segunda-feira, junho 13, 2005

As Raízes do relativismo

O blog do meu amigo Júlio Belmonte teve um bela atualização. A primeira parte de um texto, refutando que a teoria da relatividade seria per se a origem do que se chama "relativismo moral", foi postada. Leiam este trecho: "Paul Johnson, em seu famoso livro “Tempos Modernos”, não hesitou ao falar, logo no primeiro capítulo de sua obra sobre o século XX, ser este o século do relativismo (moral). E sugere a data de 29 de maio de 1919, dia da confirmação da teoria de relatividade de Einstein, como o começo desta era.

Mas o que há de tão especial nesta teoria científica? Simples, a idéia de uma troca de paradigma na ciência. Há de se reconhecer que a ciência alcançou seus mais notáveis avanços práticos e empíricos depois da adoção da matemática como instrumento modelador da natureza. Este foi um pressuposto metafísico feito muito anteriormente, quando Platão, fortemente influenciado pelo desenvolvimento da geometria, especulou no seu livro “Timeu” a possibilidade de a natureza ser composta por agregados de 5 sólidos regulares: cubo, octaedro, tetraedro, dodecaedro e icosaedro. Mas foi somente no século XVII que Galileu deu início a este empreendimento declarando que: “Para entender o universo, você precisa conhecer a linguagem com a qual foi escrito. E esta linguagem é a matemática.”


Comentário: Brilhante. Muito bom. Isso é para aqueles que - por semelhança - acham que a "teoria da relatividade" seria a base teórica do relativismo. Na verdade a origem do relativismo é no psicologismo. Ele é que definiu o ser humano como o centro do universo, criando a idéia que todos os conceitos, crenças, valores e até a ciência são extensões de uma realidade psicológica que não existe de fato. Minha pergunta é : Até Paulo Johnson caiu nessa?
Outra observação é que Platão é uma referência em duplo-sentido, pois se ao mesmo tempo seu apego pela geometria fez incontáveis discípulos na era moderna, sua teoria do mundo das idéias com seus modelos perfeitos, comparativamente ao imperfeitos à nossa volta, o fazia achar absurdo procurar a essência das coisas pela amostragem empírica do universo táctil... O cientificismo de laboratório não teria a menor chance com ele..

Um comentário:

Norma disse...

Oi, Luís! Esse assunto do relativismo é uma das minhas grandes ênfases na investigação da tese, já que o maior objeto é, bem mais que meu autor, as raízes da modernidade literária e suas conseqüências para os outros domínios do saber. Quer me parecer que o que Foucault e cia. pretendiam era "ver o mundo artisticamente", mutilar o pensamento dos três outros discursos (você leu o Aristóteles do Olavo? maravilhoso!) e ficar apenas com o possível, em TUDO. E isso, ao meu ver, tem uma inauguração radical em Descartes. Aí eu chego ao ponto do seu post que me motivou a este comentário: o problema em Descartes não foi a matematização, presente nos gregos, mas a redução a tudo que existe, humanamente observável, à matemática, com o isolamento do não-observável. Isso não havia em Platão, que via a aproximação dos dois mundos como um ideal. Descartes é o verdadeiro dualista. Com isso, matéria ficou de um lado e espírito do outro, e, sem entender que precisavam juntar as pontas, os descendentes de Descartes se posicionaram cada um de um lado: os cientistas ficaram com a razão cartesiana materialista, e os de áreas humanas e artísticas foram para o outro - que, já desprovido de qualquer semelhança com o mundo conhecível, tornou-se "o desconhecido", onde a razão é impotente e as palavras faltam. Hoje, é enfadonho perceber que a ênfase da teoria literária é toda essa, sem tirar nem pôr, por influência francesa (sempre eles). Esse é um dos pontos principais da minha tese. Você gostaria de ler um dos capítulos para dar um pitaco? Eu ficaria muito honrada! Beijão! P.S. Xiii... escrevi demais, desculpe, que mico! :-)