O filósofo espanhol Ortega y Gasset produziu, ainda na primeira metade do século XX ( e antes ainda da Segunda Guerra Mundial!) um estudo fundamental para conhecer o que chamamos de "modernidade" ou, num descrição pessoal -minha- "a decadência intelectual como contraponto ao progresso material e científico".
O nome de Obra é "A Rebelião das Massas"
A edição que tenho em mãos (portuguesa), na página 80 apresenta um resumo fundamental do pensamento do genial espanhol:
"Tudo o que se segue (nota: no livro) é consequência ou corolário dessa estrutura radical que se poderia resumir assim: o mundo organizado pelo século XIX, ao produzir automaticamente um homem novo, introduziu nele apetites formidáveis, meios poderosos de toda a espécie para os satisfazer: económicos, corporais (higiene, saúde média superior à de todos os tempos), civis e técnicos (entendo por estes a imensidade de conhecimentos parciais e de eficiência prática que hoje o homem médio tem e de que sempre careceu no passado). Depois de ter introduzido nele todas estas potências, o século XIX abandonou-o a sim mesmo e, então, seguindo o homem médio a sua índole natural, encerrou-se em si mesmo. Deste modo, encontramo-nos com uma massa mais forte que a de que qualquer outra época, mas, ao contrário da tradicional, encerrada hermeticamente em si mesma, incapaz de atender a nada e a ninguém, julgando que se basta a si mesma - em suma: indócil. A continuarem as coisas como até aqui, cada dia se notará mais em toda a Europa - e, como reflexo, em todo o mundo - que as massas são incapazes de e deixarem dirigir em qualquer sentido.
Nas horas difícies que se aproximam para o nosso continente, é possível que, subitamente angustiadas, tenham por um momento a boa vontade de aceitar, em certas matérias especialmente prementes, a direcção de minorias superiores.
Mas até esta boa vontade fracassará. Porque a textura radical de sua alma está feita de hermetismo e indocilidade, por que lhes falta de nascença a função de atender ao que está além delas, sejam factos, sejam pessoas. Quererão seguir alguém, e não poderão. Quererão ouvir, e descobrirão que são surdas".
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