no mundo capitalista, relatou como empreendeu sua busca: invariavelmente começa com a “culpa” por ter nascido na elite, depois pela negação de suas tradições, especialmente as religiosas. Acaba com a aceitação feliz do socialismo. No caso dele, ainda temos um passo adiante: a defesa apaixonada da agenda ideológica em seus filmes como bem visto nos “Diários da Motocicleta” (ler entrevista em http://www2.uol.com.br/trip/122/negras/02.htm)

Esta receita, por demais batida, não é percebida pelas suas vítimas. Nosso Pinóquios não enxergam as cordas que os amarram e agem felizes a perpetuar a mentira como uma verdade interior.

Por quê “mentira”? Porque a tática da esquerda é exercer sua influência em dois níveis – e classes – de modo a maximizar os conflitos resultantes.
As classes mais humildes são brindadas com um socialismo religioso ao estilo “teologia da libertação” como fac-símile do cristianismo verdadeiro. E isto é alimentado de dentro da própria igreja católica.
Tentar eliminar a religiosidade da população é um erro que foi corrigido há muito. O melhor remédio é tornar o socialismo uma forma de religião.
A exploração da “culpa” católica é um grande achado. Serve como um cavalo de tróia perfeito para corroer suas estruturas por dentro.

No caso das elites a aproximação é de outra vertente: pelo racionalismo materialista. A associação da figura da “vitória do mais forte” com a “ideologia” capitalista é a pedra de toque. Neste caso a solução socialista é a única possível pois confere um pouco de “humanismo” e preocupação social ao “capitalismo selvagem”. O socialismo é uma maneira de atenuar os males do capitalismo.

Nossa elite então - que deveria dar o exemplo positivo de como a cultura, o talento empresarial e o mérito próprio são os verdadeiros caminhos do sucesso – acaba como um agente de desinformação e propaganda. Mal sabem eles que ao final seu destino está selado. Apesar de tudo, continuam sendo uma elite. E elites são o bode expiatório de toda a revolução.

Quais modelos que restam quando os que deveria ser os verdadeiros modelos não tem a estatura moral a que lhes foi outorgada? Os revolucionários, os criminosos, os amorais e os ateus.

Se a religião, como dizia Lenin, era o “ópio do povo”, seguramente o socialismo é o arsênico da elite...

Minha sugestão final para estes indivíduos é que facilitem o trabalho para todos: ao invés de adesivos, bandeiras e cartazes, pintem em suas próprias testas um símbolo mais adequado e mais útil. Um alvo.
Mas, por favor, o façam de modo cuidadoso e de preferência com tinta fosforescente, de modo a facilitar o trabalho de seus algozes, mesmo no escuro.

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