Neste fim de semana tive a oportunidade de conhecer a extensão do pensamento coletivista no Brasil.
Participei de um evento sobre liberdade e livre iniciativa onde os conceitos e teses coletivistas disfarçados de "justiça social" foram os mais ouvidos e debatidos.
Isso me levou a pensar que nós, os liberais, temos um trabalho árduo a fazer. Costumamos pensar que as teses e os conceitos liberais por si mesmos, pela simples apresentação de sua base conceitual e de suas premissas poderiam realizar a grande transformação alquímica de transformar e converter coletivistas em aliados. Pensávamos que ideais tão elevados como a liberdade humana em toda a sua extensão fossem por si próprios auto-explicáveis.
Ledo engano.
O coletivismo já penetrou tão fundo na psique nacional que as pessoas com naturalidade já começam a defender até mesmo o fim da liberdade e do livre-arbítrio como necessárias para a obtenção da tão sonhada "igualdade".
Ultrapassamos um ponto perigoso. Os bons sentimentos originais já justificam medidas totalitárias com a maior desfaçatez do mundo. Coisas como "imposto progressivo", "limitação do consumo de supérfluos", "controle de preços" saem da boca das pessoas da forma mais natural e singela possível. E não falamos de militantes. Falamos de pessoas comuns expostas à doutrinação incessante da mídia, ensino e até de setores religiosos.
A simples demonstração de um egoísmo pessoal, de querer e ter o direito de desfrutar os benefícios do próprio trabalho sem que ninguém interfira é visto como uma coisa "condenável".
Ou seja: preferimos entregar ao governo de forma compulsória os recursos para ele "praticar o bem" mesmo prejudicando toda a população enquanto condenamos qualquer demonstração de egoísmo pessoal que não prejudica ninguém, pelo contrário - como já dizia Adam Smith - pode se transformar em bem comum quando satisfaz as necessidades da população.
Nosso grande trabalho é então mostrar sempre que possível a face amarga desta terrível doença nacional que é o culto ao estado.
Aqui vai a minha contribuição a este debate. Se refere a coisas que ouvi ultimamente. Vejam só:
"A utopia socialista é melhor do que a utopia capitalista" - este é uma inversão completa da realidade. O capitalismo aqui parece que foi urdido em meio a reuniões secretas de alguma seita obscura com o intuito de explorar e subjugar as pessoas. Exatamente o que foi o socialismo. Séculos de evolução tecnológica, mais as oportunidades surgidas de um mundo cada vez menor levaram ao refinamento da prática capitalista. Ela nunca foi "utópica". Ela é a realidade. É um erro pensar que o capitalismo seja utópico. Sobre o ponto de que o socialismo seja "melhor", basta estudar o que foi feito, ou melhor, o número de vítimas inocentes do socialismo para tentar descobrir no que ele pode ser melhor.
· "Só devemos adotar o liberalismo depois que as desigualdades forem minimizadas" - este discurso é geralmente associado a quem se diz liberal, mas acha que sua prática impossível no Brasil sem algumas premissas básicas. As premissas estão dentro do conceito liberal ao meu ver e não fora. O conceito Estado Mínimo não significa a ausência de regras e o "cada um por si". O acesso à saúde, educação e manutenção da segurança nacional são tarefas do Estado. Que deve continuar a mantê-las. Achar que o liberalismo só poderá ser implantado sem as desigualdades atuais da sociedade brasileira leva a pensar que alguma outra coisa que não o liberalismo, irá fazer a mágica de diminuir as desigualdades. O que seria? Não consigo pensar em nenhum outro sistema econômico que comprovadamente faça de forma competente a distribuição das riquezas dentro de uma sociedade do que o liberalismo. Ou existe?
· "O imposto progressivo é a solução para distribuir renda" - Tenho uma aversão de berço para com tudo o que tenha "progressivo" no nome: Igreja "progressista", Partido "progressista" e até mesmo o rock dito "progressivo" são tudo, menos progressistas. Eles na verdade escondem práticas caducas, totalitárias até (rococó no caso do rock) como sendo "modernas". Imposto progressivo então é o símbolo da pilhagem que os coletivistas querem fazer sobre aqueles que tem alguma competência para gerar riquezas. Seria o símbolo da parasitagem tributária em sua mais perversa versão. Parte da premissa falsa de que só se consegue sucesso no Brasil tirando de alguém. Os impostos seriam uma forma justa de devolver o que foi tirado indevidamente a alguém. Quer dizer: se eu trabalho muito e consigo com isso uma boa renda, devo ser penalizado por isso. Outra premissa embutida é de que se tirando dos mais ricos se poderia dar aos mais pobres. Nem uma coisa nem outra: o estado não consegue dar aos pobres nada diferente do que assistencialismo. O que os pobres necessitam é de desenvolvimento, acesso ao mercado, empregos. Que os mais ricos poderiam prover, se tivessem lucros suficientes para investir no próprio negócio. Ou mesmo parado num banco, possibilitando alguém obter um empréstimo para gerar mais emprego e desenvolvimento. Na realidade o que se consegue ao invés de dar aos pobres, é tornar todos mais pobres.
· "Os preços devem ser fiscalizados" - esta é antiga e o Brasil a praticou com resultados desastrosos por mais de duas décadas. Controlar os preços é mais ou menos como tentar tratar da febre colocando o termômetro na geladeira. Preços não são um sintoma de desajuste, são o ajuste possível para normalizar o mercado. Pela lei da oferta e da procura (incrível mas esta lei é a única que nunca foi regulamentada em nossa constituição "cidadã"), quando um item se torna escasso ele adquire um valor maior. Com o aumento natural de seu preço, esta escassez seria ajustada. Pois o preço por si mesmo faria esta mágica. De modo natural, sem intervenções. Numa sociedade com real competição não faltarão agentes que aproveitaram a ocasional alta de algum produto como uma oportunidade de negócios para outras alternativas. O mercado não ficará sem uma solução por muito tempo.
· "O governo deve confiscar mesmo, pois com dinheiro de sobra ninguém doaria mesmo" - é o sofisma mais cruel. Digamos que eu não seja caridoso nem tenha boas intenções. Por isso não faço caridade mesmo que tivesse os recursos para isso. E então delego ao estado/governo que o faça de modo compulsório. Quer dizer: eu não confio nem em mim, mas confio plenamente nas mãos do estado para fazer "o bem"... É um paradoxo brutal. O estado - formado por pessoas - tem qualidades superiores ao conjunto das pessoas que o forma.... Citei este caso como sendo uma espécie de "terceirização do altruísmo" em um comentário anterior.
Enfim, o que fica no final é que mesmo confrontadas com a razão as pessoas acabam radicalizando o modelo "social" e até justificando medidas ditatoriais e totalitárias em troca de um utópico - e mentiroso - "bem comum". O custo? Perder o próprio conceito de humanidade no trajeto...
É. Estamos bem piores do que eu imaginava....
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