sábado, janeiro 15, 2005

Língua Inglesa (Editorial Estadão)

Este editorial do Estadão de hoje não deixa dúvidas sobre o nível
infantil do anti-americanismo que domina as discussões sobre a
política externa do governo Lula.
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EDITORIAIS O ESTADO DE S.PAULO

Quinta-feira, 13 de janeiro de 2005


O fator 'senso de ridículo'





O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, diz que a
decisão de excluir o inglês das provas eliminatórias para ingresso na
carreira diplomática pretendeu remover um "fator elitista". Segundo o
chanceler, "foi uma decisão democratizante" porque a exigência
favoreceria candidatos ricos e filhos de diplomatas - como se milhões
de jovens brasileiros que não são uma coisa nem outra não precisassem
estudar inglês, e não o estivessem fazendo, para subir na vida.
Doravante, no exame de admissão para o Instituto Rio Branco (IRB), o
inglês apenas contará pontos, a exemplo do francês e espanhol. Diz
mais o ministro: "Prefiro um diplomata que conheça bem o português e a
história do Brasil a outro que saiba falar bem o inglês. Qualquer um
pode aprender uma língua em três anos."

Se assim é, o conhecimento de idiomas estrangeiros deveria ser
simplesmente banido do vestibular para o curso que forma os quadros do
Itamaraty, transformando-se o IRB numa escola em boa parte dedicada a
ensinar línguas - quando de seu currículo, de nível de pós-graduação,
fazem parte disciplinas que desde logo exigem razoável familiaridade
com os principais idiomas, a começar do inglês, em que está redigida a
literatura a ser dominada. E o que dizer da esdrúxula antinomia, de
duvidosa boa-fé, produzida pelo chanceler? Desde quando os diplomatas
brasileiros se dividem entre aqueles que conhecem bem o português e a
história pátria e os que falam bem o inglês? O que impede que nossos
diplomatas exibam todos esses predicados?

Haja disciplina profissional para considerar tais argumentos
coisa séria antes de rebatê-los.

Este jornal critica freqüentemente o prisma ideológico que
passou a orientar a diplomacia brasileira no governo Lula, a começar
pela diplomacia comercial. Nesse caso, há um confronto de posições
diante de uma questão substantiva. O Estado condena o anacronismo da
linha terceiro-mundista da atual política externa que voltou aos
tempos do "pragmatismo responsável" do governo Geisel, inventado pelo
chanceler Azeredo da Silveira. De todo modo, trata-se de um debate de
idéias. Já em relação ao tema deste comentário, qualquer coisa que se
pareça com uma discussão de fundo é flagrantemente impossível. Pois o
que acabou de fazer a cúpula do Itamaraty, a partir de um
indisfarçável antiamericanismo, movido, por sua vez, a complexo de
inferioridade, foi demonstrar ter perdido o senso de ridículo. É
assustador.

Deixar de exigir dos aspirantes ao serviço diplomático uma base
em inglês, que, antes de mais nada, lhes permita se prepararem
adequadamente para as funções que os esperam, sugere algo
inconcebível: que os responsáveis pela tacanha iniciativa ignoram que
de há muito o inglês substituiu o francês como língua franca das
negociações internacionais - para não mencionar a universalização do
uso do inglês nas ciências e na atividade econômica. Pergunte-se aos
chineses - de quem Lula e Amorim ingenuamente tanto esperam -- qual o
idioma mais exigido de seus diplomatas, profissionais liberais,
pesquisadores e empresários. A China, que sabe muito bem quais são os
seus interesses, não comete patriotadas do gênero. No Chile, o governo
socialista quer que toda a população entenda inglês falado e escrito
no prazo de uma geração.

Essa manifestação de nativismo ressentido não é a primeira na
gestão do chanceler Amorim e do idiossincrático secretário-geral
Samuel Pinheiro Guimarães, cuja aversão a tudo que lembre os Estados
Unidos tem todos os sintomas de uma paranóia. Em 2003, quando
Washington passou a exigir a tomada de fotos e digitais de cidadãos de
numerosos países, entre os quais o Brasil, no desembarque em
território americano, o Itamaraty reagiu como se a Nação tivesse sido
afrontada e levou o governo a dar o mesmo tratamento aos naturais da
América aqui chegados. Amorim previu que isso induziria os EUA a
receber os brasileiros da mesma forma que os portadores de passaportes
cujas nacionalidades os dispensam de visto de entrada (o que não é o
nosso caso). Obviamente, nada mudou - e o Brasil apenas conseguiu
provar a sua desimportância para os gringos.

Mas, o pior é que, à parte o caráter infantil dessa retaliação
e a ridicularia do rebaixamento do inglês no exame do Rio Branco, não
se pode negar a coerência do Itamaraty. Todas as suas decisões estão
impregnadas da mesma visão irrealista das relações internacionais e do
papel que o País será chamado a desempenhar na ordem mundial.

Um comentário:

Roberto Iza Valdés disse...
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